segunda-feira, 24 de abril de 2006

anjo ou monstro?



- Acho que é por causa do blog, Lúcia, não sei bem, mas eu me sinto absolutamente a vontade para te falar tudo isso.
Foi o que me disse uma amiga que veio aqui em casa na semana passada. Estávamos tomando café e conversando na copa quando ela me confidenciou que, por causa do meu blog - que ela lê sempre - ela se sente segura para me contar as coisas dela, tanto os problemas como as coisas boas.
- Ora, lúcia, você escancara toda a sua vida pra gente. Uma pessoa que faz isso, que conta tudo que acontece com a sua família, com seus pensamentos e sentimentos, não é possível que esteja mentindo. Isso dá um tipo de segurança, ainda mais que você escreve todos os dias. Dá vontade de te contar as coisas também.
Uau.
Nunca pensei nisso, levei o maior susto. Como assim? Bem, óbvio que essa amiga não precisaria de blog nenhum para conversar as coisas dela comigo, pois nos conhecemos faz tempo e ela pode me contar o que for. Mas fiquei pensando muito no que ela me disse e acho que ela tem razão. De um modo meio torto, nos aproximamos muito das pessoas que lemos com regularidade. E sim, algumas delas nos dão confiança mesmo. Isso acontece comigo quando leio algumas pessoas no jornal, em livros ou blogs.
Fiquei feliz com esse pensamento. As pessoas em geral não gostam de relações virtuais porque dizem que são impessoais, longínquas, distantes. Isso é uma grandicíssima bobagem. Eu acho que palavra escrita, seja nos posts ou comentários, é muito mais pessoal que a palavra falada. Gente, pensa. A palavra escrita fica ali, materializada na sua frente, falando, falando, falando quantas vezes você quiser, basta você ficar relendo. A palavra escrita depende de você, que lê.
Já a palavra falada depende da pessoa que fala, o seu interlocutor. Se ele pára de falar de repente, a palavra vai embora com o vento. Fúúú... Ou seja, a palavra falada a gente perde, a escrita não, ela é estável, fica nas nossas mãos. Ela já vem com a sua memória estampada, feito carimbo. Acho até a palavra escrita perigosa por causa da sua permanência. Tudo que existe muuuito pode ser anjo ou monstro: depende apenas do teu estado de espírito na hora que lê. E, por causa disso, na minha opinião as relações virtuais são fortíssimas.
Mas voltemos a confiança que minha amiga depositou em mim e que me deixou super emocionada. Acho que essa coisa de você dar confiança nos outros é boa porque você dá confiança em você mesma. E ora, eu não sou nem um pouco tão cheia de certezas como a Franka desse blog. Juro.
Outro dia, depois que o Pecus revelou o signo do Pecus, que obviamente não é o mesmo signo do verdadeiro Pecus dono do blog, fui atrás do signo da Franka. Lembro a todos que não entendo patavina de horóscopos, foi pura curiosidade. Descobri que ela nasceu dia 27 de agosto, portanto é do signo de virgem. Cai para trás. Virgem! Bem, não entendo muito, mas sei que virgem é o signo da minha melhor amiga Sílvia B., que é, em muitas coisas, o oposto de mim. Sabe como é melhor amiga em fim de noite com muita cerveja – já passamos horas conversando sobre essas diferenças.
Acaso? Sei lá. Foi quando eu entendi que foi exatamente isso que eu busquei. Não é só a minha amiga que se sente segura de me falar as coisas por causa do blog. Essa personagem criada aqui também me dá confiança e vontade de contar meus segredos. E assim eu, uma bagunçada e impulsiva pessoa de escorpião, busco a lucidez e a obstinação da virgem Franka para me organizar.
Nossa, isso talvez seja um assunto bem complicado para uma segunda pela manhã. Me dá até um pouco de medo.
Medo? Lembrei de uma citação maravilhosa:

"O caminho mais seguro para chegar ao verdadeiro futuro (pois existe também um falso futuro) é ir na direção em que teu medo cresce."

Milorad Pávitch através de Nikon Sevast, demônio e personagem de "O dicionárioKazar", ed. fem., Marco Zero, pag. 87


Bom dia, gente.
E podem me contar o que quiser.

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