terça-feira, 26 de dezembro de 2006

micasso


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Gente, não agüento não falar dessa foto. Essa imagem estava na capa do Estadão do domingo passado, dia 24/12.
Olhem para isso.
Essa foto.
Essa cena.
Primeira página do jornal do domingo.
Pesadelo.
Céus.
Olha. Todas nós – e duvido que alguma mulher me contradiga – temos nossos momentos particulares de fúria. Está na alma, no universo e nos traumas femininos, está nos hormônios e sinceramente acho não tem muito remédio não. Não sei se depois da menopausa passa, mas eu tenho esses acessos desde menina até hoje. Tá, tem a coisa de temperamento, tem a coisa da paciência, da personalidade, da tolerância e tudo isso conta. Mas a questão é que eu, assim como muitas outras mulheres, de vez em quando explodimos. Bum. Não tem jeito. Bum. Não adianta ir contra, é como uma tempestade, um tsunami, um fenômeno da natureza. Bum. Rezo muito para Deus para que as minhas explosões aconteçam dentro da minha casa, principalmente com eu sozinha, mas não é sempre que a gente tem essa sorte e vez ou outra eles ocorrem em público, o que é terrível e extremamente vexaminoso. Já contei uma vez, numa crônica, o acesso de fúria que tive na Disneylândia bem na frente da Margarida e do Donald e do trauma que causei aos meus filhos. Já tive acessos em supermercados e em lojas. Já piquei um carnê todinho feito confete num caixa de um Banco Bradesco da Paulista e joguei na cabeça do coitado do atendente. Já joguei uma taça de vinho branco numa mulher muito chata numa festa, fingindo que foi sem querer. Já atropelei diversas canelas de donas de casa irritantes com meu carrinho no Pão de Açúcar aqui ao lado de casa. Já envergonhei filhos, filhas e amigos de filhos e filhas com brigas inúteis. E com o Zé, pobrezinho, já berrei em tudo quanto é canto e ele me agüentou com uma paciência de Jó. Porém existe uma coisa estranha na mente feminina que é um negócio de esquecimento. A gente esquece tudo isso horas depois. Juro. Esquece completamente, é uma amnésia tepeêmmica, um esquecimento natural do sexo feminino, um negócio simplesmente sensacional que um dia merece um estudo. Sei as coisas que já fiz porque o Zé, os filhos e os amigos não esquecem, mas se dependesse da minha natureza eu não teria a menor idéia da dimensão dos meus furores - que hoje me dão uma vergonha danada.
Mas daí, gente, para você ser publicada, em completo acesso de fúria, na primeira página do maior jornal do Brasil, não dá. Ninguém merece isso, nenhuma mulher, céus! Coitadas dessas duas, é trauma pra o resto da vida. E detalhes: reparem nas unhas, cravadas na pele dos braços uma da outra. Olhem o olhar... Bum em mega escala. Fúria em escala nacional.
Gente, uma dessas poderia ser eu. Nossa, que sorte que eu tive de nunca ter sido fotografada. Que sorte nós todas temos.
Que pesadelo.
Que mico.
Ou, como diz o Pecus: um micasso.

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