Foi na sexta feira antes, nesses dias antes do natal. A campainha aqui de casa não parava de tocar. Gente pedindo caixinha. Talvez todo ano seja assim, mas como agora fiquei em casa, recuperando de uma cirurgia, eu que atendi todos os trezentos mil pedidos de caixinha. Era carteiro, lixeiro, homem do saco de lixo, cara da Eletropaulo, da Sabesp, varredor de rua. Os meus trocados foram acabando, e só restava falar para o próximo que acabou, que não tinha mais nada. Foi quando a campainha tocou lá pelas sete da noite.
- Oi dona, é o lixeiro da reciclagem. Tem uma caixinha de natal?
Nossa, coitado, eu não tinha. Dava pra ouvir o barulho do caminhão parado.
- Moço, juro, veio tanta gente aqui que eu fiquei dura. Não tenho nem uma moeda, é muita caixinha que tem para dar. Você me desculpa, faz assim, passa amanhã, que eu dou um jeito.
- Ah, dona, não vai dar, a gente só passa às sextas feiras... então deixa...
Vi que ele ficou meio desenxabido, triste, e saiu de frente de casa. Foi quando eu tive uma idéia. Gritei de novo por ele.
- Moço! Volta!
Ele veio todo animado e eu fiz a proposta.
- Como te disse, tou sem um puto. Mas tem umas cervejas geladas na geladeira. Se eu te der uma, você fica feliz?
- Feliz? Se eu fico feliz? Ô - ele disse animado - mas se a senhora tiver 3, porque estamos em três aqui, vamos os três ficar muuuuito felizes! Tamos correndo sem parar, imagina, uma cerveja gelada!
Resolvido. Peguei na geladeira as três melhores e levei na porta. Os três estava sorrindo muito, e quando viram as latas, começaram a bater palmas para mim. Hahaha. Palmas, imagina. Acertei em cheio. Me senti a melhor moradora da rua. Pensando bem, os caras catam milhões de latas vazias, imagina que delícia ganhar uma cheia? Mó caixinha reciclável, fala a verdade.
2 comentários:
Franka, um natal "da lata" pra vc, bjs. Rogerio
Dona Franka, a senhora acertou na lata!
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