quarta-feira, 24 de agosto de 2011

my (morbid) way



É incrível como algumas coisas podem acabar com uma música. Quer dizer, a música ainda pode ser bonita, você pode gostar dela, mas por causa de algumas relações que você faz dessa música com algum fato da vida, essa música pode acabar para sempre pra você. Pra mim isso aconteceu com My way, do Frank Sinatra. Sempre gostei de My way, é uma música daquelas que é mega hit, é até meio cafonona, mas tem um "crescendo" que super emociona. Depois a letra, aquela coisa triste que fala do cara que viveu do jeito dele, mas que está conformado, que está realizado. É, My way é uma música meio lugar comum, mas tem uma pegada. Uma super pegada do Frank. Até que...
Bom, até que um parente morreu e eu fui no crematório. E bem na hora da cerimônia, na hora que o caixão desceu e a luz apagou um pouco, começou a tocar My way. Nossa, tenho que concordar que foi um momento super impressionante. O parente morto, a música com a pegada, crescendo e pegando fundo na alma dos vivos ali. Todo mundo meio que teve vontade de chorar. O fim do parente chegou e ele fez tudo do jeito dele. Muito emocionante. Lindo. Quando acabou, fui falar com o parente vivo do parente morto que tava organizando a cremação, e perguntei se o parente morto gostava do Frank Sinatra.
- Ah, não sei - ele disse.
- Ué, mas você mandou tocar My way. Achei que era a música predileta dele.
- Não tenho idéia de qual era a música predileta dele. E aqui no crematório, se morre um homem e ele não tem música predileta escolhida, eles colocam My way. Acho que é a música padrão de cremação masculina.
Credo. Me deu um arrepio. Gente do céu, ou melhor, gente da terra. Putis. My way virou música de passagem para o além. Música de crematório. Não que eu seja contra colocar My way na hora da cremação, pelo contrário, talvez seja bacana aquela pegada na hora de ir pro lado de lá e sumir do mundo. Ou não. Talvez fosse melhor uma música clássica, uma música sacra. E como saber? E será que o Frank Sinatra imaginava que fosse um dia cantar pra tantas cremações? Pra tantos mortos? Bom, se é certo, se é errado, se faz bem pra alma, se a energia do Frank ajuda a passar bem dessa pra melhor, jamais vamos saber uma vez que a gente tá vivo. Só sei que não consigo mais ouvir My way depois disso. Ficou mega mórbido. E nossa. Tou aqui pensando... qual será a música padrão de cremação feminina?

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