Cada família é de um jeito. A minha é crítica demais. Até os filhos, é impressionante.
Aprendi com a minha mãe. Ela sempre falou tudo que achava dos outros sem pestanejar e adora subverter regras. Como na minha infância éramos só as três - eu, minha mãe e minha irmã - criamos uma cumplicidade. Sabíamos, só de olhar, quando a outra gostava ou não de um presente ou de uma pessoa. Coisas de convívio.
A família do Zé é pior. Eles são terríveis. Não é só o “diferente...” que eles falam com cara de tacho quando odeiam uma coisa. Eles implicam com tudo, absolutamente com tudo. Eu conheço demais o Zé e já sei quando vem implicância. Geralmente é quando ele começa as frases com “hummm...” e balança a cabeça.
Por exemplo. Eu me arrumo toda pra sair e ele me acha exageradamente horrível.
- Hummm, que elegância...
Quando estou, assim, “entusiasmada” demais pra uma situação, lá vem ele.
- Hummm, animada, hein?...
Quando ele implica com um parente, lá vem o insuportável tom de voz.
- Almoço na casa da Fulana? Hummm, que chique...
E quando ele acha que alguns dos nossos filhos está interessado em alguma menina?
- Hummm, tá motivado, hein?...
Aaaaaaaaa!
Bom, além dessa mania do “hummm...”, que causa desespero em todo mundo, sabemos que ele e a família dele já vieram do berço com outras implicâncias. Todos viramos implicantes aqui em casa. Que remédio. O treco pega.
Por exemplo. Gente que faz churrasco e que convida um monte de casais eles acham o fim da picada. Idem mulheres modernas que se reúnem para tomar choppinho na calçada no final da tarde. Ou casal que faz jantar em casa para outro casal e serve uma massa com um bom vinho. Gente que vai pra hotel e compra tênis novo. Gente que pula carnaval em clube. Gente que vai pra hotel e troca de roupa e fica todo chique para o jantar. Gente que coloca abrigo de ginástica no final de semana. Gente que vai em show e fica dançando lá na frente. Mulher que faz hidroginástica na piscina do hotel com música axé. Gente que anda em volta de pracinha. Gente que fala “hum, imagina, não precisava” quando ganha presente. Mulher que fala “olha, não repara na bagunça” quando recebe visita. Gente que faz festa em buffet infantil. Bom, tudo é motivo de gozação.
E lá vem o "hummm..."
- Hummm, olha aqueles lá... – me aponta o Zé no saguão do hotel – São “aqueles que vão jantar”... olha, tomaram banho, trocaram de roupa... hummm...
Como a gente faz para acabar com isso? Impossível. É uma coisa que pega e gruda na mente. Eu sofro um pouco, pois adoro participar da hidroginástica no hotel, adoro me trocar para jantar, adoro tomar choppinho com as amigas na calçada e adoro colocar abrigo de ginástica no fim de semana e não fazer ginástica nenhuma.
- Hummm... tá esportiva, hein? Vai correr uma maratona hoje?
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