terça-feira, 11 de abril de 2006

a sunguinha do rick



Quando se mora em família existem muitos códigos entre os membros. E mais: quando uma das pessoas adultas da família é o Zé, que sempre lasca o seu tradicional “hummm, diferente...” toda vez que alguém inventa uma coisa nova; quando a outra pessoa sou eu, que reparo em minúcias e coisas desimportantes o dia inteirinho e quando os outros três moradores são adolescentes com suas gracinhas, vergonhas e excessos de crítica, está feita a salada.
Aqui em casa temos muitos códigos que viraram termos que só a gente entende. Minha família toda é meio implicante, fazer o quê. São as linguagens de grupo que distinguem e identificam seus membros. As vezes acontece de grupos terem os mesmos códigos, as vezes acontece usarmos códigos alheios, e as vezes só a gente, que está dentro, entende.
Tudo para falar sobre um termo que roda aqui em casa a toda hora. É a "sunguinha do Rick". É um termo que veio de lá de trás, do ano passado, da novela América.
A novela tinha uma família que foi morar nos Estados Unidos: um pai, uma mãe e um garotinho pequeno. O pai se encantou com a vida em Miami e arrumou um monte de amantes, a mãe chorava pelos cantos com saudade da sua vida profissional no Brasil e o menininho, esquecido, viciou-se me joguinhos de computador online. Por causa disso, o menino acabou conhecendo um homem mais velho, que no início se fez de criança para enganar o moleque. O homem era, na verdade, um pedófilo. Como os pais eram “ausentes”, o garotinho, seduzido, foge de casa e vai para a casa do tarado. Quando isso aconteceu, os meus filhos berravam na sala.
- Moleque idiota! Tosco, Burro!
Bom, aqui em casa a gente implica mesmo com criança de novela, sempre foi assim. E esse menino, perdão, era muito tonto mesmo.
A casa do tarado era cheia de brinquedos, computadores e potes de bala, um cenário bem ridículo mesmo. Na cena fatídica, o velho e o menino estão na sala e o homem começa a seduzir o garotinho com doces e jogos. Numa certa hora o velho abre uma gaveta, pega um maiô, desses de nadar, balança na frente do menino e fala:
-" Você quer esses doces e brinquedos, Rick? Então põe a sunguinha e me deixa tirar umas fotografias suas de sunguinha, Rick... – e balança a sunguinha na frente do menino, com cara de tarado – Vamos, põe a sunguinha, Rick, vamos... "
Os meninos berravam na sala diante da cena absurda.
- Aahahaha! Muito ridículo isso! – eles exclamavam – ... que menino mais idiota! Que moleque boçal!
Bom, bastou. Isso foi no ano passado, a novela acabou, mas a "sunguinha do Rick" está todos os dias aqui na minha casa. Até hoje, quando damos de cara com uma pessoa desavisada, quando alguém foi enganado ou quando simplesmente um quer chamar o outro de bobo, um de nós pega um paninho ou papelzinho e balança na cara do outro.
- Pôe a sunguinha, Rick, vamos... põe a sunguinha...
Hahahaha.
É. Coisas de família, fazer o quê.

Nenhum comentário: