terça-feira, 6 de dezembro de 2005

relações perigosas


Começou há alguns meses. O meu filho menor, o João, ficou mais alto que eu. Desde então eu estou encolhendo a cada dia. Na verdade, adoraria estar encolhendo na largura, mas infelizmente é apenas na altura.
Sensação pra lá de estranha essa de ter filhos maiores e filhas mais peitudas que você. É uma relação física, que, queiramos ou não, influi no modo de educar ou cuidar. Acho que é a natureza e os nossos instintos em ação. Devo estar vivendo um momento histórico na minha vida de mãe.
Essa coisa da relação é muito engraçada. Lembrei de uma sensação que eu e o Zé tivemos, uma vez, numa estrada com um carro que não andava nada.
Foi assim. Na época tínhamos filhos muito pequenos e nossa vida era completamente atrapalhada. O Zé recebeu parte de um pagamento de um trabalho em um carro. Era uma Towner, uma espécie de perua Kombi mais fina e estranha, um carro engraçado mas enorme por dentro. Achamos aquele carro ótimo para nossa família tão cheia de filhos e tralhas e resolvemos viajar com ele antes de vender. Bem, aquele carro normalmente andava muito devagar, carregado então, não andava nada. Com o veículo cheio de crianças, carrinhos de bebê, malas, sogra e comidas, estávamos a ... sei lá, acho que a uns quarenta quilômetros por hora, no máximo.
- Puxa... esse carro anda devagar, não é, Zé? – arrisquei.
- Devagar? Ouça! – ele desabafou, mostrando os zumbidos dos carros que nos ultrapassavam como se fossem foguetes ultrassônicos – Olha para isso! Tenho a nítida impressão que estou de marcha ré, voltando para São Paulo!
É a mesma coisa. Embora eu não esteja encolhendo, parece que estou de marcha ré diante dos meus filhos. Encolhendo! Além disso, uma mãe de adolescentes sofre de outro tipo de críticas.
- Nossa, mãe, você está muito horrível hoje.
- Mãe, teu cabelo está nojento, tua cara está péssima e essa roupa está muito tosca.
- Mãe, dá pra você não falar nada hoje na frente dos meus amigos? E nem contar seus casos?
Dizem que isso faz parte do crescimento. Que um adolescente precisa acabar com a imagem do pai e da mãe para sobreviver, que é um modo deles se auto-afirmaresm, blá, blá, blá. Mas e os pais, como ficam nisso? Eu acho que logo logo vou precisar de terapia, pois minha auto-estima está lá nas cucuias. Por causa dessa convivência, além de encolhida, ando me sentindo velha, feia, tosca e horrorosa.
Pensei muito. Acho que a única solução é arrumar uma turma de septuagenário ou octogenários. Numa turma dessas eu me sentiria a maior... lolita. Isso seria uma verdadeira delícia: para um senhor de oitenta, uma mulher da minha idade vai parecer muito, mas muito menina. Fico até imaginando a cena, que coisa mais boa.
- O quê? Você nasceu na década de sessenta? Hahaha! Como pode, muito jovem! – dirá um dos meus novos amigos.
- Quantos anos você tinha na época da Tropicália? Não viu os festivais? Nossa, que menina! – falará outro.
- E que saúde! Rapazes, ela não tem nada, nem reumatismo, nem gota, nem safena! – arrematará mais outro, me deixando com um enorme sorriso de satisfação no rosto.
Contei minhas teorias para o Zé.
- Hã? Temos que arrumar uma turma de... octuagenários? – ele se espantou.
- É, Zé! Isso! É que tudo é uma questão de relação. Em relação aos adolescentes, somos uns velhos, mas em relação a essa turma de coroas, seremos novinhos! Olha, eu prefiro ser novinha, sabia? E olha... Se eu notar que, algum dia, você está se engraçando com alguma mocinha de vinte, Zé, eu arrumo loguinho uma turma coroas bacanérrimos de sessenta ou setenta. A diferença é a mesma! Mesmíssima, você vai ver!

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