sexta-feira, 23 de setembro de 2005

as filas da diversão




Tudo tem limite. Fala a verdade.
Ontem eu falei dessa coisa ligeiramente paranóica de exercer a cidadania a qualquer custo. Comentei que não quis brigar com um engenheiro numa reunião, que não tenho paciência com atendentes de SAC, que não concordo com gente que exerce seus direitos a qualquer custo.
Acho que ficou parecendo que eu sou a maior boazinha, uma mulher super controlada, que está sempre no maior equilíbrio emocional, ponderando razoavelmente todas as situações antes de dar escândalo.
Ah, tá. Conta outra.
Olha. Adoraria, mas não sou essa monja. Tem coisas que me irritam profundamente, que me tiram do sério e que, por causa delas, já criei muito caso. São coisas que eu nem me arrisco mais a fazer de medo das minhas reações descontroladas.
Bom, uma das coisas que eu mais detesto e me recuso terminantemente a fazer é entrar em fila para me divertir ou para comer. De-tes-to fila de restaurante e cinema. Perco a paciência, não consigo conversar com a pessoa que está comigo, fico aflita, acho que tem gente passando na minha frente, brigo com a atendente, implico com a voz do maitre, tenho dor nas pernas, dou ataques, resmungo, ameaço sair dali e desistir de tudo, um vexame.
Agüento todas as outras filas, de banco, de compra de tickets, de INPS, de retirada de brindes, de pedágio, de inscrição de filho na fuvest, de vaga de emprego. Mas fila de restaurante, teatro ou cinema, dá licença, eu não consigo aturar.
Para mim, o ato de “se divertir” deve começar na hora que você sai de casa. Não consigo me divertir depois de passar por uma fila. Aliás, tem outra coisa. Já não consigo me divertir na hora que me lembro que estou pagando para ficar naquela fila para me divertir. Fila é martírio, gente. Se eu fico na fila, o meu inconsciente acha que o restaurante deveria me dar a comida de graça, o cinema deveria me pagar o ingresso, o teatro deveria me dar o melhor lugar. Afinal, eu sofri. Ficar em fila não é mole. Ainda mais se você está cansado e precisa se divertir.
Sempre foi assim. O Zé sabe disso, e, quando vamos jantar, temos que sair e ir a algum lugar sem fila. É a unica exigência que eu faço. Como essa cidade de São Paulo é lotada, poucas vezes vamos a lugares onde queremos. Podemos estar com a maior vontade de comer comida japonesa, mas se o restaurante da comida japonesa tem a mínima chance de ter fila, não vou de modo algum.
Questão de princípios. Como comida italiana, mas sem fila.
A gente acaba indo para restaurantes que nunca imaginou que fosse, daqueles às moscas, acaba vendo filmes bobos e ruins, que são os únicos sem fila, e, em muitos finais de semana, como sabemos que os restaurantes bons estão lotados e os filmes bons tem filas gigantescas, nós simplesmente...
Não vamos.
Hahahahaha.
Não sei se é a melhor saída. O melhor seria se programar, comprar antes, ir atrás, reservar mesa.
Mas não somos assim, eu e o Zé.
- Mas não vamos ver o filme? Falam que é ótimo, lú.
- Deixa. Esse filme logo sai em DVD, Zé. Questão de três, quatro meses. Vamos esperar.

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