quarta-feira, 21 de dezembro de 2005

FRANKA MENTE de novo



Ontem passei em frente ao Shopping Higienópolis, aqui em São Paulo, e dei de cara com um shopping coberto de luzinhas, com as árvores cobertas de luzinhas, com as ruas cobertas de luzinhas, os postes, os prédios vizinhos cobertos de luzinhas, o quarteirão todo coberto de luzinhas. Eu não sabia o que olhar primeiro. Não reconheci nada, logo eu, que já morei cinco anos naquele bairro. Nunca vi um natal com tantas luzes de natal. Impossível não reparar nelas.
Coisa estranha. Nem soube dizer, numa primeira instância, se aquilo era bonito ou feio. Aliás, sei. Achei bonito, como uma criança que olha um coisa que brilha pela primeira vez. Existem coisas no mundo, como rostos de bebês, cachorrinhos pequenos e luzinhas de natal que são sempre cativantes. Uma vez eu li que esse sentimento de “fofura” vem dos gens dos ancestrais por algum motivo relativo à preservação da espécie.
As luzes de natal, de uns anos para cá, passaram a contornar prédios, árvores, canteiros, postes. E no escuro criam outros espaços, imaginários, que não vemos de dia. Hoje em dia muitas árvores de natal são feitas somente de luzes, invisíveis de dia.
Ontem também vi na tv que, em algum lugar do nordeste, existe uma porcissão de barcos com luzes de natal. A coisa era fantástica, aquele monte de barcos a vela iluminados no horizonte. Mas quando a câmera se aproximou, notei. Epa. Não eram todos a vela. Um deles era uma lanchinha com uma vela “falsa”, de luzinhas.
Foi quando eu entendi. As luzes de natal recriam novos espaços com seus contornos. Olha que coisa fantástica. Elas contam outra história, ficcionam, inventam, selecionam partes de um espaço para que vejamos somente o que interessa, o que é bonito, o que é natal.
Mais mentira, impossível.
Pura literatura, as luzes de natal.
Isso vem a calhar essa semana, quando participei de uma polêmica no blog do Ivam. O Ivam é meu amigo, ator de teatro e escritor. Tem um blog muito bacana, chamado Terras de Cabral, onde coloca seus textos, trechos de peças, desejos, memórias. Pois bem, como o Ivam sempre fala em primeira pessoa, ele contou que vem recebido muitas críticas de gente assustadíssima com uma certa ‘pornografia’ do blog, gente que, segundo ele, reprova a atitude dele de escrever o que bem entende. Teve gente que disseque o blog dele era pornográfico, nervoso, exagerado.
Tive vontade de rir. Um blog, pornográfico? Exagerado?
Ora, todos são, sempre!
Blogs são sempre textos. E textos são ficção, são palavras deliciosamente inventadas, criadas e selecionadas por quem digita. Nunca li um blog achando que aquilo é verdade ou que é o diário intimo de alguém. Blogs são literatura, ou tentativas de chegar a isso. Queiramos ou não, são irreais e devem ser encarados assim. Mentimos, inventamos e criamos aqui. Essa é a mágica.
Acho que os blogs são como as luzinhas de natal. Selecionamos somente o que é bonito, o que queremos contar e recriamos uma nova vida.
Uma vida que brilha como brilha com nossas luzinhas.
Esse post é para dar uma força pro Ivam. Para ele se iluminar ainda mais, se tornar mais brilhante, lindo e pornográfico, se esse for o caminho para evitar a mediocridade e a hipocrisia.
E para quem ainda se impressiona, eu já disse, blogueiros mentem, escritores mentem.
Até franka mente.

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