segunda-feira, 22 de agosto de 2005

as coisas super fáceis




Eu simplesmente adoro as coisas super fáceis.
Ontem fui passear com minha filha na pracinha. Ela estava ouvindo música com uns fones de ouvido.
- Quer ouvir música comigo, mãe? Eu te dou um dos fones e a gente anda abraçada.
- Quero.
- Vou colocar uma música pra você – ela resolveu.
Escolheu o Lulu Santos.
-Porque você gosta do Lulu, mãe?
- Porque é fácil de ouvir, ora.
É apenas isso. Eu gosto de Lulu Santos, do Roberto Carlos, do Zezé de Camargo e Luciano, gosto até do Fábio Junior. E gosto porque são músicas facílimas de ouvir e cantar.
Ah, tem mais essa. Eu também gosto de cantar junto com o cantor.
Tempos atrás eu achava isso sinal de cafonice. Eu devia gostar de músicas “melhores”, mais “bacanas”, mais “inteligentes”. Esse foi o pensamento que aprendi, todo mundo ao meu redor falava mal das músicas fáceis, mas hoje percebo que ia contra a minha real vontade.
Quando estudamos muito, fazemos faculdade, lemos, estudamos, adquirimos um nível de sofisticação intelectual. Acho isso terrível, porque isso nos impede de gostar das coisas fáceis e gostosas, como o Lulu Santos. Temos que gostar de músicas complicadas, elegantes, elaboradas, complexas. Não podemos chorar ouvindo Amada Amante, nem cantarolar as Metades da Laranja.
Eu resolvi me revoltar anos atrás. Hoje assumo diversos gostos músicais fáceis, diversos gostos televisivos fáceis, diversos gostos teatrais e literários fáceis. Tá, tá. Assisto Zorra Total e leio Paulo Coelho. Felicíssima com isso. Tento escrever de modo fácil, tento simplificar o texto e a escrita para minhas crônicas serem tão leves quanto uma música do Lulu. E tento levar essa teoria para os meus filhos, que estudam nesses colégios modernos que formam pessoas iguais a mim. Mês passado comprei dois livros do Sidney Sheldon para a Luciana.
- Que é isso, mãe?
- Livro fácil de ler. Você precisa saber como são.
Ela adorou. Pediu para comprar mais.
Mas a teoria das coisas super fáceis não é minha. Ela surgiu na minha vida quando eu tinha dezoito anos, estava na faculdade e arrumei um namorado.
Nós nos conhecemos, gostamos um do outro e imediatamente começamos a namorar. Não houve nenhum percalço, nenhum problema, nenhum choro, ciumeira, traição, nada. Foi tudo super fácil.
Um dia ele me mandou uma carta que dizia exatamente isso. “É tão bom quando é super fácil, né Lucinha?”. Eu nunca me esqueci disso.
Era fácil e era bom.
Pra que complicar a vida?
Mas o namoro não durou. Sei lá, gente. Acho que como era super, super fácil, fácil pra burro, perdeu a graça e acabou rapidinho.

Nenhum comentário: