A minha viagem para a Bahia foi bem mais tranqüila pois a casa está quase pronta, o que acende os ânimos de todos. E além disso, nada de TAM: fomos todos no avião do dono da casa.
Que chique, né?
Sabe, pode parecer caipirice (e é mesmo), mas andar num avião particular levanta a moral de qualquer um, ainda mais num avião como aquele que ele tem. É "o" avião.
Trabalhar com um milionário tem suas vantagens e desvantagens. Claro que é bom poder usufruir desses confortos todos. Andar num avião particular, entrar em condomínios que ninguém entra, ver as portas se abrirem ao pronunciar um nome, poder fazer uma obra sem limites de custo. Mas é um mundo complicadíssimo. Não sei se vale a pena.
É impossível uma pessoa muito milionária andar nas ruas, por exemplo. Um dia a mulher desse cara me deu uma carona. Quando estávamos no meio do Itaim, reparei que eram cinco e meia e estava o maior trânsito. Eu sabia que ela tinha que ir para o Morumbi, e como eu ia para Pinheiros, achei melhor descer ali mesmo e para pegar um táxi ou um ônibus. Pedi para ela encostar o carro, aquela coisa enorme, blindadona.
- Hã? Parar aqui? – ela se assustou – Você vai... descer?
- Vou, ué. Eu pego um táxi ou um ônibus em algum lugar, vou andando até a Faria Lima.
- Mas... – ela estava pasma, atônita – Você vai sair assim no meio da rua e andar a pé? Não seria melhor eu te deixar dentro de algum lugar? Eu posso te deixar dentro do shopping, por exemplo.
Parecia que eu era de outro mundo. Ela, provavelmente, nunca andou na rua para pegar um táxi ou apenas para fazer compras. Está sempre escoltada e blindada, de bolha em bolha, sem respirar nunca o ar da cidade. Os milionários vivem num mundo paralelo ao nosso.
Aparentemente podem tudo.
Realmente, não podem nada.
Depois tem o poder. O poder é uma avalanche. A cada dia aumenta mais, mesmo a pessoa não fazendo nada. As pessoas se impressionam, todos querem pegar raspas, migalhas. É impressionante como o ser humano é susceptível a isso. Um homem rico e poderoso faz todos se ajoelharem ao redor. Mais maluco ainda é perceber que os serviçais passam a viver a vida do patrão. Adquirem características do cara, agem como ele, imitam, impõe. É como se o poder passasse, como uma tinta mais diluída, para o funcionário, por osmose. Assim, fica todo mundo competindo, na hierarquia dos funcionários da casa ou na obra, por exemplo. Cada um usando a sua migalha de poder, dando ordens e berrando.
Esse negócio que dizem que milionário berra é a maior verdade. Li num livro que é uma coisa animal, como os leões, tigres e gorilas. Milionários berram, falam alto, dão gargalhadas escandalosas, para chamar a atenção e mostrar seu poder diante do grupo. Muita gente chora, outros se calam, poucos enfrentam.
Que chique, né?
Sabe, pode parecer caipirice (e é mesmo), mas andar num avião particular levanta a moral de qualquer um, ainda mais num avião como aquele que ele tem. É "o" avião.
Trabalhar com um milionário tem suas vantagens e desvantagens. Claro que é bom poder usufruir desses confortos todos. Andar num avião particular, entrar em condomínios que ninguém entra, ver as portas se abrirem ao pronunciar um nome, poder fazer uma obra sem limites de custo. Mas é um mundo complicadíssimo. Não sei se vale a pena.
É impossível uma pessoa muito milionária andar nas ruas, por exemplo. Um dia a mulher desse cara me deu uma carona. Quando estávamos no meio do Itaim, reparei que eram cinco e meia e estava o maior trânsito. Eu sabia que ela tinha que ir para o Morumbi, e como eu ia para Pinheiros, achei melhor descer ali mesmo e para pegar um táxi ou um ônibus. Pedi para ela encostar o carro, aquela coisa enorme, blindadona.
- Hã? Parar aqui? – ela se assustou – Você vai... descer?
- Vou, ué. Eu pego um táxi ou um ônibus em algum lugar, vou andando até a Faria Lima.
- Mas... – ela estava pasma, atônita – Você vai sair assim no meio da rua e andar a pé? Não seria melhor eu te deixar dentro de algum lugar? Eu posso te deixar dentro do shopping, por exemplo.
Parecia que eu era de outro mundo. Ela, provavelmente, nunca andou na rua para pegar um táxi ou apenas para fazer compras. Está sempre escoltada e blindada, de bolha em bolha, sem respirar nunca o ar da cidade. Os milionários vivem num mundo paralelo ao nosso.
Aparentemente podem tudo.
Realmente, não podem nada.
Depois tem o poder. O poder é uma avalanche. A cada dia aumenta mais, mesmo a pessoa não fazendo nada. As pessoas se impressionam, todos querem pegar raspas, migalhas. É impressionante como o ser humano é susceptível a isso. Um homem rico e poderoso faz todos se ajoelharem ao redor. Mais maluco ainda é perceber que os serviçais passam a viver a vida do patrão. Adquirem características do cara, agem como ele, imitam, impõe. É como se o poder passasse, como uma tinta mais diluída, para o funcionário, por osmose. Assim, fica todo mundo competindo, na hierarquia dos funcionários da casa ou na obra, por exemplo. Cada um usando a sua migalha de poder, dando ordens e berrando.
Esse negócio que dizem que milionário berra é a maior verdade. Li num livro que é uma coisa animal, como os leões, tigres e gorilas. Milionários berram, falam alto, dão gargalhadas escandalosas, para chamar a atenção e mostrar seu poder diante do grupo. Muita gente chora, outros se calam, poucos enfrentam.
É a natureza em ação.
Já ele, o milionário, precisa vencer desafios. Em obras isso fica evidente: um bom arquiteto para milionários deve propor esses desafios. Pode ser um desafio estrutural, um desafio de legislação, um desafio da natureza, mas precisa de desafio, senão a coisa não tem graça. Às vezes entra no processo um profissional bom e incauto que tenta argumentar: para que um vão tão grande? Para que um prédio tão alto? Para que tirar a pedra de seis metros de altura daí? Tenho vontade de rir. A graça toda de construir, para quem tem muito dinheiro, não é executar o projeto de arquitetura deslumbrante. É vencer um desafio e ganhar da natureza, da lei e da estrutura.
Ganhar, assim como ter poder, também é outra avalanche.
Além disso, classe dominante precisa de grifes para suas casas. A maioria dos arquitetos de grife são profissionais medianos, alguns até péssimos, mas quem contrata não se importa. O nome deles vale dinheiro, e casas sem nome não têm valor algum nos tempos atuais. Não sei para que servem esses arquitetos, para falar a verdade. Eles deveriam assinar numa parede e ir embora. Eles não vão à obra, não entendem de construção nem de projeto. Chegam na obra como se fossem da família real, pomposos, arrumadinhos, inúteis. São apenas a grife. E depois que a casa acaba, eles aparecem nas revistas de celebridades junto com os donos, sorrindo.
Já ele, o milionário, precisa vencer desafios. Em obras isso fica evidente: um bom arquiteto para milionários deve propor esses desafios. Pode ser um desafio estrutural, um desafio de legislação, um desafio da natureza, mas precisa de desafio, senão a coisa não tem graça. Às vezes entra no processo um profissional bom e incauto que tenta argumentar: para que um vão tão grande? Para que um prédio tão alto? Para que tirar a pedra de seis metros de altura daí? Tenho vontade de rir. A graça toda de construir, para quem tem muito dinheiro, não é executar o projeto de arquitetura deslumbrante. É vencer um desafio e ganhar da natureza, da lei e da estrutura.
Ganhar, assim como ter poder, também é outra avalanche.
Além disso, classe dominante precisa de grifes para suas casas. A maioria dos arquitetos de grife são profissionais medianos, alguns até péssimos, mas quem contrata não se importa. O nome deles vale dinheiro, e casas sem nome não têm valor algum nos tempos atuais. Não sei para que servem esses arquitetos, para falar a verdade. Eles deveriam assinar numa parede e ir embora. Eles não vão à obra, não entendem de construção nem de projeto. Chegam na obra como se fossem da família real, pomposos, arrumadinhos, inúteis. São apenas a grife. E depois que a casa acaba, eles aparecem nas revistas de celebridades junto com os donos, sorrindo.
Vai entender.
Eu tento, sério, mas não é fácil.
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