essa é uma legítima pochete
Estava indo pra uma reunião quando ouvi meu nome.
-Luciiinhá.
Era uma prima. Estava numa loja em obras com um engenheiro acertando os detalhes de uma reforma. Essa prima tem uma fábrica de bolsas e me contou que ia montar uma loja. As bolsas dela são bacanérrimas, de super bom gosto.
- Que legal... – eu disse a ela - esse endereço é ótimo.
- Daqui a dois meses passe aqui para ver como ficou – ela me disse.
Foi quando resolvi perguntar uma coisa que me intriga muito.
- Falando em bolsas... você acha que existe alguma chance da pochete voltar a entrar na moda?
Ela fez uma cara de susto.
- Pochete?
- É, pochete. Aquela bolsinha que a gente coloca na cintura, tipo um cinto.
- Porque? – ela perguntou assustada, dando um passo para trás.
- Ora, porque é ótimo pochete – eu disse - Eu adoro. Como eu vivo em obra, nada melhor que pochete. Como você acha que a gente consegue correr daqui pra lá, subir em andaimes, em terrenos – eu olhei para o engenheiro, pedindo concordância - e ainda carregar uma bolsa pesada dessas? – argumentei, mostrando a minha bolsa – é caneta, celular, trena, máquina fotográfica, agenda...
- Lucinha, você não vai me dizer que você...
- O quê?
- Não, nada... – ela desconversou, sem graça - Olha, eu tenho umas bolsinhas de lado que resolveriam, eu acho. A tiracolo.
Minha moral deve ter caído uns mil pontos com essa prima tão chique. Eu e minha boca. Virei a “prima da pochete”, óbvio.
Gente, perdão, mas eu adoro usar pochete. Acho que a pochete é uma das melhores invenções do mundo das bolsas. É um bolso, solto, que você usa por cima da sua roupa, como se fosse um cinto. Além disso, ela serve de cinto também, além de servir de apoio para celular, porta toalha e gancho para casacos.
Uma beleza pochete.
O único problema é que é cafona.
Cafona não.
Cafonérrimo.
Cafonetésimo.
Cafonetesimoérrimo.
Eu não posso nem pensar em usar pochete porque meus filhos me abandonarão, o Zé me largará, minha mãe me deserdará e meus amigos me repudiarão. Ninguém gosta de gente que usa pochete.
Agora, alguém pode me explicar? Porque a gente tem que sofrer? Eu carrego essa bolsa pesadérrima e que me deixa toda torta só para não ser chamada de cafona. É um sofrimento, além de eu estragar todas as minhas bolsas nas obras, pois sou obrigada a colocar em tudo quanto é canto e muitas vezes até no chão. Porque uma coisa tão útil como essa inócua bolsinha pode ser considerada cafona?
Pochete é ótimo para quem trabalha e precisa das mãos livres; para mães de filhos pequenos e que ficam naquele abaixa e levanta - quer lugar melhor para guardar a chupeta?; para quem vai fazer compras – é uma sacola a menos para carregar; para quem vai viajar – cabe o cartão de embarque direitinho, o resto você despacha; além de ser super segura contra assaltos e roubos. E tudo isso vai por água abaixo pochete é cafona.
Só posso supor uma coisa. Isso é um complô. Está na cara essa calúnia faz parte de uma trama para difamar a pochete e acabar com o seu uso.
Sim, sim. Provavelmente o Monsieur Luis Vuitton, o sr. Lê Postiche e Sir Kipling se reuniram um certo dia, bolaram um plano e resolveram exterminar as pochetes do mercado de bolsas.
- Senhores, estamos correndo perigo – disse um deles, cochichando.
- Essa bolsinha ridícula vai acabar com minha nova coleção – desesperou-se o outro – ela é útil demais, demais!
- Vamos difamá-la já, se demora. Diremos que é cafona, deselegante, brega. Espalharemos o boato através da mídia, dos estilistas, dos modelos, dos empresários. Nenhum produto resiste ao estigma de cafona. E, se for preciso, conseguiremos chegar até na SPFW! – declarou o terceiro homem, inflamado, dando uma gargalhada maléfica.
Pobre pochete.
Pois na semana do Fashion Week eu estava eu zapeando quando captei uma entrevista com um estilista. O repórter perguntou.
- Na sua opinião, o que está na moda?
- Acredito numa elegância discreta, sem romantismos.
- E o que você aconselharia nossos telespectadores a nunca usar?
- Pochete, óbviamente.
Ô implicância, pensei.
Nessa hora tive certeza. É um complô. Vale uma CPI.
CPI das bolsas.
e mais uma vez, uma canja do Zé (estou a-do-ran-do essa nossa parceria, Zé!)
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