sábado, 10 de setembro de 2005

o carrinho do supermercado I



Ontem a Márcia e o Pecus falaram sobre carrinhos de supermercado. Como eu faço supermercado todos os sábados para abastecer a casa, tenho milhões de teorias.
Só nesse supermercado aqui ao lado eu já devo ter ido mais de 350 vezes. Um dia vou medir o quantos quilômetros já percorri entre as gôndolas.
Mas essa não é a questão. O que eu quero falar é sobre o carrinho.
A regra é a seguinte. Pegamos um carrinho na entrada, colocamos dentro dele tudo que precisamos, paramos diante do caixa, pagamos, colocamos tudo embalado em outro carrinho e levamos para as nossas casas. Quando temos que adquirir poucos itens a coisa é fácil, mas quando a intenção é abastecer uma casa por mais de uma semana é outro negócio.
É preciso or-ga-ni-za-ção. Se você não planejar direito, não cabe tudo num carrinho só. Quando percebo que comi bola, organizei mal e que terei que pegar outro, me dá a maior raiva. É como se eu falhasse na minha missão semanal.
Acho que é uma coisa feminina e ancestral. Organizar bem um carrinho, para a gente, significa ter as coisas em ordem, uma casa funcionando, uma vida estabelecida. Espelhamos nosso mundo naquele recipiente com rodinhas. É maravilhoso conseguir dar conta de tudo ali, carregar as carnes, as bebidas, o papel higiênico, os produtos de limpeza, a comida do cachorro sem nos atrapalharmos. Na nossa vida de mães, de profissionais, de donas de casa, de amigas, de filhas, de executivas, de esposas e até de blogueiras também não podemos também misturar assuntos. Na hora que empurrar os carrinhos, inconscientemente, empurramos nossas vidas. É muito importante para nós, mulheres, provermos nossas casas com maestria.
Suprir, encher, preencher, cuidar, abastecer, não é esse o intuito? Mas o controle total da vida é difícil, nós, mulheres, nos damos funções demais. Temos que trabalhar, cuidar dos filhos, da empregada, ir ao banco, pagar contas, ir nas reuniões da escola, pegar trânsito, queremos caprichar, achamos que damos conta de tudo, mas sempre fica tudo mais ou menos e a gente um pouco frustrada.
Por isso que eu gosto do meu carrinho. Hehehe. Ali, naquele microcosmo, a coisa tem outra escala. É como se eu minimizasse a minha vida naquelas quatro rodinhas. Ali a minha cachorra tem sua ração, a minha família está alimentada e limpa, os nossos vícios estão mantidos e tudo está em paz. Supro todas as necessidades básicas, e, se eu conseguir fazer aquilo com organização, ah, estarei perdoada da bagunça das minha vida, da minha casa e do meu casamento. Afinal ali, no carrinho, tudo está em ordem, o sangue da carne não mancha a brancura do pão pullman, os produtos de limpeza estão no canto oposto e a bebida do Zé está garantida.
Afe.
Como eu me sinto eficiente num supermercado.
E estando tudo em ordem, posso sonhar. Escolher as melhores batatas, levar um vinho, comprar um bacalhau, pegar um shampoo diferente. Vai dizer que isso não é desenhar uma história? Não sei, eu sempre exagero, mas impossível não achar que aquele carrinho é meu passado e meu futuro.
Aliás, está na hora.
Lá vou eu carregar minha vida até o caixa.

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