segunda-feira, 2 de outubro de 2006

a tensão do secador



Tive, durante anos, um secador de cabelo azul. Não tinha marca nem nome, era apenas azul e pequeno. Mas era uma maravilha. Pequenino, minhonzinho, fazia o maior ventão. Um vento daqueles era um vento 'sem dúvida alguma'. O máximo. Com ele, um dia, cronometrei. Sete minutos para secar tudo. Um beleza.
Há dois anos, sem mais nem menos, ele morreu. Eu ligava, colocava na tomava, clicava, sacudia e nada. Nenhum sinal de vida. Tipo infarto fulminante. Puft. Fiquei super triste. A gente se apega às coisas que precisa muito.
Como o Zé ia viajar a trabalho para fora do Brasil, pedi a ele que me trouxesse um novo de presente. Assim foi. Ele foi, voltou e pimba, chegou com um super-secador.
Era preto, bacanão, parecia aqueles de cabelereiro. Profissional, com a maior potência. Quase me derrubava, praticamente um tufão na minha bancada de pia. Usei durante dois anos, e tudo correu bem até a semana passada, quando deixei cair no chão e... cataploft. O secador espatifou e, óbvio, parou de funcionar. Digamos que morreu de queda. Sacudi, e está tudo despedaçado lá dentro, tadinho. Tão grande e tão frágil.
Fiquei atrapalhada na manhã seguinte. Eu acostumei a secar o cabelo depois do banho, como eu ia fazer? Voltei ao meu armário e peguei novamente o secador azul, que, de dó, eu não tinha jogado fora. Que saudade, porque será que ele tinha quebrado mesmo? Foi quando eu, sem pensar, liguei na tomada só para ver o que acontecia. Gente, acreditem. Ele ligou. Sei lá, talvez precisasse de um descanso, de uma hibernação, ou de um tempo para renascer. Só sei que estou, há uma semana, usando o secador azul novamente. Parace um milagre, e ele é muito melhor que o outro, apesar do tamanho. É mais leve e faz, realmente, o maior ventão.
Porém tem uma coisa estranha. Comigo, não com ele.
A tensão. Desde então eu acho que ele vai morrer novamente a qualquer instante e fico completamente tensa durante todo o seu período de funcionamento. Dura, estática, o meu cabelo fica horrível depois da secada. Não consigo relaxar. Ora, se ele já aprontou comigo uma vez, quem me diz que não fará uma segunda? Depois tem o negócio do amor e da paixão: embora aquele vento seja sensacional, sei que não posso me apegar à ele. Paixão é fooogo... Não quero sofrer de novo, depois ele me larga e será aquele sofrimento. Não venham me dizer que secador tem de monte em cada esquina que não é verdade. Mas ele tem que decidir, ou ele me quer ou não me quer. Ora, mas ele não fallhou ainda nenhuma vez nessa segunda vida, será que não estou exagerando? Talvez não esteja certo falar assim dele.
Bem, pelo sim, pelo não, resolvi estabecer uma relação de indiferença, praticamente ignorando aquela maquininha. Hoje de manhã pensei em largá-la para sempre, ir ao Extra e comprar um outro qualquer, novo e com vento médio. Ora, as máquinas, assim como as pessoas, precisam nos deixar seguras de estarmos ao lado delas. Uma relação não pode ser baseada em jogos de tensão, precisa ser fluida, natural, adequada, e...
É. Talvez eu esteja, realmente, meio pirada.
Excesso de vento na cuca?

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