quarta-feira, 15 de março de 2006

O email real e o email virtual



- Oi Lúcia.
Era uma engenheira de uma obra que eu coordeno.
- Você sumiu – ela disse – Que houve?
- Eu sumi?
- Eu te mandei um monte de e-mails e todos ficaram sem resposta.
- Não. Como assim? Eu respondi a todos seus e-mails.
- Não, não respondeu. Nenhum.
- Respondi, tenho certeza!
- Não respondeu, Lúcia, eu não estou maluca.
Cheguei em casa e fui checar no Outlook. Nada. Será que sonhei? Estranho.
Eu realmente não tinha respondido nada, mas tinha certeza absoluta que havia escrito.
Absoluta!
Acho que foi em sonho, claro. Essa coisa, que parece caduquice, tem uma certa explicação. É que a cada dia passamos mais e mais tempo aqui olhando essa tela iluminada. O mundo que descobrimos aqui dentro é, às vezes, tão grande como o de fora. Eu, por exemplo, que tenho blog, acabei também arrumando amigos, conhecidos, gente de todos os lugares que vem aqui nessa minha casa para bater papo. E se a pessoa não quer falar junto com todo mundo, tem o email, tem o Messenger, tem o Skype. Micro virou um tipo de casa. Sala de visitas, sala de estar, sala de espera.
Mas tem acontecido coisas estranhas. Primeiro que tenho falado com um monte de gente ao mesmo tempo, como se estivesse na maior reunião – e não estou, estou sozinha. Abro o Skype e falo com dois, três pessoas, fica aquele vozerio aqui dentro. Depois passo a falar com outros por Messenger, e respondo emails ao mesmo tempo. Acho que quando desligo, não desligo, fico presa na virtualidade. Tem acontecido de estar no carro e lembrar de um e-mail, lembrar de um messenger, de um telefonema.
Tive uma amiga que, depois de velha e mãe, passou a jogar esses jogos medievais on line e quase pirou.
- O mais estranho é quando saio dali e entro na minha casa, com a mesa do jantar, com meus filhos, meu marido, Ao invés de achar aquilo normal - ela me disse, morrendo de rir - Eu olho e penso: ué. Onde estão os soldados? O castelo? Onde estão minhas armas? Esquisito mesmo...
Voltando aos emails da engenheira, eu sei o que houve. Devo ter pensado no email no carro ou em alguma reunião, devo ter escrito o email na minha mente, reescrito e pimba.
Enviado.
- Olha, eu te respondi sim- eu disse a ela no dia seguinte - mas o problema é que que não foi um email real, foi um email virtual. Entendeu?
Hã?

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