terça-feira, 5 de agosto de 2008

diretamente do rio


Tem uma coisa que o mundo de hoje inventou que juro que não entendo. Eu ando muito de carro, tem muito trânsito em São Paulo, e já passei quase uma hora e meia pra chegar na Paulista ou na Vila Nova Conceição. Não comi no carro. Já viajei de ônibus, e não comi por muito mais de duas horas. Já viajei de trem e não comi por muito mais de três horas. Já viajei de barco e não comi nada por muito mais de quatro horas. Mas basta a gente entrar na ponte aérea, que dura menos que cinquenta minutos, que alguém acha que preciso comer.
São Paulo - Rio. No caso de embarques fora do rushi, tudo corre rapidinho. Nem precisa esperar o avião sentado, se você inventar de tomar café ali do lado (o café demora...). Você se senta na poltrona do avião, afivela o cinto, vrummm, decola rezando o Pai-Nosso, ufa que alívio que o avião não caiu nem bateu no prédio da avenida, você fala com o engenheiro que foi viajar com você, pega a palavra cruzada da revistinha da TAM, abre a mesinha pra escrever e ouve a voz da moça: "... sanduíche de pão integral com salaminho, tomate seco, queijo branco e orégano... suco de laranja, refrigerantes e chá verde...".
Putis. Lá vem o carrinho atravancador do corredor, a moça sorrindo e te dando o pacotinho com a embalagem moderna, e lá tou eu abrindo pra achar o sanduíche borrachudo que vou comer com um suco cheio de gelo. Gerúndios, porque não? No meio meio que arrependo. Tou comendo esse salaminho porquê mesmo? Ora, o moço(a) tão gentil, tantos acessórios juntos (guardanapinho, copinho, menuzinho), não custa dar uma mordidinha. Não tenho fome, é cedo, nem almoço nem jantar, mas me deram, fazer o que? Quando estou no meio do borrachão sem gosto, ouço uma voz. "Senhores passageiros, aqui é o comandante e vamos pousar no Rio. A temperatura é de 22 graus e...". Não dá tempo, simplesmente não dá tempo de comer se você tá, como eu, na poltrona 23 e acabou de receber o treco. Devolvo rapidamente o resto do sanduíche todo amarfanhado, o suco pelo meio e a papelada suja. Paciência. Chego no Rio, onze e meia da manhã, e lembro que tenho aquele pedaço de sanduíche dentro de mim. Pra que mesmo? Na volta a mesma coisa: sempre a correria as aeromoças (será que aeromoça de ponte aérea é algo além de garçonete de fast food?) para conseguir, naquele tempo exíguo, alimentar aquele monte de gente que não pode se mexer (ir pra onde com o carrinho no corredor?).
Gente, porque é que a gente precisa comer naqueles quarenta minutos na TAM? Na volta a mesma coisa: já comi sanduíches de chester com queijo camembert, frutinhas com frios e até sopa de beterraba, tomate e pimentão. É, a noite eles servem sopa e numa turbulência aquilo deve ser hilário. Imaginem o fedor do ambiente. E acho que foi pensando nisso que uma dessas vezes da sopa, pensei em levá-la pra casa pra comer depois, numa hora apropriada. Olha, a tal sopa, se for sorvida quentinha e na frente da TV, deve ser legal. Mas como levar aquilo se a sopa da TAM não tem... tampa? Ela não é como o sanduíche, que vem fechado.
- Puxa. Não queria comer agora, queria levar essa sopa, Luiz.
- Porque aceitou?
Olhei para frente e vi o saquinho vermelho no guarda jornais, aquele bolso de trás da cadeira da frente.
- Acho que vou levar aqui - disse animada, mostrando o saquinho de vômito para o engenheiro.
- Tá louca, Lúcia?
- Loucos são eles, que me dão essa sopa a troco de nada. Nem queria.
- Hã? Mas você vai sair com esse... saquinho cheio de sopa? Na mão?
- Tem fecho! - eu mostro a ele, abrindo e fechando - Quero comer depois, em casa, não pode?
- Da próxima vez vai de Gol que eles não te entopem de comida, Lúcia. Só uma barrinha de cereal.
- Pra quê uma barra de cereal?
Hahaha. A humanidade não pensa muito não.

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