segunda-feira, 13 de fevereiro de 2006

a velha do e-mail




- Sério que vocês me acham velha? – perguntei aos meninos na hora do jantar - Vejam, eu tenho computador, fico conectada o dia todo, tenho Messenger, skype, iPod, iTunes, caramba a quatro, tenho até um blog...
- O pior é que é, mãe - decretou o João, suspirando.
- Velha? Mas uma velha teria tudo isso?
- Não é isso, mãe. Por mais que você faça, não é a mesma coisa – falou o Chico, sem a menor paciência.
- Olha, Chico, vocês me desprezam, mas saiba que pouca gente da minha idade faz tudo que eu faço. Eu, volta e meia, tenho até que dar aulas para meus amigos. Ontem mesmo eu passei um e-mail para uma amiga explicando como editar as fotos e...
Ele me interrompeu, apontando o dedo.
- Taí, mãe. Exatamente aí. Ahá!
- Aí o que?
- Aí que você é muito velha. No e-mail, mãe!
- Que é tem o e-mail, menino?
- Ora mãe. E-mail é coisa de velho. Eu não passo e-mail há séculos.
- Hã? Não?
- Nunca. Nem abro a caixa, só tem lixo. Se eu quero falar com alguém, é no messenger. Dá licença, email... – ele emendou com ar superior e o consentimento dos irmãos.
- Perai, filho.
- Quê.
- E se a pessoa não está on line?
- Mando um torpedo, ué. Pelo telefone. Dãrrr.
- E... e pra mandar arquivo?
- Tudo pelo messenger.
- Bom, e... nunca vocês usam e-mails?
- Quase nunca, mãe. Só numa urgência.
Pois vejam só.
Confesso que fiquei completamente sem ação depois dessa revelação. Fui pega de surpresa. Mas, se pensarmos bem, esse fato é verdadeiro. Por incrível que pareça, com os conversadores instantâneos e com a facilidade de enviar mensagens por telefone, o e-mail está realmente em desuso. Para a geração dos meus filhos, passar e-mails é antiquado, obsoleto, arcaico. Eles têm e-mail apenas para cadastros e para comprar coisas, e enviar um e-mail é, para eles, o mesmo que colocar uma carta no correio para nós. Uma coisa absurda, fora de propósito, usada apenas em momentos extremos. Como quando temos que mandar documentos assinados e usamos o sedex.
E-mail demora, eles dizem.
Lembro-me de colocar cartas no correio e de como elas demoravam para chegar. Nesse meio tempo, esperávamos. Hoje as informações não precisam de tempo nenhum para chegar. É tudo pá, pum. Talvez isso nos torne mais impacientes e aflitos. Não incorporamos mais a espera no nosso cotidiano, e esse constante imediatismo, embora nos torne mais eficientes, nos dá a falsa sensação de invencibilidade. Olha, acho perigosa essa impressão competência constante. O mundo erra. Falha. Comete gafes. Atrasa-se. E nós nos apavoramos muito mais com isso do que antes. Eu, por exemplo, entro em pânicos depressivos terríveis com coisas banais como a falta de energia. E isso eu, que sou a velha do correio que uso e-mails. Imagine os adolescentes.
Duvido nada que, daqui a pouco, na sociedade pós e-mail, a ansiedade dos usuários crie cursos ou spas de paciência, para repormos nossa cota de espera.
“Aprenda a esperar com calma”, “resgate a sua capacidade de ter paciência”, “respire fundo e conte até três antes de entrar em pânico”.
Não duvidem.
Mas fazer o quê? Tem coisas que são maiores que nós, os velhos e as velhas dos e-mails.
E enquanto isso, deixa eu checar minha arcaica caixa de entrada...

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