quinta-feira, 28 de julho de 2005

o Pai Nosso




Somos católicos aqui em casa. Eu e o Zé não casamos na igreja, mas resolvemos que batizaríamos nossos filhos. Depois cada um resolverá a sua crença, mas enquanto eles forem crianças serão católicos.
Todos já fizeram primeira comunhão menos o João, que vai fazer no final desse ano. Está fazendo a catequese, que é o curso de preparação para a comunhão, para quem não sabe.
Toda a semana ele tem aulas de catequese. Um dia perguntei a ele como iam as aulas.
- Tudo bem, mãe.
- Tá aprendendo as rezas?
- Todas.
- E a Bíblia?
- A professora lê toda aula, a gente comenta, dá opinião.
- Legal, filho.
- Só não gosto daquela coisa do Pai-Nosso.
- Nossa, João, não fala isso. Pai-Nosso é coisa sagrada.
- Dar a mão é coisa sagrada também?
- Como assim?
Ele explicou. A professora de catequese manda eles rezarem o Pai-Nosso de mãos dadas, como as pessoas rezam nas missas. Para quem não sabe, porque não é católico, desde que eu sou criancinha a gente reza o Pai Nosso, a reza mais importante da igreja, de pé e de mãos dadas com as pessoas que estiverem do lado.
- Mãe, eu não dou a mão pra pessoa do lado nem morto.
- João, não fala assim. É o Pai-Nosso.
- Mas mãe, os meninos da minha turma não conseguem ficar de mãos dadas sem ter vontade de coçar a bunda.
- Quê?
- É. Eles falam que rezar de mão dada dá coceira na bunda. Eu, hein?
E diante da minha cara de queixo caído, ele perguntou:
- Éca. Já imaginou você de mãos dadas com um amigo e ele vai e coça a bunda? Nojento, mãe. O Pai Nosso que me perdoe, mas é nojento.


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