quinta-feira, 21 de junho de 2007

franka só dá foras


- E ai, Chico, já teve aula de tribunal?
Ele entrou na faculdade de Direito e desde então eu, como uma boa mãe, pergunto sempre: “Como está a faculdade? Tá gostando? Como são as aulas? Os professores? Os amigos?”. Ele pouco responde, o que me faz sentir uma chata de galocha. Fico frustradíssima, mas sabe como é mãe. A gente precisa de material para se exibir com os parentes, com os amigos. Foi por isso que resolvi fazer uma pergunta mais direta.
- Hã, mãe?
Ele me olhou como se eu fosse louca.
- Aula do que, mãe?
- Ué, não tem aula de tribunal na faculdade de direto?
- Mãe, de onde você tirou essa idéia?
- Não tem?
Ele respirou fundo fechando os olhos e balançando a cabeça. Aquele gesto chatérrimo de "... não acredito...".
- O que seria, na sua cabeça, mãe, essa tal... “aula de tribunal”?
Óbvio que estava tirando sarro de mim. Ele adora fazer isso. Fiquei um pouco sem graça.
- Eu pensei que... bem, eles não ensinam como as coisas funcionam num tribunal? Onde cada um senta, onde fica o juiz, onde senta o condenado, por onde o júri entra, como você faz para falar com o juiz? Sei lá, filho, como se aprende o protocolo, a etiqueta, sei lá? Não tem uma aula específica pra isso?
Ele arregalou o olho.
- Aula de etiqueta de tribunal? Aula prática, mãe? Você está achando que eles levam todos os alunos num tribunal e ficam explicando?
- Ué, não fazem isso?
- Mãe!
Nossa, eu devo ser muito ridícula e minha pergunta muito imbecil, pensei.
- Hahaha. Você acha que vamos em bando num tribunal, o professor lá na frente, mandando a gente repetir com ele: "gente, atenção, uhú, o cara da frente é sempre o juiz, à direita ficam os promotores, não esqueçam, pro-mo-to-res, nas cadeiras, ali, o júri, repitam comigo, ju-ri!..."
Ele ria sem parar.
- Só falta o professor ensinar uma formulinha para não esquecer nunca, sabe aquelas formulinhas que a gente decora para passar no vestibular? Ou uma musiquinha, mãe, isso, melhor mu-si-qui-nha! A musiquinha da aula do tribunal, vamulá!
E ele começou a cantar uma melodia infantil, daquelas da novelinha “Carrossel”, rindo sem parar.
- “À di-rei-ta os pro-mo-to-res, na sua fren-te o juiz... "
- Pô Chico, pára de fazer isso, eu só queria...
- “À es-quer-da a de-fe-sa... e o condenado todo fe-liz!”
- Pára, menino!
- Mãe, dá licença, "aula de tribunal" não dá, olha as coisas que você me pergunta, mãe! Só falta você me perguntar se eu tenho aula de moda jurídica, com apresentação dos novos modelos de togas e becas e considerações sobre os babados. Dá licença, mãe. Direito é coisa séria.
Ahã.
Dá licença, franka.

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