segunda-feira, 8 de agosto de 2005

boa sorte, comandante...


Ontem a noite fui dormir com o ônibus espacial na cabeça. De um certo modo, dormi aflita, pensando se aqueles astronautas flutuantes comandados pela comandante Eileen Collins iriam conseguir entrar na atmosfera as 5 horas da manhã de hoje. Não entraram, soube pelo UOL, por causa do tempo nublado lá na Flórida. A entrada ficará para amanhã, e terei que passar outra noite apreensiva.
Ficar aflita e ansiosa por causa de uma possível tragédia me parece uma coisa mutio feia, mas é um sentimento controverso para mim. Ao mesmo tempo que eu sei que é horrível desejar o mal dos outros, anseio por uma tragédia. Já tentei, de diversos modos, entender porque gostamos tanto de tragédias e porquê torcemos por elas.
Não consigo entender.
Duvideodó que vocês não torçam também, eu estou apenas sendo sincera. Acho que é porque tragédias, escândalos e tumultos são boas histórias, e todos nós somos ávidos por boas histórias. Acho que é por isso que adoramos a CPI, adoramos a queda das torres, adoramos terremotos, adoramos artistas que fazem escândalos. Porque tanto interesse em coisa ruim?
Um dia comentei isso com o Zé, há anos atrás, quando ele chegou apressado do escritório para assistir o boletim médico do Tancredo Neves (ou seria alguma notícia sobre a morte do Airton Senna?).
- Zé, reparou como a gente gosta de tragédia, eu e você? Veja, nos sentamos aqui com esses sanduíches na frente prontos para nos divertir a beça.
- Eu adoro mesmo. E daí? - ele respondeu, mastigando.
Minha mãe é igual. Outro dia ela me contou que tinha comprado um livro ótimo.
- Qual livro, mãe?
- É um livro só sobre tragédias.
- Um romance? Um épico?
- Não, não, você sabe que eu não tenho a menor paciência para essas coisas. É um livro sobre tragédias de verdade – acidentes de avião, incêndios, terremotos, naufrágios, maremotos, bombas. Essas coisas mais reais. Um livro muito bom – ela me explicou, sem constrangimento algum.
Por isso que eu levo em conta as opiniões da minha mãe. Ela é a opinião-sincera em estado puro, sem nenhuma crítica. Eu hesitaria muito em dizer que adoro uma tragédia. Mas vou aqui revelar um grande segredo meu.
Foi há alguns anos. Tive que acordar no meio da noite por causa de algum filho e não conseguia mais dormir. Resolvi ligar a tv e cai num canal americano de notícias, onde estava escrito: princesa Diana morre em acidente de carro.
Ali, em primeira mão.
Só para mim.
Olha a maluquice. Tudo escuro, silencioso, caladinho naquele sábado. Na minha cabeça, naquele momento da madrugada, parecia que só existíamos nós duas no mundo acordadas. Eu, viva, e a Lady Di, morta. Eu e a Lady Di, por um mísero instante, ficamos juntas.
Nem sei porque me lembrei disso hoje. Apesar das coisas que eu falei, tomara que a comandante Eileen faça um bom pouso amanhã de madrugada e que, por um bom tempo, fiquemos as duas vivas. Eu, viva e a Eileen, viva.
Ô meu São Benedito. Para que eu fui falar disso?

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