quarta-feira, 27 de abril de 2005

USA OU NÃO USA?


este é um bidê, para quem não usa se lembrar como é.

Depois de muitos anos de profissão, cheguei a uma conclusão surpreendente. Descobri que o mundo se divide em duas partes: a parte das as pessoas que usam bidê e a das pessoas que não usam bidê.
Háhá.
Eu juro, é verdade. São dois universos distintos. Como o bem e o mal, o doce e o salgado, o yan e o yin, o mocinho e o bandido, os que usam bidê e os que não usam o bidê vivem em extremos opostos. Não se entendem, não se compreendem, se implicam, fazem chacota, tem raiva uns dos outros. Muitas amizades, muitos noivados e casamentos devem ter sido destruídos depois dessa crucial revelação.
Parece pouco, mas não é. Existe um abismo entre os homens do bidê e os homens do não bidê. A diferença física entre eles não é clara numa primeira olhada, mas depois de uma primeira reunião com o arquiteto, o cliente sempre precisa revelar quem realmente é. Muitas vezes é o próprio cliente que conta, mas outras vezes eles não dizem nada e ficamos na maior saia justa. Ah, juro, é horrível. Você pergunta e fecha os olhos de medo, pois a resposta vem sempre num supetão indignado:
- Como que é? Acha que sou porca? Claro que uso bidê!
Ou:
- Bidê? Deusmelivre! Nunca encostei o dedo num bidê na vida!
Acho que usar ou não usar bidê é um treco meio genético. Ou um tipo de tradição familiar, ou um segredo daqueles que as pessoas levam para o túmulo. No nosso meio é sempre um problema e um assunto daqueles.
Há alguns anos atrás, trabalhei com uns colegas arquitetos, num mesmo escritório. Quando aparecia um cliente novo, fazíamos a "aposta do bidê". Acabava a reunião e todo mundo vinha em cima:
- Perguntou? Usa ou não?
- Não usa, ganhei!
De cara não dá para a gente saber quem é quem, mas depois é possível perceber algumas particularidades. Os do bidê, por exemplo, são pessoas cheias de manias. Acham que são mais limpos e mais asseados que os outros, e por isso implicam com tudo. Mas são pessoas com um enorme senso de humor. Sei lá se existe alguma ligação entre jogar água lá embaixo e dar risada aqui em cima. Imagina se é o bidê que resolve o problema do mau humor do mundo e ninguém até hoje nunca percebeu?
Uau.
Bem, já os que não usam bidê são mais distraídos e sonhadores. Concordam com toda idéia que você propõe, o projeto deles sempre acaba rapidinho. Eles se defendem dos insultos da turma do bidê dizendo que bidê que é coisa de gente mal asseada, que tem preguiça de tomar um banho inteiro.
Olha. Não que eu seja assim a maior expert em psicologia do bidê. Mas foram as conclusões que eu tirei, depois de muito observar.
Trabalhei com um arquiteto que era o "rei do bidê". Ele era o maior defensor desse maravilhoso aparelho sanitário para a lavagem das partes inferiores do tronco. Não se contentava em “perguntar” ao cliente se ele usava o bidê ou não. Ele queria converter os clientes. Falava maravilhas do equipamento, fazia a maior propaganda, sempre com total desembaraço. Era um verdadeiro missionário da doutrina do bidê. E acho que ele conseguiu convencer muita gente, pois não me lembro dele fazer nenhum projeto sem bidê.
Agora, depois de anos discutindo, ouvindo, desenhando e construindo esse assunto, vou dar um conselho. Se você não precisar, não declare nunca a sua preferência.
Isso dá muita confusão.
Quer saber? Eu parei de dizer se uso ou não o bidê há muito tempo atrás. Ninguém tem nada com isso, é assunto pessoal e íntimo meu. Pronto, acabou.
Afinal, quem projeta meus banheiros sou eu mesma...

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