quarta-feira, 9 de novembro de 2016

ENTÃÃÃO


Eu queria dividir um problema. Tem uma moça que mora aqui perto que fala demais. Uma barbaridade o que ela fala. Tou voltando do super, lá vem ela na minha direção. “Lú!”. 
Você pode não ter nenhum assunto naquele dia, mas como ela sempre tem milhares, no momento que você responde o cumprimento, é como se ela ligasse o botão do falatório máximo. Abrisse as comportas. Parece que engoliu o aplicativo do globonews, tipo na hora que teu controle remoto tá sem pilha. 
Tudo, claro, é culpa minha. Como moro num bairro de casas todas muradas, pouco conheço os vizinhos, quando encontro alguém pra conversar é legal, sabe, morar aqui me deixa carente de vizinhos. Um dia dei trela pra ela, agora ficamos meio amigas. E eu, quando encontro que alguém que fala demais, não sei como interromper, sou péssima nisso. 
Tento diversos truques com ela. Falo “entããão” diversas vezes, olho o celular pra ver a hora, sorrio e tento interromper, até que chego naquela última estratégia: os passinhos pra trás. Eu vou me distanciando lentamente, sem dar bandeira, dou subitamente uma desculpa esfarrapada “meu Deus tou com a panela no fogo”, ou “ai! Preciso abrir a porta pro meu filho que vai chegar!” e ainda “ Nossa, tenho que ir, o homem da NET tá vindo”, viro as costas e saio correndo, ainda ouvindo a voz dela falando sozinha. 
Me sinto muito mal depois desses encontros. Mas não faz sentido ficar parada meia hora só pra ser boa vizinha. Me pergunto como outras pessoas fazem para resolver um problema como esse.

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