segunda-feira, 4 de outubro de 2004

Nossa...

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E existem dias. Dias que todas as coisas da vida me parecem muito estranhas. Sabe-se lá porque isto ocorre, aparentemente tudo corre bem, mas de repente começo a olhar tudo com olhos tão esquisitos. Andar de carro me parece estranho, conversar me parece estranho, entender tanto as pessoas me parece estranho. E assim sendo eu me calo um pouco, achando-me absolutamente a mais estranha de todos.
Tento tantas formas de entendimento para a releitura das emoções e nenhuma delas me basta. Bastar? Mas, na minha pequena opinião, talvez o "bastar" esteja justamente neste não encontrar nunca.
Nossa, estou densa demais para uma segunda feira, não é? Pesada e arrastada, assim não chego nunca. Onde? Sei lá. Fins de semanas pressupõe leituras, e comigo sempre isso é muito complicado – muitas leituras me tiram do meu estado de consciência. Aquele estado de mãe, de dona de casa, de arquiteta, de profissional que precisa ganhar dinheiro. Me embrenho num mundo imaginário tão delicioso que custo a sair dali, me agarro às bordas, seguro nos batentes, peço, imploro à mim mesma, mais um pouquinho, só mais um pouquinho.
Nossa, estou complicada demais para uma segunda. Andei lendo e escrevendo, só isso. O que? Ah, ainda não acabei, não encerrei e não posso dizer o que li e o que ainda não escrevi. As minhas leituras são um pouco assim: tem um fim, sabe-se lá quando. Pode ser depois de meses que acabei a leitura. Uma amiga minha me pediu para emprestar um livro. Não posso, eu disse, já acabei de ler, mas ele ainda não acabou comigo. Não posso me desgrudar dele, do tal livro, e embora ele já ocupe um espaço na minha estante, ele ainda não é história, ainda está contido em mim. Ela ficou desconfiada, me olhou torto. Mas tem gente que sabe do que eu falo.
Nossa, estou confusa demais para uma segunda. Um dias os textos que eu escrevi vão sair de perto de mim e eu vou ficar livre deles. Eu misturo muito a realidade com a escrita, adoro fazer isso,e as vezes acontece o contrário, de misturar a escrita com a realidade.
Fiz uma coisa pavorosa, eu fui escrevendo, escrevendo e matei um animal. Animal? Esse é o problema. Não sei se foi um animal que eu matei escrevendo. Mas matei, matei da forma mais bruta, indecifrável e violenta que um ser humano pode matar um outro ser. Matar, ao pédaletra. Porque eu fiz isso, me diz? É uma eterna busca de limites que eu tenho, ou uma brincadeira que foi longe demais. Escrever é muito, muitíssimo mais perigoso do que eu brinco que é.
Existem dias, não é? E este dia acordou um tanto estranho, eu me sinto confusa e as palavras me atrapalham. Um dia alguém vai ler meus textos e vai ver como eu posso ser cruel, tão cruel ao pé da letra, e me ajuda a entender porque tudo é tão estranho.
Umasegundafeiraemseteparágrafos.
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