Ontem eu falei sobre as nossas carências e as possibilidades. Meio que sem querer, inventei uma teoria onde, quando não sabemos que existe uma coisa, não queremos a coisa. Depois que existe a possibilidade, desejamos. Por isso as pessoas numa sociedade de consumo como a nossa são tão mais carentes que a turma de amigos da minha avó em 1940: porque hoje em dia a oferta de possibilidades é imensa.
Esse é um grande assunto. E pensem. Quando não pensamos na possibilidade, não queremos nada. É como se ela não existisse.
Como são felizes as pessoas que não sabem de nada.
É mais ou menos como o seguinte. Eu escrevo porque gosto muito de escrever. Escrevo desde pequena, adolescente, jovem. Escrevo também porque preciso colocar para fora as histórias e idéias. Se eu não colocar para fora escrevendo, explodirei de outro modo. Acredito que é preciso desaguar idéias velhas para surgirem mais idéias novas. Quem já foi mãe vai entender minha comparação: é preciso amamentar o filho para ter mais leite. Se você não amamenta, o leite empedra, você passa mal.
Acho que é isso, só que no meu caso o leite é crônica. E sinto informar a todos que isso aqui é um enorme processo de amamentação. Engraçado isso que eu escrevi.
Sempre vivi muito bem nesse ciclo: escrever, desaguar e andar para frente escrevendo mais ainda. É uma coisa necessária que faz parte da minha vida diária. Ninguém me manda fazer isso, ninguém me obriga a escrever.
Mas um dia alguém sugeriu.
- Nossa, Lúcia. Quanto texto. Você precisa publicar.
Eu nunca tinha pensado nisso. Publicar?
Bom, nesse instante publicar virou uma possibilidade. As possibilidades sempre são vendidas com estrelinhas brilhantes, lotadas de mágicas e encantamentos. Comecei a sonhar. Publicar. Logo me vi numa badalada noite de autógrafos na livraria Cultura, eu de preto, abafando. Fui mais fundo. Na fila dos autógrafos, muitos famosos aguardavam, e eu ali com minha "bic" para dar um toque ‘blasé’. Depois me imaginei dando entrevistas para jornais e revistas, logo em seguida pensei numa coluna no Estadão. Ora, Jabor, Marcelo Paiva, Inácio de Loyola, Veríssimo, Ubaldo, Daniel Piza e eu, por que não? Depois o cinema e o teatro. Já li na manchete do jornal: “nova revelação na dramaturgia nacional: peça inédita de lúcia carvalho, com Antônio Fagundes”. Nessa hora eu já estava gargalhando de satisfação, no auge do sonho da possibilidade. Depois, ainda pensei num romance. Um romance sempre demora um pouco para ser escrito, é o ápice. E depois...
E depois o quê, cara pálida?
Bom, depois de pensar tudo isso, olhei ao redor. Eu, minha mesinha, meu computador, o “frankamente...”, minhas crônicas diárias, minha peças de teatro que nunca foram além do espiral e do xerox e...
Ai que ódio, tudo me pareceu tão reles e mixuruco que me senti um verme. Imediatamente me deu uma depressão profunda. Eu deveria tomar uma atitude urgente, como eu nunca pensei em algo maior e mais produtivo, como uma publicação? Como eu pude viver assim até agora?
Pimba. Fiquei carente.
Isso tudo é para provar como são perigosas as possibilidades. Tenho pavor de entrar tão a fundo no mundo criado pela minha própria imaginação, onde a realidade se confunde com a ficção. É perigoso, é irreal. Temos que gostar das nossas vidas, nos bastar no que nos dá prazer. Se você sobre no octuagésimo andar de um prédio, você não distingue as pessoas que andam na rua. Isso dá vertigem. O quinto andar precisa bastar.
Depois de muito pensar, conclui algumas coisas. Eu não escrevo aqui para publicar nada. Muitos escritores não gostam de escrever em blogs porque “gastam” os textos. Eu não gasto, eu deságuo. Eu não faço um blog para que ele seja publicado, faço apenas para ele ser blog. Essa é a minha possibilidade e ela é real. Aliás, blogs são possibilidades em essência. São as profundezas das probabilidades, são as sementes delas. O tempo e a rapidez do post não permite que seja diferente.
Fazer um blog e desaguar todos os dias é como viver, trabalhar, escrever e fazer poesia. Não devemos querer mais que isso. Isso é legítimo, real, simples. Isso é a hora do extravasamento. Isso basta.
Só esse nome, que, Deus me livre, é muito feio.
Blog.
Blog deveria se chamar Artur. Cláudio. Roberto. Ou Pedro. Tanto nome masculino bonito, tanta possibilidade, e colocam esse nome tão feio no lugar virtual.
Isso tudo é para provar como são perigosas as possibilidades. Tenho pavor de entrar tão a fundo no mundo criado pela minha própria imaginação, onde a realidade se confunde com a ficção. É perigoso, é irreal. Temos que gostar das nossas vidas, nos bastar no que nos dá prazer. Se você sobre no octuagésimo andar de um prédio, você não distingue as pessoas que andam na rua. Isso dá vertigem. O quinto andar precisa bastar.
Depois de muito pensar, conclui algumas coisas. Eu não escrevo aqui para publicar nada. Muitos escritores não gostam de escrever em blogs porque “gastam” os textos. Eu não gasto, eu deságuo. Eu não faço um blog para que ele seja publicado, faço apenas para ele ser blog. Essa é a minha possibilidade e ela é real. Aliás, blogs são possibilidades em essência. São as profundezas das probabilidades, são as sementes delas. O tempo e a rapidez do post não permite que seja diferente.
Fazer um blog e desaguar todos os dias é como viver, trabalhar, escrever e fazer poesia. Não devemos querer mais que isso. Isso é legítimo, real, simples. Isso é a hora do extravasamento. Isso basta.
Só esse nome, que, Deus me livre, é muito feio.
Blog.
Blog deveria se chamar Artur. Cláudio. Roberto. Ou Pedro. Tanto nome masculino bonito, tanta possibilidade, e colocam esse nome tão feio no lugar virtual.
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