Ontem no fim da tarde começou uma conversa engraçada no face. Uma amiga marcou alguns blogueiros e perguntou como iam os blogs “velhos” deles.
Eu tenho um desses blogs “velhos”. Fiz o “frankamente...” em agosto de 2004.
“Tooou aquiii aiiinda”, gritei, feito soterrada em terremoto. Outros também berraram, mas tinha tantos mortos, tantos abandonados e tantos em coma que dava dó.
Por isso que eu queria – há anos penso isso – escrever em pedras. Pedras duram, tem mídia eterna, não precisam de bateria, não pegam vírus, você não precisa atualizar nada que elas vivem milhares de anos. Nos blogs e redes sociais, em dois anos - no máximo - você tá esquecido total e olha a trabalheira pra recuperar sua obra.
Por isso eu também pinto e desenho. Pra durar.
Vou investir em pedra escrita. Chega de salvar minhas memórias cada vez numa mídia diferente. Chega de acreditar só na nuvem. Vou comprar pedras e escrever enormes tuites, mini peças e crônicas fantásticas.
Além, claro, de escrever aqui e no face. Vai que dá certo.
sexta-feira, 18 de novembro de 2016
quinta-feira, 17 de novembro de 2016
4,96
Vocês sabiam que os motoristas do Uber pontuam os passageiros também? Estilo aquele episódio do Black Mirror temporada II? Quando ouvi falar disso, sai correndo no aplicaivo pra ver minha nota. Ufa, acho que estou bem na fita. Não tirei 5,00, a nota máxima, mas estou em 4,96, que, na minha época de escola (onde notas iam de 1 a 10) era excelente, pois equivale a 9,92. Estou me sentindo super CDF no Uber, e me perguntando (como antigamente, no Colégio Bandeirantes) o que fiz de errado para perder 0,04 pontos. Gente, nem reclamei do pum que o homem soltou na quarta-feira à tarde depois da feijoada. Acho que quero uma revisão da prova. Ou será que peguei algum Uber que não lembro de madrugada? Ixi.
Aliás, qual a pontuação de vocês?
Hehehe.
Como o Uber me dá assunto. Obrigada Uber.
quinta-feira, 10 de novembro de 2016
o guardinha e o quero-quero
Nas caminhadas no Villa Lobos tenho uma rotina básica, baseada na água: meu percurso é de bebedouro à bebedouro. Conheço as águas, qual a melhor, mais geladinha, qual a pior, meio quente.
Como os bebedouros de água filtrada ficam nos banheiros, conheço também os guardinhas que tomam conta dos banheiros. Sim, porque em cada banheiro tem um guardinha. Imagino que, como não há nada assim tããão valioso nos banheiros, os guardinhas ficam ali apenas porque é coberto, tem água e banheiro.
O banheiro mais distante de tudo é lá perto da marginal, num local árido e fedido. É super limpinho, mas é tipo fim do mundo trabalhar ali ao ar livre, todo dia.
Bom. Tem um guardinha novo, que começou a trabalhar essa semana. Devem colocar os novos sempre nesse banheiro para eles não acostumarem mal. Sei lá.
Quando eu estava chegando perto dali, vi que o guardinha novo tava esquisito: olhava pro nada, andava de frente para trás, de trás para frente, uma vezes correndo, outras vezes bem devagar. Coisa um pouco aflitiva de assistir, confesso. Comportamento inadequado total.
“Deve existir uma explicação pra isso”, pensei, “caso contrário estou nesse lugar ermo com um psicopata”.
Cheguei perto, cautelosa. Ele me viu, se assustou.
- É o passarinho ali! – ele apontou e explicou, morrendo de vergonha de eu ver sua dancinha ridícula – Se eu passo daquela linha, ele avança em mim, furioso. Depois volta e senta ali na grama. Nunca vi isso na vida. Um passarinho mandar em mim.
- É um quero-quero – expliquei, (aliviada) e rindo – aliás, uma quero-quero, pois ela tá chocando os ovos e não quer que ninguém chegue perto. Tá na cara. Uma fêmea.
