sexta-feira, 28 de novembro de 2014

nostalgia dos cacarecos


Época estranha da vida, essa de filhos grandes. Notei que, por exemplo, minha casa agora está cheia de vazios. Primeiro foi meu ex marido que saiu, levou as coisas dele e alguns móveis. Depois foi meu filho mais velho, que levou também as coisas dele, e mais uns móveis e objetos. E quando minha mãe morreu tive que colocar algumas coisas dela aqui, e desde então me livrei de muuuita tranqueira.
É que tem aquelas coisas que dá a maior pena de jogar fora, sabe? Demora pra você tomar a atitude de sucatear tudo, porque a gente tem um negócio insuportável chamado me-mó-ri-a que te faz entulhar e empilhar tudo que foi seu. Dai você olha a televisão de tubo que era do seu quarto (ah, como eu amei aquela tv em 1994, eu nunca tinha tido uma tv no quarto...), a impressora antiga (ah, comprada na FNAC, e pensar tudo que ela já imprimiu...), a última cadeira branca da cozinha com o pé quebrado (lembro de ir na Tokstok e trazer toda feliz as seis cadeirinhas, snif), aquelas caixas de papelada que sei lá se tem documento (será que mando pro lixo?), agendas, agendas, agendas, agendas (porque será que guardei todas as minhas agendas desde 1979?), uau, listas telefônicas (alguém se lembra delas? Um dia briguei com a minha irmã e de raiva rasguei uma), bijuteria quebrada, bijuteria quebrada, bijuteria quebrada (lindas... e se eu mandar arrumar?), sete mil cartões de visita de mil pessoas desconhecidas (será que me arrependerei?), enfeite feio, enfeite cafona, enfeite quebrado (ah, mas os meninos que quiseram comprar naquela viagem para Parati...), ai, aquele puffe vermelho horrendo de bolinhas de isopor (os meninos gostavam tanto de se jogar nele...), e esses cadernos de escola...
“Não lembre mais”, resolvi. Venci galhardamente a nostalgia dos cacarecos e mandei tudo embora. Porque tranqueira, é sério, tem vida própria e cresce sem que a gente perceba. Por exemplo, a mesa da entrada da minha casa é como mato. Não param de brotar coisas esquisitíssimas em cima dela, é aquela terra de ninguém com bolsas, sacolas, papéis, sutiã, autan, elásticos de cabelo, cd sem capa, cartas, meias, casacos, óculos, calculadora, revista, boletos, apostilas, livros, bala, escova de cabelo, foninho de ouvido, desodorante, paleta de sax, capa de celular, lápis, iPod, capa sem cd, carregador de celular (x10). Juro, não listei nem metade do que encontro e guardo toda a semana, para depois levar bronca porque “tirei do lugar”. Hahaha.
Foi dai que eles surgiram, os buracos. A casa ficou agora com uns vãos enormes, vazios e absolutamente maravilhosos, que crescem cada vez mais. Ando pela sala, aquele espação. Ando pelo quarto, espação. Área de serviços, espação. Me sinto agora a rainha do espação. Tem gente que acha triste quando a casa esvazia. Eu tou gostando. Época louca.

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