sábado, 30 de janeiro de 2010

aluga-se 1 vaga em NY




Na viagem que fizemos pra NY no final do ano passado, alugamos um carro para viajar para outras cidades. Como íamos sair num dia de manhã cedo, pegamos o carro um dia antes, no fim da tarde. Bem no fim da tarde.
- É muito caro estacionamento aqui nessa cidade - comentou o Zé - temos que ficar o mínimo possível com carro aqui para pagar o mínimo de estacionamento.
- Quanto que é, pai? - um dos filhos perguntou.
- Não sei bem. Mas sei que tem lugares que cobram até 20 dólares se passa de uma hora. Uma fortuna. Todo mundo sabe - O Zé comentou.
- Nossa... - me espantei - que fortuna! Tem lugares em São Paulo que cobram 15 reais por hora e eu já acho um absurdo...
No dia que ficamos por lá, conseguimos achar um lugar meio escondido com uma taxa por noite cara, mas razoável. E nos mandamos rapidinho com o carro no dia seguinte bem cedo, felizes de termos conseguido não pagar muito. Entramos no carro com filhos e malas.
- Sabe o que eu acho, gente? - falou o João.
- Que filho? - perguntei.
- Que a gente devia comprar uma vaga aqui.
- Como assim comprar uma vaga de estacionamento, João? Porque? A gente não mora aqui, menino.
- Comprar tipo um... investimento - ele conjeturou - porque pensa, mãe. Vamos supor que duas horas custem 20 dólares. Faz a conta! Uma vaga de estacionamento lucra mais de sete mil dólares por mês, mãe!
- Hã?
- Sete mil dólares por uma vaguinha, mãe! Um lugarzinho de nada. Putis, claro! A nossa família devia fazer isso: vender nossos carros, pegar nossas economias, comprar 1 vaga em NY e alugar. Uma só! Deve ser o melhor investimento do mundo ter uma vaga em NY. O que se gasta de manutenção em uma vaga de estacionamento? Água para lavar o chão, sabão, vassoura e tinta pra pintar as linhas, ou seja, quase nada!
- Uma... vaga em NY, João?
- Um investimento de família, mãe. E depois a gente até podia se gabar de ter um imóvel aqui.

quinta-feira, 28 de janeiro de 2010

os sem-fome



Eu não tenho fome a noite. Muito raro. Mas existe um programa que todo mundo faz que é "jantar fora". Com amigos, com família, essas coisas. Os sem-fome como eu sofrem muito com essa atividade. Olhar um cardápio cheio de comidas quando você está sem fome é terrível. Você sabe que não vai aguentar comer o prato todo, e que vai deixar sobrar. Assim, os sem-fome, como eu, acabam pedindo sempre "saladinha". Sempre entendi que saladinha é a solução para os sem-fome, mas já não aguento mais comer saladinha. Primeiro que os restaurantes sempre erram e trazem a saladinha antes, e na hora que todo mundo janta você é obrigado a ouvir o barulho da mastigação alheia, com as mãos abanando sem garfo e faca. Depois que saladinha é fria e tem tempero ácido, e não é sempre que você, sem-fome e à noite, quer comer coisa fria com tempero ácido. Às vezes penso que até comeria um pedaço pequeno de carne, ou um pouco de macarrão, mas não muito, um pouco. Um mini risoto, mini filé a poivre, uns cinco capeletis seriam mil vezes melhor que a saladinha fria e azeda, mas não existe essa opção nos cardápios dos restaurantes. Na maioria dos lugares os pratos são sempre bem servidos. Dai vem o dilema: o que pega menos mal deixar sobrar? Carne nem pensar, imagina pedir um filé e largar mais da metade? Pecado. Peixe idem, é chato. O que pega menos mal deixar é macarrão, mas sempre vem o garçom depois perguntar se não gostei da comida, se estava ruim. É constrangedor. Além de dar raiva ter que pagar um prato inteiro e abandonar metade. Olha. Um cardápio de um restaurante deveria levar em conta os sem-fome e oferecer a opção do mini-menu. Ou petit-menu, no caso dos restaurantes franceses, por ai vai. E isso é sim o começo de um movimento que tou inventando. O movimento dos sem-fome à noite.

