quarta-feira, 15 de fevereiro de 2006

os 'marido'




Fui almoçar com duas conhecidas que trabalham comigo. As duas são mais novas que eu, são casadas e não tem filhos. Uma delas passou a contar, com uma certa naturalidade, sobre uma crise que passava no seu casamento.
Disse que não é a primeira crise. Que as coisas estavam difíceis. A outra, casada há apenas um ano, se animou e revelou que ela e o marido já tiveram algumas brigas. Não crises, mas brigas.
- Ele chega muito tarde – falou a primeira – Não avisa, não liga, não dá satisfação.
- O meu é igualzinho – falou a segunda - Fala que vem, não vem. Quando chega, vem com aquela cara de desabamento.
A primeira estava chateada.
- Ele implica comigo por qualquer coisinha. Daí eu fico irritada, brava, não falo com ele, ele não fala comigo, e quando percebo, estamos brigados a quase uma semana e não lembramos nem o porquê.
Olha. Todo casamento é meio sem graça se comparado a uma vida de solteiro. Existe uma previsibilidade natural num convívio sem sobressaltos ou surpresas. Ao mesmo tempo que isso nos agrada, existe um mau presságio nas calmarias. Acho que sentimos um quê de “tumba” nos casamentos, ainda mais se tomarmos como parâmetro a vida de solteiras, a animação, a liberdade.
No meu caso e no delas, foi pior. O casamento veio junto com a saída da casa dos pais, ou seja, veio junto com um monte de contas, preocupações com o aluguel, compras, responsabilidades. Difícil não confundir tudo.
Depois tem os maridos. Bem, depois de vinte anos casada, declaro. Não entendo a cabeça dos homens, não vou entender e ponto final. Ou melhor, pinto final. Homem é homem, tem lá a sua lógica e não se fala mais nisso.
O problema são os contos de fada. Aprendemos que nós, as princesas, devemos ser felizes para sempre. Somos quase forçadas a isso. Olha. A gente é feliz com pais, irmãos, filhos e amigos e ninguém fica falando. Tem uma forçação de barra na felicidade dos casamentos, e isso não é bom. Mas o que temos que lembrar é que a maioria dá. Muitos casamentos são bons, o problema, acho eu, é que, muitas vezes, as mulheres não percebem.
Foi isso que eu entendi, ali, no Viena do Shopping. Bom, confesso que é um lugar estranho para filosofar, mas uma mulher-mãe não pode se dar ao luxo de estar num espaço muito inspirador. E foi ali que entendi que o casamento daquelas duas meninas era ótimo, elas que estavam confusas e sem parâmetros. Gente, pensa. Elas têm apartamento, emprego, são inteligentes, bonitas, os maridos são legais, a vida delas é saudável. Elas têm tudo que toda mulher quer.
O marido não chegar na hora certa?
E daí?
Não telefonou?
E daí?
Ô problemas pequenos, esses. Falaverdade.
Tenho uma amiga advogada que cuida de separações e problemas familiares. Um dia, num desabafo, ela me disse uma das frases mais sensacionais que já ouvi sobre casamentos. Acho que ela deve ter passado o dia todo tentando resolver pepinos conjugais complicadíssimos. Saímos para tomar uma cerveja, eu devo ter reclamado um pouco do Zé e ela me olhou, seríssima.
- Olhaqui, lúcia. A gente não deve nunca reclamar dos nossos maridos. Pensa: eles não bebem muito, não batem na gente, não trazem mulher para casa e ainda por cima ajudam a pagar as contas. Quer mais o quê?
A maioria das mulheres não sabe como isso é importante. Se queremos e precisamos tanto ser felizes, temos que aprender a baixar o nosso grau de exigência. Não existe aquele homem eternamente apaixonado, maravilhoso, o galã da novela, o príncipe da história. Existem os nossos maridos-meninos, esses que ficam ao nosso lado, que cuidam dos filhos conosco, que chegam cansados em casa como nós e que também são confusos sobre o que é um casamento. Eles não são príncipes.
Mas a gente também não é lá muuuito princesa...
Contei isso para as duas conhecidas. Tomara que elas pensem nisso antes de berrarem histéricas como eu tantas vezes fiz quando o Zé chegou tarde em casa.
Aliás. Estou escrevendo aqui, são nove e meia da noite e... caramba, cadê o Zé?

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