segunda-feira, 15 de novembro de 2004

fim de feriado, um monte de idéias e pensamentos


"Um pouco de kitsch não faz mal a ninguém...", falou a Sheila.
.
1) Lorca, ainda...
Noiva:
"E eu dormirei a teus pés
para guardar o que sonhas.
Nua, contemplando o campo
como se fosse uma cadela.
E é o que sou! - Pois, se te te miro,
me abrasa tua beleza"

(Bodas, página 139)
.
2) Um grito
A Silvia veio aqui hoje com uma questão complicada na cabeça. Sentamos para tomar um café e ela me fala:
- Onde foram parar os gritos, lúcia? Os gritos que nós, seres humanos, temos que dar? Nesse processo civilizatório todo, onde é o lugar de gritar?
Eu ia sugerir a ela que gritasse ali mesmo, ao meu lado, mas ela continuou.
- Eu acordei noite passada com um grito na garganta. Eu não podia gritar de modo algum, e aquilo me incomodando. Tive que desenhar aquele grito. Mas não pude gritar.
Sim, minha amiga. É irritante mesmo. Você desenha, eu escrevo, nós duas somos duas moças civilizadas, articuladas, organizadas, sabidas, que não podemos dar um berro em lugar algum.
Foi quando eu tive um clic.
- Silvia! Já sei onde! No jogo de futebol! Que time você torce? Vamos lá! Vamos reunir uma turma de mulheres quarenteens sussurantes e vamos todas berrar num jogo qualquer!
.
3) A casquinha
O Jefferson me disse que toda a civilidade que existe na humanidade é só uma casquinha.
.
4) O uísque
"Nunca é tarde para você ser o que poderia ter sido", fala um cartão do uisque Johnnie Walker aqui na minha frente. A frase é do Churchill.
.
5) O comentário do Edu
O Edu me escreveu esse comentário depois que lembrei da minha infância falando de Dogville. Sabe, acho que são essas coisas que nos unem a alguns amigos na vida: essa percepção da magia de alguns momentos.
"Lembrei de outra coisa, essa bem esquisita. Eu estava sentado na mesa da cozinha, era a casa da Hans Nobling, a mesa era de fórmica azul e tinha uns desenhos ameboides. Eu devia ter uns cinco anos, no máximo.
O sol entrava através da tela da porta e dava pra ver aquelas poeirinhas voando. Minha mãe estava no quintal conversando com o papagaio. Acho que eu estava comendo alguma coisa muito gostosa, porque tudo parecia absolutamente perfeito.
De repente me veio uma daquelas certezas inapeláveis de que fala o Nelson Rodrigues: um dia eu vou esquecer essa cena! Foi um pouco angustiante meu primeiro contato com esse mistério, e, claro que eu não tinha fumado nenhunzinho. Mas ai eu disse: Essa eu não esqueço, vou lembrar pra sempre.
E não é que anos a fio, quando eu ficava meio assim, eu me lembrava dessa tarde. Tinha me esquecido e voce me lembrou.
Grande Lucia, valeu.
Edu"
.
E eu ainda me lembro do Lorca de ontem. Maravilhoso.

Nenhum comentário: