quarta-feira, 17 de agosto de 2005

o acesso de riso



Como ontem eu tinha que fazer um trabalho burocrático, liguei o computador na CPI. O entrevistado do momento era o tesoureiro, o Jacinto Lamas.
Bom, eu estava só ouvindo o som, mas não agüentei. Fui até a imagem para verificar se era verdade, e era. O Jacinto tinha acessos de riso, gargalhava por qualquer motivo, descontroladamente.
Era puro nervoso, claro. Mas isso prova que o tesoureiro, corrupto ou não, tem senso de humor. No primeiro instante, não gostei daquilo. É curioso, pois não conseguimos admitir, dentro da nossa moral e das nossas virtudes, que um homem como esse possa ser divertido. É errado rir de um ladrão.
Mas sem querer começei a rir com ele.
É que acesso de riso pega, né?
É engraçado como relutamos em aceitar que pessoas corruptas, mentirosas e sem moral, que são coisas ruins, possam ter senso de humor, que é uma coisa considerada boa. Tive de parar o meu trabalho burocrático e chato para tentar entender aquilo.
Ao mesmo tempo em que eu ria junto com o Jacinto, sabia que não devia rir. Mas percebi que todo mundo na CPI ria também, pois gargalhada incontrolável e acesso de riso pegam mais que vírus. O problema é que a coisa não tinha graça nenhuma, óbvio. O Jacinto ria quando contou quanto ganha por mês e quase explodiu quando teve que revelar que tinha uma Land Rover.
Aliás, Land Rover virou carro de corrupto, repararam? Tenho um amigo que tem uma, hoje pela manhã o Zé disse que ia avisá-lo para tomar cuidado pra não ficar mal falado.
É esquisita essa coisa do acesso de riso. E estranho notar como o riso e o choro estão próximos. Risos e choros são desestabilidades, o choro compadece a todos, o riso contagia a todos. Ora, é permitido chorar, mas rir não. Ontem ficou comprovado que o tanto faz rir ou chorar. Nenhum dos dois sentimentos é melhor que o outro.
Não cheguei a nenhuma conclusão, mas lembrei de duas coisas. Uma delas foi de um episódio do Seinfeld, onde ele e a Elaine tem um acesso de riso absurdo num concerto de piano de uma namorada do Seinfeld porque eles olham para uma embalagem de PEZ em pé no braço da cadeira. A embalagem, que simulava o bonequinho do Piupiu, era simplesmente ridícula, e o cena do bonequinho de PEZ assistindo o concerto pomposo era hilária. Os dois foram vaiados e tiveram que sair dali.
A outra coisa aconteceu com o Zé, numa apresentação da classe do Chico, meu filho. Os adolescentes tinham que declamar poemas, encenando, recitando. Eu e ele sentamos na primeira fila, e, por algum motivo, o Zé, sozinho (eu não consigo entender como alguém tem a idéia de rir sozinho), achou uma das meninas muito engraçada. Começou a se sacudir todo, eu achei que ele estava tendo um treco, um espasmo, mas não. Era um acesso de riso daqueles. Ele teve o bom senso de tapar a boca e sair correndo, segurando a risada. Foi gargalhar lá fora. Olhei para trás e vi a orientadora e duas professoras rindo junto com ele.
É que pega, né?
Não sei o que se passou na cabeça do Jacinto, se foi descontrole por excesso de emoção, se foi o fato de se ver numa cena ridícula tendo que mentir, se algum dos deputados era muito engraçado ou se o presidente da mesa estava com uma embalagem de PEZ. Só sei que eu não agüentei e ri muito com ele.
Perdão, gente.
É que pega, né?

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