quinta-feira, 18 de setembro de 2008

a base


Foi assim. Um dia, a troco de nada, reparei que minha pele do rosto tinha um monte de manchas. Sério, umas manchas. Não eram pintas, eram manchas, como se fossem ilhas submersas vistas de cima no Google Earth. Clarinhas, irritantes, coisa de gente velha total. E a cada vez que eu me olhava no espelho, meu rosto parecia mais manchado, as malditas surgindo. Sabe quando você encana com uma coisa. Ó, céus.
Dermatologista, pensei. Marquei, fui, mostrei pra doutora. "Iii, isso é tranquilo de tirar", ela me acalmou. Marcamos o dia, voltei e ela fez uma verdadeira caça às cracas. Tirou tudo - além das manchas, todas as pintinhas e as verruguinhas que encontrou. Mas foi só no meio do procedimento (porque as pessoas chamam essas coisas de "procedimentos"?) que lembrei de perguntar:
- Doutora, vai ficar marca?
- Até secar vai, Lúcia.
- Quanto... tempo?
- Dez dias, uma semana.
Ó não. Eu não esperava por isso.
- Hummm... e que tipo de marca?
- Umas casquinhas - ela explicou - que depois saem. Mas fica tranquila, dá pra disfarçar com base, a gente coloca aqui pra você ver quando acabar. A base tem filtro solar 5000, pois você não pode tomar sol por um tempo.
Base? Olha gente, eu confesso que nunca usei base. Sempre achei esquisito passar aquela massa corrida na cara como se eu fosse uma parede. Aliás, já cansei de falar que não sei me maquiar até hoje.
Depois do procedimento, a mocinha ajudante da médica veio e me masseou. Como o rosto ardia um pouco, achei aquilo até aliviante. Um tipo de proteção. No espelho dela ficou legal. Desencanei. Mas veio o pior no dia seguinte. Acordei como uma dálmata, toda pintada de casquinhas. Como não tomo sol há tempos e tenho cabelo escorrido, me senti uma dálmata Mortícia Adams. Mortícia Dalmadams. "Ah, a base!", lembrei. Abri o tubinho e começei a passar. Em uma das bochechas, na outra. Na testa, no queixo, no nariz, nos cantos do lado, no pescoço. Gente, onde pára? Interrompi e olhei no espelho. Ixi. Não sumiu lá muita coisa, e resolvi aplicar mais para diminuir o contraste. Bochecha, queixo, nariz, em volta dos olhos, pescoço. Olhei de novo. A cor do meu lábio me pareceu mais clara que o rosto, assim resolvi passar um batom. Desci para a cozinha.
- Mariaaaa. Pega seus óculos e me olha.
- Olha o que.
- O que acha do meu rosto?
- Vixe, o que você fez, lúcia?
- Base, Maria. Passei base pra esconder as casquinhas das manchas que eu tirei. Está estranho?
- Nossa se está. A sua cor, né...? Olha... - ela arrumou os óculos e me olhou bem de perto - ... as casquinhas quase não dá pra ver, mas você parece aquelas amigas da sua avó.
- Ai Maria. Tou com cara de revestida?
- Ué. Tá com cara de quem pôs base. A sua cor, lúcia.
Fazer o que. Franka, dez dias laranja.

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