sexta-feira, 22 de janeiro de 2010

duro ou mole


Bem. Pra falar a verdade, não foi só a porta quebramos no tal do hotel Lackawanna de Scranton. Quando chegamos e nos instalamos, o João entrou correndo no meu quarto.
- Mãe! Tem uma coisa genial nesse hotel.
- Que é?
- Deita na cama, mãe. Vai, deita.
- Deitei, filho.
- Agora olha esse controlinho aqui.
Era um tipo de controle remoto ligado na cama. O menino apertou, eu fui afundando devagar na cama. Uóóómmmm. Fui parar lá em baixo, a cama ficou super... mole.
- Agora vou subir você. A cama vai endurecer, mãe.
Uóóómmmm. A cama endureceu mesmo, virou uma tábua e eu subi de novo. Ficamos nessa, eu deitada e ele subindo e descendo, eu no duro, eu no mole, o João me pilotando. Sobe, desce, sobe, desce, sobe, desce, desce, desce...
- Agora chega, João, tá mole demais, ei, pááára filho, tou descendo demais!
- Mãe, não sou eu, é controle sozinho, eu não estou amolecendo a cama!
- Filho, socorro, vou parar no chão! Ai!
- Ixi, mãe, acho que quebrou.
Sai do buraco, que realmente quase chegava no chão. A cama de casal tinha enlouquecido: um lado estava alto e durinho, e do outro lado tinha um abismo afundado. Juro. O Zé entrou e ficou bravo, já quebraram? Ligamos pra recepção, pedimos a manutenção. Veio uma equipe de consertadores de amaciador e endurecedor de colchão, dois brutamontes com equipamentos e até um tipo de tubo de gás. Desmontaram tudo, colocaram o colchão em pé, bate aqui, desmonta ali, assopra lá. Avisaram que ficou pronto. Era pra eu testar, o brutamonte disse. Deitei, envergonhada na frente dos caras. Apertei o botão e fui lá em cima, no duro. Falei pra ele que tava ótimo. E não mexi mais no diabo do controle. Cada invenção mais ridícula que existe por ai. E que medo que me deu daquela cama. Imagina despencar no meio da noite?

quinta-feira, 21 de janeiro de 2010

ai meu Deus...


Não posso ler coisa em carro, eu enjôo. Assim, memorizo o caminho do GPS com o carro parado e depois instruo. Além disso, confundo direita com esquerda, dizem que é dislexia. Péssima co-pilota, eu. Hahaha.

quarta-feira, 20 de janeiro de 2010

obras me perseguem...


