Eu apertava, apertava, apertava sem parar o botão e o controle remoto não abria o portão de jeito nenhum. O carro parado ali no meio, atrapalhando os outros, e nada do portão abrir. Consegui entrar no prédio graças à caridade de outro condômino, e na saída fui falar com o porteiro. Um senhor de óculos, muito sério.
- Oi moço, o senhor pode abrir pra mim? Meu controle não abre. Na hora que cheguei, tentei um monte e não abriu. Acho que acabou a pilha.
- Deixeuver - ele disse, apertando o botão - está funcionando sim, dona Lúcia - declarou, categórico.
- Não está não senhor, o portão não abriu.
- Está sim senhora, olha, a luz acende. Se não tivesse pilha, não acendia. Vamos lá no portão testar - ele resolveu, saindo da guarita.
Ele foi na frente, todo exibido. Olhou o portão e apontou. "Tic", ele fez. E bastou um "tic" dele que o portão abriu.
- Viu? Tá funcionando, dona.
- Nossa, eu tentei tanto...
- É que a gente é da época do botão, dona Lúcia.
- Como assim?
- A gente aprendeu a apertar botão, apertar com força. E com força não funciona hoje em dia. A gente não entende toutichi, por exemplo, dona Lúcia.
- A gente não entende do que?
- Tou-ti-chii - ele disse bem alto - essas coisas de agora, que tem que apertar devarziiinho... de levinho... só encostando...
- Hã?
- Agora é tudo toutichi, tuuudo toutichi... a senhora veja que coisa. Máquina de retrato, celular, controle remoto. A senhora tem que aprender a não apertar muito. As coisas mudaram. Tem que ser bem de leviiinho... tou-ti-chi.
Putis. Depois de uma filosofia de faxineira, ensinamento de porteiro? Genial. O cara tem toda razão. Antigamente a gente girava botão, mexia para cima para baixo, discava telefone de disco redondo, e depois veio a inovação: o botão. As pessoas da minha geração aprenderam a apertar botão. E com força. Putis, e agora aprender o toutichi não é mole.
- Oi moço, o senhor pode abrir pra mim? Meu controle não abre. Na hora que cheguei, tentei um monte e não abriu. Acho que acabou a pilha.
- Deixeuver - ele disse, apertando o botão - está funcionando sim, dona Lúcia - declarou, categórico.
- Não está não senhor, o portão não abriu.
- Está sim senhora, olha, a luz acende. Se não tivesse pilha, não acendia. Vamos lá no portão testar - ele resolveu, saindo da guarita.
Ele foi na frente, todo exibido. Olhou o portão e apontou. "Tic", ele fez. E bastou um "tic" dele que o portão abriu.
- Viu? Tá funcionando, dona.
- Nossa, eu tentei tanto...
- É que a gente é da época do botão, dona Lúcia.
- Como assim?
- A gente aprendeu a apertar botão, apertar com força. E com força não funciona hoje em dia. A gente não entende toutichi, por exemplo, dona Lúcia.
- A gente não entende do que?
- Tou-ti-chii - ele disse bem alto - essas coisas de agora, que tem que apertar devarziiinho... de levinho... só encostando...
- Hã?
- Agora é tudo toutichi, tuuudo toutichi... a senhora veja que coisa. Máquina de retrato, celular, controle remoto. A senhora tem que aprender a não apertar muito. As coisas mudaram. Tem que ser bem de leviiinho... tou-ti-chi.
Putis. Depois de uma filosofia de faxineira, ensinamento de porteiro? Genial. O cara tem toda razão. Antigamente a gente girava botão, mexia para cima para baixo, discava telefone de disco redondo, e depois veio a inovação: o botão. As pessoas da minha geração aprenderam a apertar botão. E com força. Putis, e agora aprender o toutichi não é mole.
Desci na garagem, peguei o carro e... tic. Abriu.
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