segunda-feira, 17 de abril de 2006

bola de meia


Nesse feriado encontrei, sem querer, uma conhecida de muito tempo.
Nossa. Quanto tempo. Olha que coisa. Por onde você anda. E os filhos. Tem quantos. Tua mãe tá boa.
Como o vácuo de tempo entre nós era muito grande, o encontro não podia ser apenas um “olá” de longe e rápido. Tive que parar, cumprimentar, perguntar da família, da vida, lembrar os nomes dos pais e filhos. Até que uma hora percebi que eu falava como maluca e ela só balançava a cabeça. Sabe aquele tipo de pessoa que não desenvolve conversa? Tava ali na minha frente. Tive raiva. Não de mim, que tenho certeza que eu ali desempenhava o papel certinho. Tive raiva dela, que não fazia esforço algum para me agradar. Se eu parasse de falar subitamente, tenho certeza que eu e ela entraríamos num estado catatônico que duraria horas e horas. Quando percebi isso, desconversei e me despedi. E, confesso, na hora que sai de perto dela, falei bem baixinho.
- Ô chata.
Perdão, gente. Mas que coisa mais chata mesmo.
Olha, geralmente me dou bem com qualquer pessoa sem fazer esforço, mesmo com os complicados, mau humorados, com os gênios da lâmpada. Sou uma boa comentadora tanto de de gibis quanto de orelhas de livros com embasamento teórico e me viro bem com minha bagagem bagunçada. Mas algumas pessoas que me incomodam muito. São essas que não sabem... conversar.
Acho que isso é por causa de uma coisa que aprendi. Quando eu era menina eu era tímida, calada, quietinha. Nas ocasiões sociais eu ouvia muito e não emitia opinião – aliás, naquela época criança não fazia isso mesmo – e dizia apenas “sim obrigada”, “não obrigada”, “bom dia boa tarde e boa noite” e “dá licença”. Mas observava o tempo todo, principalmente a minha mãe, que até hoje fala pelos cotovelos. E aprendi com ela, inconscientemente, uma série de umas coisas engraçadas sobre essa coisa de se portar ocasiões sociais.
A primeira é que ela achava que era preciso falar. Preciso, não: era absolutamente necessário falar. É, isso mesmo. Se alguém era colocado na frente da minha mãe, ela falava qualquer coisa. Se fosse preciso ela contava o número do sapato que estava usando ou saldo do banco. Mas falava. Uma conversa sem falas, para ela, era um tipo indesculpável de falta de educação, e ela, que era muitíssimo bem educada, sempre comandava as conversas.
Porém, por mais que minha mãe tentasse, com algumas pessoas não tinha conversa. Tem gente, como a minha amiga que contei ai em cima, que não entende essa coisa da educação mandar falar quanto tem alguém ao lado.
Pois bem. Quando a minha mãe se deparava com um sujeito ou sujeita desse tipo, ficava desesperada. Ela se inflava e resolvia que não ia deixar vazio, hiato não era com ela. Bastava a conversa degringolar para o nada que ela, sempre sorrindo, falava longos “ai-ais...”, “pois é...”, “mas que coisa...”, “eu não acredito...” e outras expressões tapa-buraco que agem como pontes entre os assuntos. Nessas horas ela ficava aflitíssima com a perda do controle, tentava umas duas ou três vezes reerguer o assunto, e quando via que não dava mesmo, mudava o tom para tom de final de espetáculo e dava um jeitinho de encerrar a conversa sempre com as desculpas de “muito trabalho hoje na cozinha”, “buscar as filhas”, “fazer alguma coisa para o Dito”. O Dito era meu pai, obviamente.
Hoje me pego fazendo exatamente a mesma coisa. Acho que não adianta, que no futuro somos somente cópias mais atualizadas das nossas mães. Além de ter me tornado igual ou até mais tagarela do que ela, eu também não suporto esse tipo de gente que depende do nosso empenho pra conversar. Uma amiga define essas pessoas como pessoas “bolas de meia”, pois conversar com elas é como jogar uma bola de meia numa parede – ao invés da bola voltar pra sua mão, ela bate e cai no chão, o que obriga você a ir até lá, pegar a bola e jogar de novo. Um saco. Numa boa conversa a bola vai de mão em mão, em jogadas certeiras. Assim que é gostoso conversar, com jogar um ping-pong.
Bom, posso estar enganada e ser eu a chata, obviamente. Pra variar, não tenho certeza de nada, mas também, quer o quê numa segunda feira de manhã quando ninguém tem assunto?

Nenhum comentário: