sábado, 29 de janeiro de 2005

o joão e o siri



o joão e o siri


Ele não consegue ficar quieto um minuto. Parou de pular, nadar e correr e resolveu cavar um buraco.
- Ajuda, mãe?
- Não, filho. Tou deitada.
- Vai ser um buraco enorme. Vou me enterrar.
- Em pé ou deitado, João? – desafiou a irmã.
Ele não respondeu. Estava entretido demais em cavar. Praia é bom por isso. Você pode fazer coisas à toa.
Cavar, por exemplo.
- Olha que enorme, mãe.
- Hãhã.
O sol estava forte, mesmo no fim da tarde. Dava até preguiça de abrir os olhos.
- Vou caber todinho aqui dentro. Vocês vão ver.
E continuou, cantarolando.
- Olha... um buraco aqui – ele exclamou – Já viu um buraco dentro de um buraco, mãe?
- Como assim? – eu estava deitada, nem me mexi.
- Tem um outro buraco aqui. Vem ver.
- Alguém já cavou ai, João. Vai ver que é isso.
- Estranho... parece que tem uma bolha aqui dentro... - e ele cantarolou – buracô, buracô, buraco no buraco, buraco no buraco...
Depois de um tempo, chamou.
- Mãe! Olha!
E lá estava o João, deitado, afundado e enterrado na areia, só com os braços, os pés e cabeça para fora. Todo feliz da vida. Começamos a rir. Estava engraçado. Ele fez até um travesseiro.
Até a hora que o menino deu um pulo.
- Ai!
E saiu correndo dali, destruindo toda obra de arte que tinha feito.
- O buraco se mexeu, mãe! Me fez cócegas!
Eu e a irmã levantamos para olhar lá dentro. Do meio da areia surgiu um sirizão, todo afogado e amassado por causa do João.
Ele olhou o bichinho. Não sei quem estava mais assustado: o João ou o siri.
- Nossa. Sempre tem siri dentro da areia, mãe?

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