- Uma passarinha? Mulher?
- É.
Ficamos observando a passarinha, os dois atrás da “linha”.
- Olha – ele completou – minha mulher é muito difícil de enfrentar, mas essa daí eu encaro. Eu não posso deixar de ir daqui pra lá, meu trabalho é vigiar o parque – concluiu, rindo e voltando a enfrentar a pobre da quero-quero.
É muito louco, né? Enquanto todo mundo só fala de Temer Dória Trump no facebook e em todo lugar, um guardinha nos fundos do parque Villa Lobos só tá preocupado em defender seu território de um passarinho, oito horas por dia.
É. Há outras batalhas além daquelas que a gente trava.
quarta-feira, 9 de novembro de 2016
ENTÃÃÃO
Eu queria dividir um problema. Tem uma moça que mora aqui perto que fala demais. Uma barbaridade o que ela fala. Tou voltando do super, lá vem ela na minha direção. “Lú!”.
Você pode não ter nenhum assunto naquele dia, mas como ela sempre tem milhares, no momento que você responde o cumprimento, é como se ela ligasse o botão do falatório máximo. Abrisse as comportas. Parece que engoliu o aplicativo do globonews, tipo na hora que teu controle remoto tá sem pilha.
Tudo, claro, é culpa minha. Como moro num bairro de casas todas muradas, pouco conheço os vizinhos, quando encontro alguém pra conversar é legal, sabe, morar aqui me deixa carente de vizinhos. Um dia dei trela pra ela, agora ficamos meio amigas. E eu, quando encontro que alguém que fala demais, não sei como interromper, sou péssima nisso.
Tento diversos truques com ela. Falo “entããão” diversas vezes, olho o celular pra ver a hora, sorrio e tento interromper, até que chego naquela última estratégia: os passinhos pra trás. Eu vou me distanciando lentamente, sem dar bandeira, dou subitamente uma desculpa esfarrapada “meu Deus tou com a panela no fogo”, ou “ai! Preciso abrir a porta pro meu filho que vai chegar!” e ainda “ Nossa, tenho que ir, o homem da NET tá vindo”, viro as costas e saio correndo, ainda ouvindo a voz dela falando sozinha.
Me sinto muito mal depois desses encontros. Mas não faz sentido ficar parada meia hora só pra ser boa vizinha. Me pergunto como outras pessoas fazem para resolver um problema como esse.
terça-feira, 8 de novembro de 2016
andando de vongole
Fomos para a praia com um casal de amigos que mora em Brasília, num sítio, um lugar maravilhoso, mas longe de tudo e de todos. Eu e o Pedro andamos numa vibe de cozinhar, e resolvemos fazer para eles um macarrão ao vongole.
- Von-o-quê? Perguntaram os dois ao mesmo tempo.
- Vongole – explicamos – é um molusco do mar, um tipo de marisco, mas menor. É uma delícia.
- Voongooole? – o amigo disse bem devagar – Vongole. É, lá em Brasília tem disso não. Palavra estranha. Vongole vongole vongole – ele ficou repetindo.
Voltamos para São Paulo, e eles ficaram ainda um dia aqui em casa. Resolvemos levá-los num show, para finalizar o passeio, mas antes consultamos o Waze, para saber que horas sair, e dissemos à eles que, devido a lei seca aqui em São Paulo, iríamos de Uber. Eles não entenderam nada. Waze? Uber? O que eram aquelas estranhas palavras?
O Pedro se adiantou.
- Uns aplicativos de carro e trânsito, mas depois explico, gente, temos que sair em vinte minutos, melhor vocês se apressarem com o banho.
Um tempo depois eles descem, todos arrumados e banhados. E nosso amigo olha para nós, achando que tá dando a maior bola dentro e pergunta:
- E ai? Já chamaram o vongole pra vir pegar a gente? Ele tá vindo?
Hahaha.
