terça-feira, 16 de novembro de 2004

balangandãs


um monte de balangandãs
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Foi numa vernissage da Brito Cimino. Nota: a galeria Brito Cimino é da prima da Zé, a Luciana, e o projeto da galeria é do próprio Zé.
Bem, eu estava com a Luciana quando o vi.
- Luciana, aquele ali é o Nelson Leirner?
- É, num conhece ele? Vem aqui que eu apresento.
Antes que eu tivesse tempo de negar, ela me puxou e me colocou na frente dele. Me assustei. Nas fotos ele é aterrorizante, de longe é grande e de perto, enorme. Quando me dei conta, a Luciana se mandou e eu estava diante daquele gigante matusalênico com um monte de balangandã e não tinha a menor idéia do que falar.
Ele, gentil, falou para eu me sentar. Sentei, mas ao mesmo tempo virei minha bolsa no chão com tudo que tinha dentro. Foi uma vergonha. Minha bolsa, além de ter muita tralha, tem pedaço de tijolo e lixo.
Foi como ficar nua na frente dele.
- Se deixou cair, é porque queria que eu olhasse - ele provocou. E continuou - Posso escolher?
Nem tive tempo de dizer não. Ao menos ele não escolheu minha bolsinha de modess, pensei. Contentou-se com uma piranha de cabelo, a melhor que eu tinha, e colocou no bolso. Catei tudo rapidinho, me levantei e sorri, pronta para uma conversa inteligente e bem exibida. Mas ele foi mais rápido.
- Quem é você? - ele perguntou subitamente, se dar me tempo de começar o meu teatro.
Eu começei a gaguejar antes de começar a responder (vou tentar reproduzir minha catastrófica resposta nas integra).
- Ah, é, sou a lúcia, arquiteta, ah, mulher do zé, quer dizer, formei arquiteta, mas trabalho com obra, quer dizer, com coordenação e gerenciamento de obra, trabalho pra um milionário, coordeno as coisas dele, não sou assim arquiteta de desenho, mas já fui muito, ah, mas eu escrevo também, quer dizer, ainda não publiquei mas sou escritora, não, sim, acho que sou, e também sou cronista, quer dizer, um pouco cronista, médio, não escrevo no jornal ainda, tento, tento uma hora vai dar, tou tentando mesmo, o Prata me publicou nos livros dele um monte de vezes, e eu escrevo peças de teatro, minha paixão, ainda não deram certo, apesar de todo mundo ler e adorar, eu...
Ainda bem que ele interrompeu aquele mantra histérico e desesperador.
- Ah. Igualzinho eu.
E olha que delícia que ele falou para me salvar.
- Veja. Eu sou artista plástico hoje. Mas quando crescer, se tudo der certo, vou ser um fotógrafo.
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Desde então, eu tenho essa frase na cabeça todos os dias.
E descobri que quando eu crescer eu também posso ser alguma coisa.
Que tal dramaturga?

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