terça-feira, 13 de setembro de 2011

a ascenção da adulteração na alimentação atual




Animei de falar de comida. Ando pensando nelas esses dias, estamos em pleno restaurante week e volta e meia alguém me conta algo que comeu. Reparo que agora existem ingredientes muito diferentes para cozinhar do que existiam quando eu era criança. Coisas que a gente nem imaginava surgem como grandes acessórios nos pratos e são comentados animadamente por quem consome. Meus filhos chamam isso de adulteração. Por exemplo, tem o arroz-arroz, mas quando tem aqui em casa o arroz com cenoura e vagem, que fica colorido, eles falam que é o arroz adulterado. Qualquer arroz que não é puro, para eles é adulterado. Esse o conceito da adulteração. E noto que as comidas de hoje estão cada vez mais adulteradas, e com coisas muito diferentes do tempo da minha infância. Olha só. Antigamente alguns pratos eram adulterados, por exemplo, com uvas passas. Arroz com passas, farofa com passas, frango com passas. Mas pobre das uvas passas cairam em total desuso. No lugar delas agora existem as favas. Arroz com favas é muito mais chique que arroz com passas. Outro item de adulteração que foi pro beleléu foi o pobre do champinhon. Era mega legal carne com champinhon, salada com champinhon. Mas vieram os shimejis e shitakes e acabaram com reinado do pobre do champinhon. Noto que declínio deles veio junto com o declínio do estrogonofe, que era um prato de festa, mas ficou cafona e pouco se vê. Duvido que exista estrogonofe no restaurante week. Outra coisa que inventaram foram as mini saladas de entrada adulteradas com coisas que a gente nunca imaginou. Saladas de 3 gramas, de tão nanicas. Uma amiga minha ontem foi almoçar e me contou que a salada da entrada, de folhas verdes, um super queijo e tomate do cardápio, se resumia numa folha de alface rasgada do tamanho de um post-it, 1 (um) tomate cereja (cortado em dois) e duas lasquinhas de queijo do tamanho de uma unha. Ollhou desanimada o prato. Para se alimentar com aquilo precisaria de uns 12 iguais. Por falar nisso, de onde veio o tomate cereja? Acho que o mini tomatinho foi inventado basicamente para adulterar as mini saladas. Tudo isso para concluir que o mundo da aldulteração alimentar mudou está em crescente ascenção, reparem. As comidas de hoje são absurdamente adulteradas. Creme de mandioquinha com brotos e azeite trufado, folhas crocantes com pêssego ao molho de balsâmico, flã de salmão ao figo e pão, bruschetta de pêra com gorgonzola, entrecôte com capellini acompanhado de sauté de tomate-pera, tomilho e manteiga de limão, carré de cordeiro crocante com cubos de cenoura, coulis de salsa e crisps de couve. As comidas hoje tem tanta adulteração que, sério, não dá nem pra saber o que é a comida e o que é a adulteração. E bora pro restaurante week.

Nenhum comentário: