Ontem a noite começou a chover. Muito. Daquelas chuvas que, quando você pensa que está acabando, está na verdade apenas começando.
De repente, um barulho.
Drummm drummm drummm.
Acho que estourou algum transformador em algum canto aqui por perto e pimba.
Apagou a luz da casa toda.
Tá vendo essa linha em branco ai em cima? Uma linha branca num texto é como acabar a luz de uma casa de repente. Não há o que fazer nessas horas. Dá um branco preto. Acho uma loucura o que acontece quando acaba a luz com as pessoas como eu, que vivo completamente ligada na tomada. Pelo menos 90% das coisas que eu e minha família fazemos toda noite depende de energia. A gente faz tudo errado - ligamos um monte de TVs, aparelhos eletrônicos e computadores. Acabar a luz, para nós, é como ser subitamente teletransportado para outro planeta, onde nós nos sentimos uns ETs pré-históricos.
Tem umas coisas engraçadas. Primeiro que ninguém sabe onde o outro está e isso parece um problema terrível. Acho que sem luz a a gente fica meio burro, só pode ser isso, pois basta acabar a luz que aqui em casa todo mundo começa a chamar o nome do outro aos berros, como se a pessoa sumisse junto com a claridade.
Eu sou a primeira a fazer isso, feito uma desesperada.
- Ai. Cabou a luz. Naniii! Onde você está, Naninha?
- Joããão. Tá me ouvindo?
- Chico. Chicoooooo! Tá ai em cima? Alô!
Lembrei de uma empregada que tive uma vez. Acabou a energia da casa no meio da tarde. Eu cheguei a noitinha e dei de cara com ela na sala. Ela tinha acendido umas velas e estava brincando com as crianças.
- Oi Cida, tudo bem? Os meninos já jantaram?
- Não senhora.
- Já tomaram banho?
- Não senhora.
- Ai. Cabou a luz. Naniii! Onde você está, Naninha?
- Joããão. Tá me ouvindo?
- Chico. Chicoooooo! Tá ai em cima? Alô!
Lembrei de uma empregada que tive uma vez. Acabou a energia da casa no meio da tarde. Eu cheguei a noitinha e dei de cara com ela na sala. Ela tinha acendido umas velas e estava brincando com as crianças.
- Oi Cida, tudo bem? Os meninos já jantaram?
- Não senhora.
- Já tomaram banho?
- Não senhora.
Olhei ao redor. A maior bagunça.
- Cida. Você não arrumou a casa? Nem fez jantar, nem lavou a louça do almoço?
- Não senhora. Não tem luz, né? Num dá.
Ela achava que, como não tinha luz, não existia gás, nem água nem telefone. E assim ela passou a tarde toda sem fazer nada. Nadinha.
Ontem a escuridão nos pegou no meio do jantar. Por um instante eu fiquei atrapalhada igual a Cida. Será que eu continuava comendo, mesmo sem luz? Podia?
É estranho viver sem luz. É como se desligassem parte da minha vida e você começasse a viver outra vida, dimensionada na escala da velinha. Aliás, quer coisa mais deliciosa que ficar a noite toda envolta em velas?
- Cida. Você não arrumou a casa? Nem fez jantar, nem lavou a louça do almoço?
- Não senhora. Não tem luz, né? Num dá.
Ela achava que, como não tinha luz, não existia gás, nem água nem telefone. E assim ela passou a tarde toda sem fazer nada. Nadinha.
Ontem a escuridão nos pegou no meio do jantar. Por um instante eu fiquei atrapalhada igual a Cida. Será que eu continuava comendo, mesmo sem luz? Podia?
É estranho viver sem luz. É como se desligassem parte da minha vida e você começasse a viver outra vida, dimensionada na escala da velinha. Aliás, quer coisa mais deliciosa que ficar a noite toda envolta em velas?
O único problema é que, sem luz, neca de crônica. O "frankamente..." é escrito no início da noite, e não funciona a pilha ou manivela, infelizmente.
Então fica aqui apenas esse relato mal iluminado e rapidamente escrito... a luz do dia.
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