Olha, depois do final da crônica de ontem parecia que eu ia viajar, né?
Que nada.
Fico por aqui, derretendo nesse calor de São Paulo.
Olha, os cariocas, baianos e nortistas que me perdoem, mas São Paulo é a cidade mais quente do Brasil. Acho que é porque ninguém põe fé no calor paulistânico, nem nós, os moradores. Assim, nunca estamos apropriados à quentura da cidade. Nossas casas não têm ar condicionado, nossos carros idem, nossas roupas são mais fechadas, usamos meias, não ficamos de maiô, a cidade não tem nem por onde o vento circular. Acho que a gente não acredita no calor. E quando ele vem, pega de surpresa.
Sexta passada eu estava assando aqui. Eu trabalho em casa e janela da sala onde fica o meu escritório recebe sol a tarde toda. É um tipo de forno tropical. Tem dias que me sinto um... um... bacon.
Já tentei sombrear a janela de diversas maneiras. Comecei colocando uma cortina, mas ficava muito abafado. Troquei a cortina por uma persiana que me permite direcionar a luz e ventilar, mas não posso mantê-la fechada o tempo todo e o sol acaba entrando. O ideal seria fazer uma pérgula no jardinzinho que tem lá fora, mas é caro demais. Anos atrás tive a idéia de plantar uma árvore no tal jardinzinho. Ela faria uma sombra natural.
- A senhora não pode plantar uma árvore muito grande por causa das raízes – explicou o jardineiro – O espaço é pequeno e perto demais da casa e do muro.
Oquei. Ele plantou uma arvorezinha menor, mas ela já está aqui há cinco anos e nada de sombra. Acredito que nem árvore é: parece um arbusto e é menor que eu.
Ano passado, cansada de esperar essa árvore crescer, resolvi plantar uma trepadeira na janela. Ela se enroscaria nas grades e eu teria uma bela sombra aqui dentro.
- Lágrimas de Cristo – resolveu o jardineiro – Além de sombra, ela dá flor, dona Lúcia.
Achei ótimo. As tais Lágrimas de Cristo cresceram rápido, tomaram conta da janela toda e... infestaram o escritório de pernilongos.
Céus.
Além disso, meu escritório ficou esquisito, escuro, parecendo mal assombrado. Não sei, tinha algo de “Jumanji” naquilo, resolvi tirar rapidinho.
E porque não colocar um ar condicionado? É caro, mas eu poderia pagar em vezes, pensei outro dia. Bem, só pensei. É que eu sou mãe, e tem a culpa. Imagina, só eu na casa com ar condicionado? Mães em geral são assim, sempre as últimas a ter as coisas, é uma coisa ancestral essa de sofrer um tanto. Impossível eu ter um ar condicionado antes de todo mundo: eu teria que colocar primeiro no quarto dos três filhos, depois na sala e só depois aqui. Não, não. Ia sair muito caro aquele ventinho gelado.
Resolvi aguentar assim mesmo, não me mexer e nem falar muito. É, gente, essa é uma teoria que tenho desde pequena. Quando se trata dessas sensações incômodas, frio, calor, fome, cansaço, acredito que o ideal é não se mexer e não falar na coisa. Acho que quanto mais se comenta, mais se fala ou mais se reclama, mais a coisa piora. O ideal é ficar caladinha e deixar a coisa quieta. Basta olhar os gatos, os cães, as plantas no sol. Tudo parado.
Assim, tenho passado meus verões aqui derretendo, sem me mexer e falando o mínimo possível. Como se eu fosse um... um... jacaré no meio do pantanal ou um cacto do deserto.
Na semana passada apareceu um engenheiro para fazer uma reunião.
- Entre – disse a ele – Quer um café?
- Quero – ele respondeu, olhando ao redor - Lúcia, mas que calor é esse? Como você agüenta?
Suspirei, e, sem me mexer, expliquei. A árvore, a pérgula, a trepadeira, a persiana, a teoria da hibernação dos jacarés, os cactos, a culpa das mães. E conclui teorizando.
- Não acha que os computadores deveriam ter ar condicionado embutido para refrescar a pessoa que usa? – brinquei - Ninguém pensa no conforto de quem está do lado de cá da virtualidade.
- Não delira, Lúcia... – ele me disse, suando – Mas pense, você tem iPod, webcam, câmera, micro, blog, caramba a quatro e não tem um reles... ventilador? Compra um ventilador, pô! Tão fácil, baratinho. E depois que você refrescar bem a cuca você pensa uma teoria melhor sobre a os computadores e o condicionamento dos usuários.
Olhei para ele.
Nossa. Um ventilador. Como não pensei nisso antes?
Bom, comprei. Aqui está “ele”, e como é fantástico ter um reles... ventilador. Ele não tem memória nenhuma, nem nenhum giga e é todo feito de plástico.
Assim, tenho passado meus verões aqui derretendo, sem me mexer e falando o mínimo possível. Como se eu fosse um... um... jacaré no meio do pantanal ou um cacto do deserto.
Na semana passada apareceu um engenheiro para fazer uma reunião.
- Entre – disse a ele – Quer um café?
- Quero – ele respondeu, olhando ao redor - Lúcia, mas que calor é esse? Como você agüenta?
Suspirei, e, sem me mexer, expliquei. A árvore, a pérgula, a trepadeira, a persiana, a teoria da hibernação dos jacarés, os cactos, a culpa das mães. E conclui teorizando.
- Não acha que os computadores deveriam ter ar condicionado embutido para refrescar a pessoa que usa? – brinquei - Ninguém pensa no conforto de quem está do lado de cá da virtualidade.
- Não delira, Lúcia... – ele me disse, suando – Mas pense, você tem iPod, webcam, câmera, micro, blog, caramba a quatro e não tem um reles... ventilador? Compra um ventilador, pô! Tão fácil, baratinho. E depois que você refrescar bem a cuca você pensa uma teoria melhor sobre a os computadores e o condicionamento dos usuários.
Olhei para ele.
Nossa. Um ventilador. Como não pensei nisso antes?
Bom, comprei. Aqui está “ele”, e como é fantástico ter um reles... ventilador. Ele não tem memória nenhuma, nem nenhum giga e é todo feito de plástico.
Mas venta tão forte...
Como não pensei nisso antes?
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