domingo, 16 de julho de 2006

esse negócio de “sistema”




Olha. Voltando ao assunto da minha reunião no Rio de Janeiro na sexta feira, saibam que não foi nada fácil chegar no Rio de Janeiro na sexta feira. É que não gosto de falar das coisas ruins, acredito sempre que a gente é o que a gente traz para os outros. Já disse isso em algum lugar, que temos conosco um enorme caldeirão onde vamos fazendo uma sopa e que ao longo da vida vamos escolhendo o que colocar dentro. Dependendo do que colocamos a nossa sopa fica doce, temperada, nojenta, asquerosa, salgada, gostosa ou intragável. Se colocamos coisas amargas ela fica amarga e ninguém quer tomar, se colocamos açúcar demais ela fica enjoativa e as pessoas enjoam, assim temos que aprender a temperar, a selecionar assuntos e sabores para que as pessoas gostem da nossa sopa. Por causa disso eu não gosto de colocar ingredientes ruins nas minhas sopas, sempre prefiro torná-la suculenta de coisas boas. E por causa disso eu não contei a parte ruim da viagem do Rio. Mas como agora já passou a raiva, dá pra comentar e até analisar o que houve.
Fui na sexta feira bem cedinho. Tinha uma reunião, não pretendia chegar atrasada. É muito difícil eu acordar cedo, cada um é de um jeito, eu sou daquele jeito que gosta de dormir bastante de manhã, acho uma delícia ficar rolando na cama, chego a rir sozinha quando penso que estou deitada e que posso continuar ali mais um tempinho, portanto foi um terror acordar às cinco e meia e no frio, mas trabalho é trabalho. Acordei, tomei um banho meio frio, peguei um táxi e lá fui eu, mau humorada, pra Congonhas.
Olha, eu não achava que as coisas poderiam ser piores que isso, mas foram. Bastou entrar no aeroporto, ali onde é a TAM, no fim do prédio, que percebi o caos. O lugar estava entupidaço de gente. Era tanta gente, mas tanta gente, que não dava para entrar. Juro. E essas pessoas todas, acreditem, estavam em filas, em diversas e milhares e múltiplas filas que se enroscavam feito milhares de minhocas, feito uma macarronada humana, feito um gigantesco novelo de lã. Eu fiquei parada tentando entender aquela coisa as seis e dez da manhã. O que caramba era aquilo? Que caos pesadelesco era aquele?
Comecei a andar a esmo, até que resolvi perguntar onde-era-caramba-a-fila-da-ponte-aérea, e uma senhora apontou um outro balcão, do outro lado. Ufa. Ao menor eu sairia dali. O lugar da ponte aérea de longe parecia menos entulhado. Parecia. Quando vi tinha uma única fila que percorria o prédio todo, era inacreditável, passava em frente ao balcão da Varig, não é possível, passava em frente ao balcão da Gol, ó céus, entrava no corredor das lojinhas, quase no saguão principal e acabava ali. Ai. Foi horrível achar e acreditar naquele fim-de-fila. Aquele lugar significava que eu só alcançaria o balcão horas e horas e horas depois. Uma fila digna de uma crônica reclamenta.
- É que não tem sistema – me explicou uma senhora argentina na minha frente – E eles estão fazendo chéquim manual, por isso tem essa fila.
Pois vejam só. Óbvio que isso pode acontecer, essa coisa de não ter sistema num chéquim. Mas são inacreditáveis as conseqüências de chéquim sem sistema, gente. Entulhamento máximo, avalanche humana, caos macarrônico, uma coisa impressionantemente desastrosa. Uma verdadeira calamidade. Ao menos eu não estava de salto agulha como a argentina, coitada.
Bem, a passos de formiga a fila andava, mas para resumir, fiquei ali duas horas e dez para conseguir embarcar num vôo. Mas de nada adiantou embarcar, pois dentro do avião o piloto avisou que só poderia sair com plano de vôo, e que só receberia um plano de vôo quando o sistema voltasse. Assim, passamos mais quarenta minutos apertados dentro do avião, eu na poltrona do meio, óbviamente azarenta, entre dois gordinhos de terno, tentando cochilar.
Conclusão. Tudo culpa do 'sistema'. Por trás de uma empresa aérea, por trás dos supermercados, das lojas, das empresas, das fábricas, dos escritórios, existe sempre um tal de ‘sistema’. Esse 'sistema' pode ‘cair’ a qualquer momento, e se ele cair, babau. Sem sistema você não voa, não come, não compra, não paga. Nada mais é feito a mão, nada mais é feito sem sistema. Não sei exatamente o que é “cair o sistema”, se ele cai no chão, na rua, do prédio, se ele cai sentado, se se esborracha, mas sei que quando ele cai é o caos. Um dos maiores perigos da humanidade hoje em dia é isso. A queda do sistema.
Resumindo, cheguei super atrasada. Mas descobri uma coisa legal. Uma “queda de sistema” é uma ótima desculpa para dar para chegar atrasada em reuniões. Quer saber? Da próxima vez que eu tiver uma reunião no Rio vou dormir até as nove e meia, chegar atrasada e culpar o sistema.
Nossa, como caem esses sistemas, gente.
Hehehe.

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