terça-feira, 21 de fevereiro de 2006

a coleira e a dona



É uma prima muito engraçada, que na época morava fora do Brasil. Como trabalhava em casa, ficava muito tempo sozinha. Perto da sua casa havia uma loja de animais, e, de tanto passar em frente, se apaixonou por um filhote que ficava na vitrine. Um certo dia, entrou e comprou.
- Que é isso? – perguntou o marido, ao ver aquele filhote rodando a casa.
- Um cachorro. Ou melhor, uma cachorrinha – ela disse, acariciando o bichinho – Não é linda?
- Vamos ter um cachorro aqui em casa? - Ele perguntou, pasmo.
- Já temos - ela declarou, animada - Você não liga, né?
Bom, a minha prima morava numa casa tipo estúdio, com um pé direito enorme. O local era extremamente silencioso, e foi exatamente por esse motivo que ela queria ter a companhia da cachorrinha.
Mas logo no primeiro dia ela notou uma coisa estranha. A cachorrinha latia. E latia muito. No começo ela achou que era implicância, que a cachorrinha estava apenas estranhando a casa. Porém o tempo passava, a cada dia a cachorra latia mais e os latidos eram cada vez mais estridentes. E, sinceramente, em algumas horas ela confessa que tinha vontade de... jogar a cachorrinha pela janela.
- Afe, ela late muuuito – ela desabafou com o marido - Eu não agüento mais!
- Foi você que inventou – deu de ombros o marido.
- Mas ela é tão bonitinha – disse minha prima , tristonha – Será que não tem um jeito dela parar de latir?
No dia seguinte, voltou à loja onde tinha comprado a cachorra. Fuçou aqui e ali e descobriu um produto que resolveria a questão: uma coleira anti-latidos.
- É o seguinte – explicou o vendedor – Você coloca no cão. A coleira tem um botão de liga e desliga. Se você liga, quando ele late, leva um pequeno choque. Não dói, mas assim ele vai associando e aprendendo. Depois de um tempo, basta colocar a coleira desligada que ele não late mais.
Ela hesitou.
- Tem certeza que não dói? – ela perguntou, desconfiada.
- Não dói – garantiu o rapaz.
Levou a coleira para casa ressabiada. Será que aquilo era certo? Ora, o vendedor falou que a coleira anti-latidos vendia muito, então não devia ser maldade. Olhou para a cachorrinha. Dava pena de pensar em maltratar aquela coisinha tão fofa.
Mostrou ao marido.
- Que acha?
- A maior maldade do mundo. Que horror.
- Pára com isso. Não é você que tem que trabalhar e ouve esses latidos fininhos o dia todo – ela argumentou.
- Mas para quê você comprou a cachorra? Para torturar a coitadinha?
- Não exagera. É só um modo de ensinar.
- Sei não.
Mas ela não teve coragem. E se doesse? E se cachorrinha tivesse um ataque e desmaiasse? Foi adiando, adiando, até um domingo, quando a cachorrinha começou a latir logo de manhã. Ela e o marido se afundaram nos travesseiros, tentando abafar o som. Era realmente insuportável. Uma hora ela não agüentou.
- Pode falar o que quiser, que eu vou colocar a coleira nela agora. Não agüento mais.
- Eu também não agüento – falou o marido – Mas confesso que tenho medo de machucar e...
Foi quando ela, num ato de desespero, resolveu fazer aquilo. Ela sabia que era uma idiotice, mas nas horas de desespero a gente é capaz das coisas mais absurdas do mundo. Foi quando ela declarou ao marido que, então, eles deveriam testar.
- Testar?
- Ora, para ver se dói. Se machuca.
- Você está querendo dizer que.
- Sim. Estou querendo dizer que vou fazer isso primeiro em mim. Não quero viver com culpa. Me arrepender depois.
E assim a minha prima, com a ajuda do marido, colocou a coleira da cachorra em seu pescoço. Pigarreou. Ligou a coleira. E, diante da cara boquiaberta do marido, latiu bem alto.
Engraçada essa prima.
Bom, ela conta que, depois que latiu, a coleira realmente deu um choque nela. Era um choque pequeno, mas incomodava. Mas o que aconteceu dali pra diante foi outra coisa. É que o marido, olhando para a esposa de coleira latindo na cama, percebeu o absurdo da cena e começou a rir. E por causa dele, ela, obviamente, começou a ter um acesso de riso maior ainda. E quanto mais ela ria, mais choques ela tomava, e mais gritava, e mais choques tomava, e assim ficou, berrando, rindo e tomando choques até ser salva pelo marido, diante dos olhares boquiabertos da cadela, nessa hora completamente... muda.
Depois disso tudo, ela desistiu da coleira. Segundo ela, não dói, mas era uma sensação muito estranha.
E a cachorrinha?
Ela conta que ela late feito uma condenada até hoje.
- Um horror, mas fazer o quê? Cachorro não tem botão de liga e desliga, né?

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