domingo, 24 de julho de 2005

ãããrrr...



Ainda sobre as implicâncias, lembrei de outra. Essa implicância aparece todo inverno e é terrível.
É implicância do resfriado dos outros.
Vou explicar como funciona.
Você liga para alguém e a pessoa está resfriada. Resfriadona, daquele jeito. Até ai tudo bem, todo mundo tem o direito de ficar resfriado no inverso, mas tem gente que parece que quer demonstrar para você e para o mundo todo que está assim muito, mas muito resfriada. A pessoa faz aquela voz fãnha de gripe, fica repetindo um “ãããr” entre cada palavra que fala, fica ofegante e toda hora pede um minutinho para assoar o nariz, tossir e espirrar.
Quer saber?
Coisa mais irritante.
O Paulo, meu ex-sócio, compartilha dessa minha implicância. Quando trabalhávamos juntos, ele e eu não agüentávamos ver pessoas fazendo cena de resfriado. Olha. Dá para ficar resfriado, falar normalmente, devagar e não ficar fanha. A gente um dia tentou.
E conseguiu.
Ontem recebi um e-mail do Paulo sobre isso, implicadíssimo com uma mulher. Ele conta que ligou para a loja de material de construção onde ela trabalha para fazer um pedido.
- Alou.
- Ãlôuãrrr.
- Por favor, a dona Geni.
- Sõu êu.
- Dona Geni, é o Paulo. Tudo bom?
Lá veio a mulher. Ela estava resfriada.
_ Oi Bãulo. Êu êstôu com ûba grîpe incrîîîvel, ãrrr, já tôôôbei divééérsos analgééésicos, antitééérbicos, antialééérgicos êêê nãããda. Vãlã, Bãulo, pôôôde vãlãr ãrrr.
Ele conta que teve tanta raiva da mulher que quase desligou. Será que ela não podia fazer um pouquinho de esforço para disfarçar aquilo?
Eu sei que é errado ter raiva de gente doente. Mas essas pessoas ficam doentes e parece que se vangloriam de estar doente. Exageram e fazem teatro pra piorar, como se estar doente desse um... certo status. A dona Geni, ele me afirmou, era o exemplo típico da pessoa que estava fazendo de propósito, provavelmente porque queria ouvir todas as pessoas falando dela.
- Nossa, a dona Geni está péssima. Gripada demais, coitada.
Bom, eu mesma já fiz isso diversas vezes, até perceber como isso é irritante para as pessoas que tem implicância de resfriado. Acho que esse exagero tem um pouco a ver com desculpa. A gente, no fundo, adora ficar resfriada porque trabalha menos, pode ficar em casa, pode delegar as tarefas domésticas pro marido, pode virar um pouco “coitadinha.” Mas nem sempre um resfriado é assim tããão forte, tem uns até que bem mixurucos. E para o resfriadinho virar um resfriadão e ter a credibilidade necessária para você ser paparicado, é preciso um certo teatro. Isso inclui a caixa de lenços, os olhos com olheiras, o descabelamento e principalmente a voz anasalada que encomprida as vogais.
Ãããrrr.
Então dona Geni, que saco, pára com isso.
Maldade a minha, não é? Mas implicâncias são assim, vão além do bem e do mal.
Saúde a todos.
Em busca da amiga perdida II: aviso a todos que até o presente momento eu ainda não consegui contato com a Liliana. Deixei recados e mandei emails, ambos sem retorno. Onde estará Liliana?

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