terça-feira, 17 de janeiro de 2006

a saladinha



Tenho que falar sobre essa maldita saladinha. Sabia que um dia eu não ia agüentar (de fome) e teria que abordar esse assunto. É que volta e meia aparece aquela oportunidade da jantar num restaurante bárbaro, de algum chefe de cozinha famoso.
— O que a senhora vai querer?
— Deixe-me ver.
Eu olho e desejo absolutamente tudo que tem ali. Mas alguma coisa inexplicável me faz dizer, na maior cara de pau:
— Estou tão sem fome hoje... Vou querer só uma saladinha.
Bom, dali a pouco ela aparece. A salada mais sem graça e sem gosto desse mundo, e, de tão “leve”, quase que voa se bater um vento.
Sabe, é muito sofrimento. Tenho vontade de chorar quando vejo essa cena. Alguém me explica porque é que a gente, mulher, mesmo varada de fome, pede essas saladinhas ridículas?
Quer saber? Tem dias que eu odeio saladinha.
Talvez seja por causa das saladinhas que os cardápios dos restaurantes são tão grandes de tamanho. Não de quantidade, tamnaho mesmo. Quando abertos são verdadeiros biombos. Será que existe outra vantagem num cardápio gigantesco além de esconder a cara desesperada de fome de uma mulher? É claro que é para você chorar, calada, ali. Ou até falar um palavrão baixinho, o que não é má idéia.
Deve ter sido grande o número de desmaios de mulheres esfomeadas em restaurantes, pois as saladinhas estão aumentando de tamanho. Semana passada comi uma que parecia uma piada. Imagina achar que aquilo era “leve”. Tinha um frango inteiro desfiado, uma montanha de pão torrado, uma dúzia de ovo de codorna, um quilo de queijo prato ralado, uma floresta de alface. Mas ainda era chamada de... saladinha.
No inverno trocamos pelas sopinhas. “Só vou comer uma sopinha”, falamos umas às outras. E quando ela chega, entupimos de queijo ralado e soterramos de pão. Não deve adiantar nada. Aquilo deve equivaler a mais de cinco sanduíches, se secarmos a água. E porque usamos esses diminutivos, saladinha, sopinha? Será que é para parecer que comemos a comidinha da Barbie?
Na hora de beber é a mesma coisa. Tudo que é bom engorda, gente. Sobra o tal do suco de laranja, que sabe-se lá quem inventou que deve ser tomado sem gelo e sem açúcar.
— Garçom!
— Senhora.
— Dá pra não por laranja também? É que sou mulher, e como você sabe, não posso tomar nada. Quer saber mais? Coloca veneno. Tira a laranja e põe veneno de rato, garçom. Qualquer coisa é melhor que passar a noite tomando suco quente e azedo, o senhor não acha?
Olha, mulheres do mundo. Por mais que eu pense, não vejo saída. Estamos fadadas a seguir esse regime infinito em prol da beleza, do corpo perfeito. E não há nenhuma fórmula secreta para não engordar.
O negócio é não comer na-da.
Mas, shiu. Vou contar aqui uma teoria minha. Acho que a coisa que mais engorda é o próprio regime. Veja só: quando fazemos regime pensamos em comida o dia inteiro: “hum, vou comer só um brigadeiro agora. Na hora do jantar como só um bifinho”. Ou “agora como essa coxinha, mas amanhã só vou tomar um suquinho de abacaxi”. Bem, só pensar em comida dá a maior fome. Quer fazer regime? Esquece dele. Regime engorda. Demais. Assim chego a uma conclusão fantástica: se regimes engordam e as saladinhas são o prato principal dos regimes, será que a coisa que mais engorda neste mundo não é a nossa... saladinha?

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