Uma amiga resolveu dar uma festa de aniversário para a filha.
Cinco anos.
Vou contar esta história para vocês entenderem como somos nós, mães do mundo. Somos todas muito parecidas, complicadas, destrambelhadas. Não tem jeito, é tudo igual.
Ela conta que resolveu dar a festa no salão do prédio. Era mais fácil, ela queria simplificar e usar aquele espaço que nunca tinha usado.
Bom, o tal salão não tinha copa. Ou melhor, tinha, mas sem fogão, microondas ou geladeira, só uma piazinha. “Sem problemas”, resolveu, disposta enfrentar aquele pequeno percalço, “trago um isopor com gelo para as bebidas, copinhos, guardanapos, pratinhos descartáveis e a Odete me ajuda no vai e vem.” Também optou por só dois tipos de comida: sanduichinhos e pipocas, assim não precisaria esquentar nada. O bolo e os brigadeiros ficariam na mesa do salão e no fim da festa ela daria um cafezinho com biscoitos amanteigados para as mães.
Esquematizou. Os sanduíches e os amanteigados ficariam na copinha, a pipoca ela faria em casa e desceria com tudo pronto. Tudo fácil, e ela se achando organizadíssima.
A festa começou, chegou aquele monte de crianças, tias, avós, mães. Ela começou a ficar confusa, servindo sanduíches, refrigerantes, conversando com os convidados. Tirou o dedo de um menino do bolo. Falou para a filha sair do chão, olha o vestido novo. Reparou no marido sentado, bebendo cerveja. "Ah, se não sou eu...".
De repente, lembrou. Precisava falar com a empregada sobre as pipocas. Subiu correndo.
- Olha Odete, presta atenção: cada pacote de pipocas demora quatro minutos para ficar pronto. Vamos estourar 8 pacotes. Quatro vezes oito, trinta e dois, um tempo para tirar e pôr, vamos dizer... quarenta minutos – ela calculava rapidamente, falando alto - Faz o seguinte, Odete, estoura a metade, quatro sacos, vinte minutos, coloca nos saquinhos, desce com as pipocas nesta cesta; sobe, estoura o resto e põe a água do café; desce com o resto de pipocas, não põe muito sal hein?; sobe, espera uns quinze minutos, faz o café e coloca na nessa garrafona, entendeu? Desce com o café e me ajuda a servir com os amanteigados. Assim o café não fica frio. Preciso descer agora, o pessoal do teatrinho já deve ter chegado. Entendeu tudo?
- Entendisimsenhora.
Se ela tivesse olhado direito para a cara da empregada ela ia perceber. Claro que a moça não entendeu patavina daquela confusão de pipoca que subia e descia, aquela conta de oito vezes seiláoquê. A única coisa que a Odete entendeu era que tinha que fazer o café. “Fazer um café” é uma senha universal.
Passou uma hora, teatrinho acabando e nada da pipoca nem da Odete. Que acontecia? Saiu correndo, pegou o elevador.
- Odete, minha filha! Cadê as pipocas? – ela exclamou, berrando.
- Ainda não... eu estava... a hora... passou não... fiz o café... a senhora.
- O quê? Não é possível, Odete! Você não estourou nenhuma pipoca até agora?
- Não senhora... mas o café...
- Que café coisa nenhuma, você estragou toda festa! Acabou com a minha programação, ah, eu que sou tão organizada!
- Mas a senhora...
- Que adianta! E esse café que vai ficar gelado! Quem mandou fazer essa droga de café agora?
- A senhora.
- Humpf! Quer saber de uma coisa, Odete?
Ela estava totalmente descontrolada. Aquela festa, aquele monte de crianças, aquela descomplicação complicada, o salão sem copa, o elevador que demorava, as conversas inúteis das mães. Hahaha. Eu entendo direitinho essa mãe.
- Odete, quer saber duma coisa? - ela disse, berrando.
- Desculpa... mas o café eu fiz... a senhora...
- Odete, rua. Chega. Pode ir embora agora mesmo, você e o seu café! Estou te despedindo, ouviu bem? Arruma suas coisas agora!
E ela me conta que a pobre da Odete saiu da frente dela, quietinha, e foi arrumar as coisas. Foi embora mesmo, pobrezinha. Ela foi má? Nem pensou nisso. Imagina se durante uma festa infantil a gente pensa. As coisas têm que dar certo, só isso. Só no dia seguinte que vem o arrependimento. E nesse vazio da frustração da falta da pipoca e dos quarenta minutos perdidos, ela sentou no chão na cozinha e chorou.
Sem café. Sem pipoca. Sem empregada.
