terça-feira, 14 de agosto de 2007

boinc, boinc, boinc, chuááá...



No começo todo mundo foi terminantemente contra. "Como assim, Lú?", perguntou o Zé, pasmo. "Você está dizendo que quer acabar com o nosso gramado do jardim de trás para fazer uma quadra pra o João jogar basquete? Tá louca?". "É exatamente isso", decidi, usando minha autoridade de mãe e certeza que era o melhor a fazer.
"Mãe, cê tá brincando... Vai estragar a nossa casa, destruir o gramadinho?", disse a Nana. "Ninguém usa o gramadinho de trás pra nada a não ser para olhar, Nana. Além disso, tem o gramadinho da frente. Vocês vão lá na frente e ficam olhando, se fazem tanta questão de olhar grama", argumentei. Já o Chico resolveu ir por outra vertente, afinal está fazendo 'direitonauspí'. "Toda casa tem que ter um mínimo de área de permeabilidade de solo, mãe". Não foi fácil. "É só um pedacinho de nada", defendi, "vai sobrar jardim em volta para a água escorrer e permear pra burro". O João me olhava aflito, olhos brilhando, calado. Putis medo de defender de ser escorraçado pelos irmãos mais velhos, com receio de acreditar e depois se decepcionar. Fizemos uma planta escondido com o nosso projeto, eu e ele, uns dias antes. "Sério, mãe, que nós vamos fazer isso? Não tou acreditando, que demais...".
Bati o pé defendendo o menino e a minha idéia. Ia ficar feio? Sem grama? Sem per-me-a-bi-li-da-de? Não importava. Pra que serve a casa que a gente mora? Não é para usar? Alguém por exemplo reclama da gente fazer quartos para dormir? Salas para ver tevê? Garagens para deixar carro parado? Não me pareceu nada ilógico fazer a quadrinha do Juca lá no fundo. Minha casa é velha mas grande, caberia muito bem. E João adora basquete, treina cinco horas todos os dias. Quando está em casa, ficava batendo bola num cantinho ridículo, espremido entre a sala e o muro do vizinho, encestando numa cesta imaginária, pulando no nada, do lado daquele jardim inútil. Um absurdo. Tentei colocar uma cesta na tal parede diversas vezes, mas como a casa é antiga e a massa idem, todas caiam em cima da cabeça dele. Uma época ele resolver bater bola no espaço onde fica a cachorra, driblando os cocôs. O mesmo que treinar num banheiro, pobrezinho.
Então dei uma de Beth Carvalho. Aproveita hoje porque a vida é uma só. O Zé foi fácil de convencer, afinal é pai. À revelia dos demais chamei os pedreiros para fazer o cimentado. Cimentei. Compramos o poste. Chumbamos. Uma tela no fundo pra bola não ir pro baldio. Deixei um pouco de grama em volta para a tal da 'permeabilidade'. Faz uma semana que ele chega e corre lá pro fundo. Super feliz. Traz amigos. Eu ouço feliz aquilo durante horas. Boinc, boinc, boinc, chuááá. Boinc, boinc, boinc, chuááá. Boinc, boinc, boinc, chuááá. Todos já jogamos bola lá. Esse final de semana estamos pensando em chamar amigos nossos e fazer um campeonato. Até quem sabe fazer um encontro de blogueiros na quadra. Boinc, boinc, boinc, chuááá. Aproveita hoje que a vida é uma só. Chuááá.

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