Foi no hotel de Scranton, cidade que eu inventei de passar porque é a cidade do The Office, seriado que eu adoro. A cidade ficava no meio do caminho da volta para NY, a gente precisava dormir. O hotel era maluquésimo, uma antiga estação de trem, parecia um hotel de luxo de filme de fantasma da Transilvânia, apesar de ser na Pensilvânia. No dia de ir embora, tomamos café, arrumamos as malas e como tínhamos um tempinho, sugeri um passeio a pé pela cidade. Os meninos estavam num quarto, eu e o Zé no outro. Descemos, eu e o Zé, e nada dos três. Quando chegaram, a Nana reclamava que os irmãos eram muito bagunceiros e demorados, que eles não arrumavam nada direito, que enrolavam muito e sei lá o que. Essa coisa de briga de irmãos. O problema é que ela, enquanto esperava os dois, ficou no maior pléc, pléc, pléc, mexendo na porta do quarto sem parar. Brava com os irmãos. Eu não sei se foi esse o problema, mas quando voltamos pra pegar as malas, a porta do quarto dos meninos não abria de jeito nenhum. E as malas deles lá dentro. Falamos na portaria, eles deram pra gente outra chavinha de cartão. Tentamos, tentamos, nada. Veio o cara da manutenção, mexeu um monte e nada. Veio outro cara da manutenção, e depois mais outra. Começou uma reunião em frente a porta. Percebi que a fechadura quebrou, e que não tinha abrir a peça por fora, pois os parafusos eram por dentro. Ô coisa mais burra aquela fechadura. Dai o povo do hotel pediu desculpa, sumiu e em seguida chegou um bando de funcionários uniformizados com ferramentas, escada, marretas. Marretas! Avisaram que iam quebrar a parede. Levamos um susto. Puxa vida, vou em obra todo dia, teria que passar por uma outra obra no meio da viagem de férias? Tentei entender. Não era exagero quebrar a parede? Não, explicou o engenheiro. Eles abririam o forro, entrariam dentro, quebrariam a parede em cima da porta, quebrariam o forro de dentro do quarto e disseram que entrariam por ali. Putis estrago por nossa causa, que vergonha. Foi quando a Nana falou bem baixinho que talvez tivesse sido culpa dela. E contou a história do plec, plec, plec. "Não fiquei apertanto tanto assim, eu juro", ela se defendeu. "Eu disse que esse hotel era mal assombrado", comentei. Fazer o que? Esperar. Então, já que não tinha mais na pra fazer, coloquei a máquina na mesinha do meu quarto e filmei o que acontecia no corredor. A obra durou mais de uma hora, a gente lá esperando. No fim a porta abriu, ficou aquele monte de entulho no chão e nos mandamos rapidinho, rindo. Tá, é um filme super sem graça. Mas olha como é verdade.

terça-feira, 19 de janeiro de 2010

o dreno e a plantinha da marquise



Relutei porque não gosto de ar condicionado. Mas minha casa é muito quente, abafada, e os quartos mais ainda, pois recebem sol nas paredes a tarde toda. No inverno é uma delícia, no verão um inferno. O meu quarto é pior ainda, pois tem duas paredes que recebem sol. Assamos devagar toda noite, eu e o Zé. E no final do ano passado resolvemos que a gente ia colocar um ar condicionado. Fomos meio mal vistos. Ar condicionado não é bom, é super anti ecológico, gasta energia, dizem que faz mal pra saúde respirar ar que não circula naturalmente, um monte de bronca dos amigos com inveja. Me sugeriram pintar as paredes externas de tinta prateada ou usar outras soluções. Mas quando pensamos que poderíamos dormir a noite toda sem acordar ensopados, esquecemos tudo isso. Compramos o ar condicionado numa liquidação de um site. Recebemos o ar condicionado. Chamamos um cara pra instalar. Ligamos. E desde então, dormimos de edredon, a noite toda, parece um paraíso.
O que eu não esperava foi um detalhe engraçado. Ar condicionado tem sempre um dreno de água que quando o ar tá ligado, ele fica pingando. Ping, ping, ping. Quando fizemos a instalação, escondi o caninho numa marquisinha que tem na frente da casa, com o tubinho a pingar no jardinzinho mixuruco da frente. Bem, esse jardinzinho nunca deu muito certo, pois está embaixo da marquise, mas desde então está maravilhoso, estupendo, fenomenal. O ping-ping do dreno do ar fez o jardim reviver. Milagre. A coisa mais incrível do mundo. Comentei isso com uma amiga, ela me sugeriu fazer um enorme jardim de jabuticabeiras embaixo da marquisinha. Depois ficamos na dúvida se isso era ecologicamente correto ou não. Afinal, pensa. Ar condicionado não é correto pois aumenta o aquecimento global, mas ar condicionado pinga e algumas plantas adoram pingo. Então pingo de ar condicionado é bom pra planta. E como uma coisa pode ser antiecológica e fazer bem pra planta? Olha, nem vem que pra mim ar condicionado é um treco super ecológico. Vou juntar dinheiro e colocar na casa toda, e espalhar os drenos por todos jardins em volta. E vou morar numa verdadeira selva amazônica, vocês vão ver. Geladinha.

quarta-feira, 13 de janeiro de 2010

dó ré wii!