Eu entendo. É tudo tão terrível, que a única saída é tomar qualquer atitude, por mais cruel que seja. Sim, ela não foi sensata, mas dá para ser sensata em festas infantis? Pobre da Odete que virou, instantaneamente, o bode expiatório. Alguma coisa tinha que explodir. Já que não foram as pipocas, quem estourou foi a pobrezinha da Odete.
Bom. Ela conta que depois que a Odete saiu com a mala ela se levantou, limpou as lágrimas, pegou o café e desceu para o salão. Sorrindo, obviamente.
- Gente! Hora do parabéns!
E assim ela cantou, serviu o café, os malditos amanteigados, se despediu de todo mundo. Só o marido não entendeu nada quando ela contou que mandou a Odete embora.
- Mas por quê? Qual o motivo?
Ela deu de ombros.
- Por causa das pipocas... - ela olhou para a cara dele - Ah, esquece. Um dia eu te explico.
- Olha Odete, presta atenção: cada pacote de pipocas demora quatro minutos para ficar pronto. Vamos estourar 8 pacotes. Quatro vezes oito, trinta e dois, um tempo para tirar e pôr, vamos dizer... quarenta minutos – ela calculava rapidamente, falando alto - Faz o seguinte, Odete, estoura a metade, quatro sacos, vinte minutos, coloca nos saquinhos, desce com as pipocas nesta cesta; sobe, estoura o resto e põe a água do café; desce com o resto de pipocas, não põe muito sal hein?; sobe, espera uns quinze minutos, faz o café e coloca na nessa garrafona, entendeu? Desce com o café e me ajuda a servir com os amanteigados. Assim o café não fica frio. Preciso descer agora, o pessoal do teatrinho já deve ter chegado. Entendeu tudo?
- Entendisimsenhora.
Se ela tivesse olhado direito para a cara da empregada ela ia perceber. Claro que a moça não entendeu patavina daquela confusão de pipoca que subia e descia, aquela conta de oito vezes seiláoquê. A única coisa que a Odete entendeu era que tinha que fazer o café. “Fazer um café” é uma senha universal.
Passou uma hora, teatrinho acabando e nada da pipoca nem da Odete. Que acontecia? Saiu correndo, pegou o elevador.
- Odete, minha filha! Cadê as pipocas? – ela exclamou, berrando.
- Ainda não... eu estava... a hora... passou não... fiz o café... a senhora.
- O quê? Não é possível, Odete! Você não estourou nenhuma pipoca até agora?
- Não senhora... mas o café...
- Que café coisa nenhuma, você estragou toda festa! Acabou com a minha programação, ah, eu que sou tão organizada!
- Mas a senhora...
- Que adianta! E esse café que vai ficar gelado! Quem mandou fazer essa droga de café agora?
- A senhora.
- Humpf! Quer saber de uma coisa, Odete?
Ela estava totalmente descontrolada. Aquela festa, aquele monte de crianças, aquela descomplicação complicada, o salão sem copa, o elevador que demorava, as conversas inúteis das mães. Hahaha. Eu entendo direitinho essa mãe.
- Odete, quer saber duma coisa? - ela disse, berrando.
- Desculpa... mas o café eu fiz... a senhora...
- Odete, rua. Chega. Pode ir embora agora mesmo, você e o seu café! Estou te despedindo, ouviu bem? Arruma suas coisas agora!
E ela me conta que a pobre da Odete saiu da frente dela, quietinha, e foi arrumar as coisas. Foi embora mesmo, pobrezinha. Ela foi má? Nem pensou nisso. Imagina se durante uma festa infantil a gente pensa. As coisas têm que dar certo, só isso. Só no dia seguinte que vem o arrependimento. E nesse vazio da frustração da falta da pipoca e dos quarenta minutos perdidos, ela sentou no chão na cozinha e chorou.
Sem café. Sem pipoca. Sem empregada.
Eu entendo. É tudo tão terrível, que a única saída é tomar qualquer atitude, por mais cruel que seja. Sim, ela não foi sensata, mas dá para ser sensata em festas infantis? Pobre da Odete que virou, instantaneamente, o bode expiatório. Alguma coisa tinha que explodir. Já que não foram as pipocas, quem estourou foi a pobrezinha da Odete.
Bom. Ela conta que depois que a Odete saiu com a mala ela se levantou, limpou as lágrimas, pegou o café e desceu para o salão. Sorrindo, obviamente.
- Gente! Hora do parabéns!
E assim ela cantou, serviu o café, os malditos amanteigados, se despediu de todo mundo. Só o marido não entendeu nada quando ela contou que mandou a Odete embora.
- Mas por quê? Qual o motivo?
Ela deu de ombros.
- Por causa das pipocas... - ela olhou para a cara dele - Ah, esquece. Um dia eu te explico.
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