segunda-feira, 2 de maio de 2005

Mulheres & Mictórios


... girls, this is a "mictório", ok?


Minha primeira experiência com mictórios foi logo que eu me formei. E foi, digamos, inesquecível.
Recém formada, fui trabalhar num escritório de arquitetura que fazia prédios comerciais. Logo na primeira semana de trabalho me chamaram para participar de uma reunião com o cliente, pois eu ia desenhar todos os detalhes do projeto.
Inclusive banheiros, claro.
Na reunião, o arquiteto (meu chefe) começou a explicar o projeto, fazendo a maior encenação. O cliente começou a implicar com umas coisinhas aqui e ali, entre elas com o banheiro da diretoria. Ele dizia que estava apertado demais. Além disso, o homem argumentou, o banheiro não estava bem reservado. Ele insistia que as pessoas iam ver tudo que acontecia lá dentro quando passassem no corredor.
- Iii, mas que nada - disse meu chefe arquiteto, todo bonachão - esse banheiro é igual ao nosso banheiro daqui do escritório... Venha, vamos até lá dar uma olhada...
Assim, o cliente, eu e ele e entramos dentro do banheiro masculino do escritório. Puxa. Acho que foi a primeira vez que eu entrei num banheiro masculino na vida. Sabe, nós, arquitetas mulheres, projetamos espaços para mictórios, mas não temos a menor idéia de como é aquilo de perto. Não temos idéia do tamanho, da altura, nem se é profundo ou raso, nem muito menos como funciona. A maioria das mulheres nunca viu um, e nem, claro, nunca usou um. Não sei como resolver isso. Acho importantíssimo saber do que se fala, principalmente quando se trata de fazer um projeto. Alguém do sexo masculino e usuário do utensílio deveria fazer um manual. Um MM, ou "manual do mictório" para as damas. Um “manual do mictório" venderia que nem água para as arquitetas.
Olha a idéia que eu estou dando de graça para algum interessado. Olha a idéia...
Bem, nesse dia eu entrei no banheiro e dei de cara com ele, o tão famoso “mictório”. Como aquele era um momento único na minha vida profissional, aproveitei para observar bem o equipamento, afinal, sabe-se lá quando eu teria uma outra oportunidade. Percebi, logo de cara é que faltava aquela “aguinha” no fundo. Sempre achei que mictório tinha aguinha dentro, igual à privada.
Mas não, meninas. É uma louça seca, feito pia. Olha só.
Eu lá, olhando, reparando, e os dois a falar do banheiro.
- Veja o tamanho desse banheiro - disse meu chefe- não é bom? O do desenho é igualzinho.
Ele se virou, me olhou e teve uma idéia.
- Vou te mostrar uma coisa - ele disse ao cliente.
Foi então que ele me pegou rispidamente e me colocou na frente do mictório, olhando para a peça sanitária, como se eu... como se eu estivesse ali fazendo um xixi. Era uma “simulação” para o cliente: eu, a arquiteta júnior, ali naquele momento, era apenas “alguém fazendo um xixi”. Acho que ele nem pensou duas vezes em me usar daquela maneira para convencer o homem.
Foi terrível. Eu não esperava passar por uma experiência tão “íntima” com o mictório logo no nosso primeiro encontro. Fiquei completamente envergonhada, mas que remédio? A gente deve enfrentar esses desafios da profissão logo no início. Descobri também nesse dia que os arquitetos, na paixão por suas profissões e na ânsia de explicar um bom projeto, são capazes de tudo. Se transformam em homens sem escrúpulos. Eu era uma mocinha, gente, e estava morta de vergonha, mas ele não estava nem ai. Nem deve ter imaginado que eu nunca tinha visto um pinicão daqueles, nem que eu poderia traumatizar para sempre.
Bem. Depois de me colocar ali paradinha, no xixi, ele, ainda dirigindo a cena, saiu do banheiro com o cliente e colocou o cara lá no fim do corredor. Eu suava frio. Onde a gente coloca as mãos numa situação dessa? Foi quando ele abriu a porta num supetão e começou a berrar altíssimo.
- Agora, já! Vê alguma coisa? Não?
- Isso, anda em linha reta. Vê? Não?
- Isso, mais um pouquinho para lá. Também não? Está vendo? Está ótimo o banheiro!
Como ele gritava bem alto, apareceu um grande público. O meu chefe sorriu, satisfeito, diante dos “nãos” do cliente. Olhou para mim e me libertou, ops, me liberou. Eu rapidamente “acabei” de fingir o meu primeiro xixi em pé da vida, me ajeitei e sai dali.
Foi uma experiência bastante embaraçosa. Imagina você arrumar um emprego e logo na primeira semana já ter simulado um xixi na frente do chefe, do cliente e de todos os outros funcionários? Virei, claro, motivo de chacota das outras arquitetas.
Bom. Tudo tem uma primeira vez na vida.
Não é?

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