- Von-o-quê? Perguntaram os dois ao mesmo tempo.
- Vongole – explicamos – é um molusco do mar, um tipo de marisco, mas menor. É uma delícia.
- Voongooole? – o amigo disse bem devagar – Vongole. É, lá em Brasília tem disso não. Palavra estranha. Vongole vongole vongole – ele ficou repetindo.
Voltamos para São Paulo, e eles ficaram ainda um dia aqui em casa. Resolvemos levá-los num show, para finalizar o passeio, mas antes consultamos o Waze, para saber que horas sair, e dissemos à eles que, devido a lei seca aqui em São Paulo, iríamos de Uber. Eles não entenderam nada. Waze? Uber? O que eram aquelas estranhas palavras?
O Pedro se adiantou.
- Uns aplicativos de carro e trânsito, mas depois explico, gente, temos que sair em vinte minutos, melhor vocês se apressarem com o banho.
Um tempo depois eles descem, todos arrumados e banhados. E nosso amigo olha para nós, achando que tá dando a maior bola dentro e pergunta:
- E ai? Já chamaram o vongole pra vir pegar a gente? Ele tá vindo?
Hahaha.
sábado, 5 de novembro de 2016
uber
Uber, quarta feira, 15:30 hrs. Indo pra casa da minha irmã, Marginal Pinheiros, um puta cheiro de pum no carro. Eu, na minha, pensando na pontuação dum motorista que faz uma coisa dessa. Peidar com passageiro no carro. Ou melhor, passageira. Uma senhora, se nho ra, como eu. Ar condicionado ligado, balinha, água e esse fedor. Passei a viagem de dez minutos de nariz tapado, calada e respirando pela boca. Se eu der zero estrela eles, o Uber, eles perguntam porquê. O que escrevono aplicativo? “O motorista peidou,“? Mas como, se o peidorrento me conheceu, se sabe onde me pegou, se sabe onde é minha casa, putis, ele pode ficar raivoso e pode ser que me foda depois. Será que não é melhor ficar calada e não dedar o peido do cara? Chego na minha irmã. “Tá boa, Lúcia?”. Desabafo e conto. Dai ela pensa um pouco. “Lúcia, hoje é quarta, dia de feijoada. Taxista, que já é descolado, já deve saber que quarta à tarde, depois da feijoada, não dá pra rodar, mas os caras do Uber ainda não sabem. Dá um crédito pro cara e avisa no site do Uber, super séria: “rapazes, um dos seus motoristas peidou quarta a tarde durante a viagem. Avisem pra não comerem feijoada nas quartas feiras no almoço antes de trabalhar”. “” Hahaha. Sério. A gente se acostuma com tudo nessa vida.
quarta-feira, 2 de novembro de 2016
dia da marmota
Morar perto do Rio Pinheiros é assim. Você tá lá tranquilamente trabalhando na sala da sua casa e sente uma coceira no pé. Pensa: saco, são ele de novo. Vai pra cozinha e se besunta de OFF. Volta pro computador toda melecada. Dai meleca e mesa e o teclado. Cada vez fica mais nojento. Resolve lavar as mãos. Quando abre a porta do lavabo, eles são mais ou menos uns quarenta. Nem dá coragem de entrar. Vai pra lavanderia e pega o repelente. Entope o lavabo de repelente e fecha a porta. Lembra que ia lavar as mãos. Abre o lavabo e segura o nariz. Lava uma mão, a outra, pega a tolha e resolve se secar lá fora. Dai pensa que seu quarto pode estar pior. Gasta quase metade no quarto pra garantir. Feliz, volta pra sala e senta no computador. Você tá limpinha, mas a mesa e o teclado tão todos grudentos do OFF. Vai buscar um pano e um veja ou álcool na área de serviço. Demora com cuidado no teclado e no computador, na mesa limpa sem dó. Guarda os produtos e senta na frente da mesa, vinte minutos depois e retoma o trabalho. A gente se acostuma com tudo nessa vida.
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