Nós, mulheres, morremos de vontade de casar.
Passamos a adolescência com medo de ficar solteironas, temos pavor de encalhar, atravessamos dias, noites e madrugadas da juventude pensando em homens, moços, meninos, rapazes, coroas, humanos do sexo masculino.
Um dia, afinal, casamos.
E depois, só reclamamos.
Não é que é ruim ser casada, nada disso. Eu só queria entender é porque o casamento, a coisa que mais queremos durante a juventude, dá tanto tédio nas mulheres depois de uns poucos anos. Acho que para nosso cérebro, que passou anos e anos tentando conquistar um homem atrás do outro, mudar de idéia de repente deve ser esquisito. É como quando descemos de um barco que sacode por causas das ondas – mesmo em terra firme a cabeça ainda balança por um bom tempo.
Os casamentos inutilizam os miolos responsáveis pela sedução? A monotonia da vida de casada que cria monstros carentes? Sei que vão me achar exagerada, mas acho que na verdade as mulheres casadas vivem num tipo de limbo. Quando somos mocinhas, nos ensinam a ser sempre lindas para seduzir e encantar. Depois de casadas, temos que continuar lindas, mas não podemos seduzir ou encantar ninguém, em hipótese alguma, pois afinal de contas, você é uma mulher casada, ora.
Coisa mais maluca.
Olha, na minha estrambótica opinião, talvez os casamentos devessem durar, no máximo, cinco anos. E pela lei, depois desse tempo você seria obrigada a se separar do seu marido. Se fosse assim, tenho certeza que muitas mulheres implorariam ao juiz, de joelhos. Tudo que é proibido tem um gosto melhor.
- Me deixa ficar com ele, senhor juiz, eu amo esse homem.
Não existem muitos romances nas nossas vidas, essa é questão. Precisamos dessas proibições para amar. Um verdadeiro romance é carregado, denso, arrastado. Durante nossas existências cabem muitas crônicas, muitas poesias, alguns contos e, se as condições climáticas forem favoráveis, uns poucos romances.
O que eu noto é que, muitas vezes, não são desses romances que saem os casamentos. É como se, inconscientemente, quiséssemos deixá-los intocáveis, puros, para que pudéssemos vivê-los em sonhos, em fantasias. É como se nossa natureza precisasse dos amores não solidificados, para poder usufruir da beleza da solidão. Dos nossos romances ficam histórias que contamos em segredo para as amigas no final da noite, fica a melancolia dos dias tristes, fica a lágrima de não ser reconhecida, fica a saudade depois de beber um pouco a mais. Em algum lugar lá no fundo sabemos que a união vulgariza a mágica de uma verdadeira paixão. O futuro do presente, quando vivido intensamente, enterra os sonhos. O bonito está nas coisas que não acabam nunca.
No final das contas, precisamos do tempo verbal do impossível. A mágica de um romance é o futuro do pretérito.
Eu gostaria.
Eu desejaria.
Eu me entregaria para sempre.
Ahá. Eu, hein? E quem eu para resolver esse enrosco mundial?
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