Já que o Pecus implica tanto com conversas de cabelereiro, aqui vai uma engraçada, em homenagem a ele...
Ela é minha manicura. Senta num banquinho baixinho com uma gavetinha cheias de alicates e esmaltes e faz minhas unhas toda semana.
- Tá diferente, ô Cris. Cortou o cabelo?
- Tá diferente, ô Cris. Cortou o cabelo?
Ela sempre teve o cabelo cheio de trancinhas, mas naquele dia estava de cabelo preso, sem as tranças.
- Notou?
- Tá mais liso. E as trancinhas todas, você desfez?
- Não, eu tirei.
- Como assim?
- Aquelas tranças não eram minhas, lúcia. Eram falsas. Mas vou juntar dinheiro e colocar de novo. É que meu couro cabeludo precisa descansar, é perigoso ficar com aquilo muito tempo.
- Como é?
- Nunca reparou? Aquelas tranças não eram minhas, eram trançadas junto com o meu cabelo, aqui, perto da raiz, olha. O meu cabelo é bem curtinho – ela explicou, soltando o rabo de cavalo.
- Ave, Cris. Achei que você tinha um cabelão.
- Tenho não. E as tranças nem eram de cabelo natural. Eram de cabelo falso, sintético.
- Hã? Cabelo falso?
- É, comprei numa loja lá no centro – e ela começou a me explicar como se fosse a coisa mais normal do mundo – É quase perfeito. Cabelo de verdade custa muito caro. Olha, nas minhas tranças eu paguei 70 reais. Se fossem de cabelo de verdade eu teria que pagar uns... deixa ver... uns 450 reais, mais ou menos.
- Tudo isso?
- Cabelo é caríssimo. Vende por quilo. Um dia veio um rapaz aqui no salão e cortou o rabo de cavalo dele. Eu pedi para a dona do salão, ela me deu e eu guardei. Quem sabe um dia eu vendo. Um rabo lindo, loirinho, loirinho... um cabelo fininho...
- Ô Cris. Mas você não acha estranho usar um cabelo de outra pessoa?
- Ah. Isso eu acho.
- A gente não sabe de onde veio, né?
Ela olhou para os lados e passou a falar bem baixinho.
- Olha. Eu desconfio de uma coisa.
- Que é? – eu perguntei, cochichando também.
- Esses cabelos que eles vendem, esses cabelos humanos. Será que são de gente viva? Hein?
- Como é?
- E se for cabelo de morto?
- Avemaria, Cris.
Ela suspirou.
- Pois é. Pode ser de cabelo de defunto, de cadáver. Você acha que alguém reclama de cabelo quando a pessoa morre? Naquele desespero ninguém vê se a pessoa tá com o cabelo inteiro ou não, enfeita com flor, com véu. E se alguém vê, duvido que fale. Além disso, quando as pessoas morrem os outros só choram, não vêem nada com aqueles olhos embaçados. É a melhor hora para roubar cabelo – e ela cochicou mais baixo ainda - Eu desconfio que esses cabelos que eles vendem são tuuudo cabelo de morto. Olha, Não coloco na minha cabeça nem morta.
Ela deu um pulo, rindo.
- lúcia! Viu o que eu falei? “Não coloco nem morta”! Hahaha!
- Notou?
- Tá mais liso. E as trancinhas todas, você desfez?
- Não, eu tirei.
- Como assim?
- Aquelas tranças não eram minhas, lúcia. Eram falsas. Mas vou juntar dinheiro e colocar de novo. É que meu couro cabeludo precisa descansar, é perigoso ficar com aquilo muito tempo.
- Como é?
- Nunca reparou? Aquelas tranças não eram minhas, eram trançadas junto com o meu cabelo, aqui, perto da raiz, olha. O meu cabelo é bem curtinho – ela explicou, soltando o rabo de cavalo.
- Ave, Cris. Achei que você tinha um cabelão.
- Tenho não. E as tranças nem eram de cabelo natural. Eram de cabelo falso, sintético.
- Hã? Cabelo falso?
- É, comprei numa loja lá no centro – e ela começou a me explicar como se fosse a coisa mais normal do mundo – É quase perfeito. Cabelo de verdade custa muito caro. Olha, nas minhas tranças eu paguei 70 reais. Se fossem de cabelo de verdade eu teria que pagar uns... deixa ver... uns 450 reais, mais ou menos.
- Tudo isso?
- Cabelo é caríssimo. Vende por quilo. Um dia veio um rapaz aqui no salão e cortou o rabo de cavalo dele. Eu pedi para a dona do salão, ela me deu e eu guardei. Quem sabe um dia eu vendo. Um rabo lindo, loirinho, loirinho... um cabelo fininho...
- Ô Cris. Mas você não acha estranho usar um cabelo de outra pessoa?
- Ah. Isso eu acho.
- A gente não sabe de onde veio, né?
Ela olhou para os lados e passou a falar bem baixinho.
- Olha. Eu desconfio de uma coisa.
- Que é? – eu perguntei, cochichando também.
- Esses cabelos que eles vendem, esses cabelos humanos. Será que são de gente viva? Hein?
- Como é?
- E se for cabelo de morto?
- Avemaria, Cris.
Ela suspirou.
- Pois é. Pode ser de cabelo de defunto, de cadáver. Você acha que alguém reclama de cabelo quando a pessoa morre? Naquele desespero ninguém vê se a pessoa tá com o cabelo inteiro ou não, enfeita com flor, com véu. E se alguém vê, duvido que fale. Além disso, quando as pessoas morrem os outros só choram, não vêem nada com aqueles olhos embaçados. É a melhor hora para roubar cabelo – e ela cochicou mais baixo ainda - Eu desconfio que esses cabelos que eles vendem são tuuudo cabelo de morto. Olha, Não coloco na minha cabeça nem morta.
Ela deu um pulo, rindo.
- lúcia! Viu o que eu falei? “Não coloco nem morta”! Hahaha!
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