Foi inevitável. Os filhos, mesmo grandes, voltaram da nossa viagem com um monte de muamba, entre elas um videogame. Como são grandes, quase todos adultos, reclamei.
- Gente, que bobeira. Vocês ai, tudo grandão, com esse negócio de criancinha, pô.
- Mãe, deixa de ser boba. Wii é um videogame super de adulto. Tem esportes de adulto, ginástica de adulto, banda de adulto. Impossível não comprar o dos Beatles.
- E esse jogo do Mário ai? E essas direçõeszinhas de carrinho?
- Mãe, Mário Kart é um clássico dos videogames. É um jogo obrigatório.
Bem, chegamos, eles instalaram o negócio em pé (custava fazer um videogame deitado, como todos os aparelhos da estante?) e desde então a minha sala, que nunca foi arrumada, está parecendo uma... garage-band de adolescentes. Temos guitarra, microfones, instrumentos musicais e eu começei a... bem... cantar. Minha empolgação veio na segunda feira, quando melhorei da gripe e descobri que tenho uma voz maravilhosa. Hahaha. Juro. Tem um grafiquinho que aparece quando você canta e aparece a porcentagem dos teus acertos. A minha sempre dá 100%. Estou achando que sou a nova Marisa Monte, a Marisa Mother (dãr). Sugeri que a gente vire a nova Família Dó Ré Mi. Eles falam que não vale, porque eu canto no modo "easy", e que é por isso que acerto. Mas adorei o brinquedo e quase não deixo ninguém mais jogar. Afinal, nunca consegui ganhar patavina num videogame na vida. O máximo, esse iii. Tou louca pra chamar meus amigos pra gente ficar brincando.

segunda-feira, 11 de janeiro de 2010

a garrafinha


Agora chega de viagem, de post de viagem, de falar de frio e de passeio turístico. Voltei e obviamente fiquei doente, afinal aqui tá essa quentura e o meu descongelamento foi muito rápido. Depois de um sábado e um domingo de febre, bóra trabalhar. Nem sei mais o que é isso, essa coisa de viajar com a minha família me deixa com um problema de idade mental, meus filhos falam e fazem muuuita bobeira. Olha só. Descarreguei as fotos da viagem e fiquei intrigada com a foto acima. Uma porta? Que porta é essa? Demorei pra descobrir quem tirou a foto e porquê, até que reparei num detalhe: acima da porta, lá perto do teto, tem uma... garrafinha plástica colada na parede. Viram? Ahá. A gracinha foi essa: antes de deixarmos o hotel de Scranton, o João pegou a garrafinha de água vazia do quarto, descolou o rótulo, ela ficou com cola e ele pregou a garrafinha lá no alto, o mais alto que alcançou. Dai pegou a máquina e "clic". Registrou. Ixi. a garrafinha deve estar lá até agora.

sábado, 9 de janeiro de 2010

museus shoppings


O que me impressiona nos museus de hoje são as lojinhas. Ou melhor, os shoppings centers que existem dentro dos museus. Parece que apenas ver a exposição é pouco, as pessoas querem comprar o museu todo pra elas. É tentador. Você vê o quadro, mas pode comprar o poster, o cartão, o livro, o DVD, a camiseta, o postal, o porta lápis, a bolsa, a echarpe, o clips, a bolsa, a caneca, tudo que você puder imaginar do quadro que você gostou. As lojinhas, inclusive, são muito mais cheias que o museu, porque para cada obra de arte, tem diversas versões de cacarecos que gritam: olha, eu fui, olha, eu vi, olha, estive lá. E é tipo hipnose, quando você vê está saindo com a sacolinha dali. Que cafona que é a humanidade, pensando bem.

quarta-feira, 6 de janeiro de 2010

ora, pombas


Afe. O Zé realmente não bate bem. Fomos no Empire State Building pra mostrar pros meninos como era lá em cima, mas olha a foto da "vista" da cidade que ele me tira com o celular e me manda por e-mail. Hahaha. Éca.

terça-feira, 5 de janeiro de 2010

come again!


