Hoje, no meu aniversário, bem na hora do café eu dou de cara com uma publicação de uma crônica minha na Revista Especial da Folha - Morar.
Uau. Olha que presentão que eu ganhei. Acho que é o fim do inferno astral, enfim.
fiti & rometicher
"Não é fácil. Para morar num apartamento hoje em dia ou você é pouco bilíngüe ou fica totalmente boiando nos ambientes. Explico. Todos os novos lançamentos imobiliários têm atualmente uma quantidade sem fim de lugares com títulos estrangeiros e completamente esdrúxulos.
Acho que tudo começou com os nomes dos prédios. Se anos atrás os edifícios de São Paulo tinham singelos nomes de mulheres, índios ou flores, de uns tempos para cá começaram a surgir um monte de ‘piazzas’, ‘places’ ou ‘villaggios’. Óbvio que esses nomes não vieram sozinhos. Os prédios passaram a receber roupagens diferentes, de acordo com o local eleito como referência. Arquitetura? Não, nunca. Apenas maquiagem.
Mas não bastava vender somente o nome do prédio e a roupa-fachada. O mercado imobiliário inventou outros produtos, e aí que surgiram os ambientes com nomes estrangeiros. A coisa cresceu e hoje qualquer lançamento imobiliário tem que ter, obrigatoriamente, locais como gourmet places, spas, lobbys, home offices, family roons, fitness, home theaters, closets, solariuns, lan houses e barbecue places. Tenho dúvidas se esses espaços realmente vieram da arquitetura americana ou européia – ora, churrasqueiras, salas de ginástica, sala de tv e rouparias sempre existiram nos prédios e condomínios.
Infelizmente essa é a realidade: nomes americanos, italianos ou franceses agregam valor aos espaços. Isso vende imóveis, projetos de decoração, mobiliário, produtos. Existe um mercado enorme por detrás desses ambientes, eu mesma já presenciei reuniões de decoradores com clientes e percebo que esse marketing, além de vender, define a sua vida: na sua casa nova você acredita que vai fazer coisas nunca tinha imaginado. Vai malhar muito numa sala de fitness, vai fazer churrascos sem parar, vai ver filmes ‘cult’ num super home theater, vai ter um jardim de inverno e ter como hobbie a jardinagem, e, enfim, vai ter uma ‘family room’ para conviver com os seus familiares, escuta, como você nunca pensou nisso antes?
Quem sofre com isso são os operários das obras, que precisam rapidamente se adequar a essa nova linguagem para trabalhar. Já fui chamada para resolver problemas em romitichers, espás, longes, solares e closis. Muitas vezes só descobri onde era o problema depois de chegar ao local. E de longe o campeão de nomes errados é, sem dúvida alguma, o famoso home theater. Rometicher, rontich, ramitichi, hamitisi, tichicher, ramtixi, roamtiter, romsiter, olha, não há quem não faça a sua própria adaptação abrasileirada do nome, e, às vezes os piores são os próprios proprietários, que insistem em pronunciar a palavra emboladamente, com boca de subwooffer. Tenho um eletricista, o Ceará, que de tanto pronunciar palavras em inglês nas obras, um dia encontrou um técnico de som americano e conversou um tempão com ele.
- O que você tanto falou com o americano, ô Ceará?
- Ah, estava explicando onde vou colocar os espiquers no rome e no fites – ele respondeu, exibido – e descobri que eu já falo inglês, sabia?
Depois dos apartamentos prontos, o problema lingüístico de multi-tradução-simultânea-arquitetônica continua para os zeladores e funcionários. Outro dia, numa portaria aguardando a entrada, presenciei o seguinte diálogo entre um porteiro e um segurança:
- Onde está o zelador, o seu Severino? – perguntou o segurança.
- Está lá naquela tal de cozinha do lado do ‘fiti’, sabe onde é?
Bom, se eu fosse ele eu também não me arriscaria a pronunciar “gourmet place”...
Acho que tudo começou com os nomes dos prédios. Se anos atrás os edifícios de São Paulo tinham singelos nomes de mulheres, índios ou flores, de uns tempos para cá começaram a surgir um monte de ‘piazzas’, ‘places’ ou ‘villaggios’. Óbvio que esses nomes não vieram sozinhos. Os prédios passaram a receber roupagens diferentes, de acordo com o local eleito como referência. Arquitetura? Não, nunca. Apenas maquiagem.
Mas não bastava vender somente o nome do prédio e a roupa-fachada. O mercado imobiliário inventou outros produtos, e aí que surgiram os ambientes com nomes estrangeiros. A coisa cresceu e hoje qualquer lançamento imobiliário tem que ter, obrigatoriamente, locais como gourmet places, spas, lobbys, home offices, family roons, fitness, home theaters, closets, solariuns, lan houses e barbecue places. Tenho dúvidas se esses espaços realmente vieram da arquitetura americana ou européia – ora, churrasqueiras, salas de ginástica, sala de tv e rouparias sempre existiram nos prédios e condomínios.
Infelizmente essa é a realidade: nomes americanos, italianos ou franceses agregam valor aos espaços. Isso vende imóveis, projetos de decoração, mobiliário, produtos. Existe um mercado enorme por detrás desses ambientes, eu mesma já presenciei reuniões de decoradores com clientes e percebo que esse marketing, além de vender, define a sua vida: na sua casa nova você acredita que vai fazer coisas nunca tinha imaginado. Vai malhar muito numa sala de fitness, vai fazer churrascos sem parar, vai ver filmes ‘cult’ num super home theater, vai ter um jardim de inverno e ter como hobbie a jardinagem, e, enfim, vai ter uma ‘family room’ para conviver com os seus familiares, escuta, como você nunca pensou nisso antes?
Quem sofre com isso são os operários das obras, que precisam rapidamente se adequar a essa nova linguagem para trabalhar. Já fui chamada para resolver problemas em romitichers, espás, longes, solares e closis. Muitas vezes só descobri onde era o problema depois de chegar ao local. E de longe o campeão de nomes errados é, sem dúvida alguma, o famoso home theater. Rometicher, rontich, ramitichi, hamitisi, tichicher, ramtixi, roamtiter, romsiter, olha, não há quem não faça a sua própria adaptação abrasileirada do nome, e, às vezes os piores são os próprios proprietários, que insistem em pronunciar a palavra emboladamente, com boca de subwooffer. Tenho um eletricista, o Ceará, que de tanto pronunciar palavras em inglês nas obras, um dia encontrou um técnico de som americano e conversou um tempão com ele.
- O que você tanto falou com o americano, ô Ceará?
- Ah, estava explicando onde vou colocar os espiquers no rome e no fites – ele respondeu, exibido – e descobri que eu já falo inglês, sabia?
Depois dos apartamentos prontos, o problema lingüístico de multi-tradução-simultânea-arquitetônica continua para os zeladores e funcionários. Outro dia, numa portaria aguardando a entrada, presenciei o seguinte diálogo entre um porteiro e um segurança:
- Onde está o zelador, o seu Severino? – perguntou o segurança.
- Está lá naquela tal de cozinha do lado do ‘fiti’, sabe onde é?
Bom, se eu fosse ele eu também não me arriscaria a pronunciar “gourmet place”...
lúcia carvalho é arquiteta e autora do blog frankamente... http://frankamente.blogspot.com
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