Foi numa lanchonete de beira de estrada, em algum lugar da Pensilvânia. Todo mundo tava morrendo de fome e tivemos que parar num desses lugares de fast food meio nojentos. Mas excesso de fome causa briga na nossa família, assim, resolvemos enfrentar e comer com as mãos um balde familiar de... (écccs) frango frito. Antes de sair, o João, que faz piada com tudo, olhou para a porta e brincou.
- Olha mãe o que tá escrito na porta! Hahaha!
- Juca, tá escrito "obrigado, volte sempre" em inglês.
- É, dãr, eu sei. Mas pra quem não sabe inglês pode ser outra coisa.
- Outra coisa?
- Pra um cara brasileiro, que não sabe inglês, pode parecer que tá escrito: "obrigada, e por favor, 'come' de novo".
- Thank you, and please "come" again?
- "Come" again, mãe. Hahaha.
- Juca. Eu não "come" again essa comida de novo nem morta, meu filho.
- Nem eu. Mas parece que eles imploram, fala a verdade, mami. Please, come again!

nhé


segunda-feira, 4 de janeiro de 2010

impressões sobre um grande museu

Museus, não sou lá muito fã de museu, mas fazer o quê. Museus pra mim são uns lugares onde você vai meio só pra dizer que foi e comentar com outros que foram as exposições que... esquece logo em seguida. Não é por mal. É apenas porque museu tem coisa demais, quadro demais, artista demais, tudo misturado demais. Lembro sempre de pouca coisa dos museus que já fui e resolvi assumir as bobeiras que penso. Vamos lá.
Por exemplo, percebi que talvez os romanos realmente não tenham tido nariz. Nas estátuas sempre eles estão sem (também estão sempre sem um braço, perna, cabeça e nunca tem pinto também), e a gente acha que foram as estátuas que se quebraram. Mas será que era isso mesmo? E se eles realmente não tivessem nariz?
Sempre que olho uma estátua romana, acho que as pessoas são parecidíssimas com as pessoas da minha família, embora todo mundo da minha família tenha nariz. Algumas pessoas, inclusive, tem uns imensos, que não param de crescer, segundo diz a lenda.

Essa não seria a primeira sandália havaiana da humanidade? Estava numa estátua de um Deus mitológico grego. Depois dizem que a marca é brasileira.


Minha mãe sempre me disse que o parente mais velho dos meus parentes italianos era um tal de Hugolino. Na história da minha família, o Hugolino era um patriarca famoso por nunca ter mudado de cama na vida - na cama que nasceu, ele morreu e acreditem: foi enterrado com ela! Olha... Achamos essa estátua desse outro (ou seria esse meu tataratatataravô?) Hugolino no museu. Olha a cara de desespero dele. Será que levaram a cama para onde?




Bebês assustadores. Super na moda nos quadros clássicos europeus. Jimais, hahaha. Olha a cara maldosa desse dai, que demais. Nossa, acho tenho mais medo dele do que da véia cacareco. Aliás, tirei mais de vinte fotos de bebês monstros do Metropolitan, tipo "colecionei", nunca vi tanta criança com cara de má (Deus me perdoe, mas as imagens são assustadoras), e bem, se alguém quiser compartilhar meu álbum me avise que mando por e-mail. Aliás, o que será pensa um bebê satânico como esse olhando pra mim? Nossa, que medo dessa viagem. Aliás-2, hoje fez mais de menos 11 graus. E eu achando que tava frio em Scranton.

domingo, 3 de janeiro de 2010

a véia cacareco



Alugamos um apartamento para ficar uns dias por aqui em NY, pois é mais barato que hotel. Mas chegamos um dia antes, e a corretora nos sugeriu que, nesse um-dia, ao invés de ficarmos num hotel, ficássemos na casa de uma senhora que morava no Upper East Side sozinha e que alugava dois quartos para turistas. Bem mais barato. Olha. É péssimo ficar na casa dos outros, mas como seria um dia só, aliás, uma noitinha só, topamos. E lá fomos nós de mala, filhos e cuia para a casa da mulher.
Gente, se arrependimento matasse. Percebemos a roubada na hora que tocamos a campainha e a porta se abriu. A mulher parecia uma bruxa, andava de camisola e era mega super hiper muito demais supremamente mal humorada. Não é que ela parecia uma bruxa. Ela era uma bruxa. Óbvio.
O apartamento era moderno, mas a decoração, entulhada, fazia o ambiente parecer um... castelo mal assombrado. Nenhum parede era branca, todas eram de cores de bruxarias, como roxo, lilás, verde musgo, cinza. Brrr. A quantidade de móveis e estantes com coisas estranhas em cima era inacreditável. Nos sofás, milhares de paninhos, toalhinhas, almofadas e porta almofadas, todas de veludo de roupa de feiticeira. Um tapete não bastava, ela colocava diversos, um sobre o outro, todos muito velhos e escuros. Nas janelas, quatro cortinas pesadonas, no mínino. Isso fora os armários com vidro com coisas assustadoras dentro. Bonequinhas, bichinhos, fotos estranhas. Olhem essa boneca de terror que ficava no meu quarto, e que passou a noite toda olhando pra mim. Meu Deus. Na sala, caixas e caixas de contas e missangas, além de um estranho carrossel de bichos e doze abajures de vitral, que não iluminavam nada. E os livros de magia negra e assassinatos? Um monte. Tv? Nem pensar. Silêncio e o barulho do vento do trigésimo andar, uuúuuuú. Além disso, a mulher não falava, não fazia barulho ao andar (acho que ela voava feito fantasma), não fazia questão nenhuma de ser simpática conosco e só dava ordens: trancar a porta assim-assado, tirar os sapatos na porta e passar álcool gel nas mãos. Ela passava o dia trancada num misterioso quarto no fundo do corredor. Os meninos, claro, passaram a tirar sarro da situação esdrúxula para um dia de... férias. E daquela casa cheia de tralhas e cacarecos. E inventaram na hora um apelido para a mulher de penhoar, cabelo desgrenhado e pele ruim: "a véia cacareco". Era véia cacareco pra cá, véia cacareco pra lá. Um tipo de vingança, claro. E olha, eles repetem tanto uma piada, mas tanto, que eu e o Zé óbviamente esquecemos o nome da mulher e passamos a chamá-la de... véia cacareco também. Putis. Meio na frente dela, afinal, julgamos que ela não falava português. Rindo, resolvemos que íamos deixar um cacareco para ela. Achei um chaveiro cafoninha na minha bolsa e pendurei num canto do quarto. Hehehe, vai ficar aqui um cacareco, falei, brincando. Mas no dia seguinte os meninos vieram contar que acharam uns produtos no banheiro com rótulos em português.
- E dai, gente? - perguntei.
- Mãe! Olha! Tá escrito aqui "amtisséptico bucal"! Uma pessoa que sabe o que é um antisséptico bucal óbvio que sabe falar português. E nós falamos mal dela e rimos dela super alto aqui no antro dos cacarecos! Ela vai fazer magia negra com a gente!
Olha, pelo sim pelo não, na hora de ir embora o Zé me fez voltar e verificar mil vezes em todos os cantinhos pra ver se não tínhamos esquecido nada. Concordei com ele. Imagina se ela usa uma roupa nossa pra fazer magia negra? Céus. Melhor não facilitar com bruxas.