quarta-feira, 13 de julho de 2005

os gatos e a porta


Tocou o telefone. Era o marido da minha prima.
- Lúcia?
Ele queria o telefone de uma faxineira.
- Que faxineira?
- A da tua tia. Da minha sogra. Você conhece ela, não? Sabe o telefone?
- Como assim?
A história era engraçada. Ele, a mulher e os filhos vieram para São Paulo para ficar na casa da mãe dela, que estava viajando. Na hora de sair, sabemos como é aquela confusão. Marido, mulher, filho pequenos, brinquedos, mala, sacola, lanchinho, travesseiro, cobertos, e pimba, esqueceram de deixar a chave do apartamento com o zelador , conforme orientação da mãe, minha tia. E levaram a chave embora com eles.
O problema não era a chave, eram os gatos. Dois gatos, a paixão da minha tia.
- E agora eles estão presos lá dentro, os gatos. Sem comida, sem água, sem chave. E nós estamos aqui na fazenda, no Paraná. Longe pra burro. Achamos que a faxineira deve ter uma outra chave da casa, afinal ela sempre vai lá para limpar.
- Puxa. Eu não tenho o telefone dessa faxineira – expliquei, depois de procurar em todas as agendas - E agora?
O tempo foi passando. Quem tinha o telefone da faxineira? Foi um tal de mobilizar a família toda para resolver o problema da alimentação dos gatos. Eu, minha mãe, os filhos, até a Maria.
- Estou quase indo lá – ela me disse, compadecida – Coitados. Devem estar miando até não poder mais.
- Maria, tem cabimento? E você vai fazer o quê, cantar para eles pelo buraco da fechadura?
Minha prima, lá longe, começou a ter pesadelos. Imagine a mãe chegar e encontrar os gatos mortos de fome. Uma tragédia. Colocou até um comentário aqui no blog, o que me deixou profundamente comovida. Imagine, o frankamente servir de serviço de apoio aos animais abandonados.
“... você viu a confusão que eu arrumei com as chaves da casa da minha mãe e os gatos? Não entendi que deveria deixar as chaves para que os gatos fosse alimentados. Fui embora e levei as chaves da casa da minha mãe. Ontem à noite o porteiro ligou aqui pro Paraná desesperado porque estava sem as chaves e não podia entrar para dar de comer aos gatos. Eu entrei em pânico, imaginando os bichinhos em depressão pela falta de comida (com a água eles se viram, tomam a água das plantinhas), morrendo de fome, tendo ataque cardíaco pela falta da comida (a vida deles é comer!). Mandei as chaves pelo Sedex 10 e amanhã lá pelas 10 da manhã eles finalmente poderão ser alimentados. Espero que eles não morram até lá!..”
Bom, pensei, dois dias sem comida não matam ninguém. Se as chaves chegariam no dia seguinte, ou seja, hoje, o problema estaria resolvido.
Mas mesmo assim, fiquei pensando como alimentar os pobres bichinhos sem a chave. Pensei que minha prima poderia pedir ao zelador que esmigalhasse pão e comida de gato e assoprasse por debaixo da porta. Como a questão estava on line, o Pecus deu uma idéia genial: colocar fatias de presunto sobre uma folha de sulfite e passar por debaixo da porta.
Explicou que a idéia não era dele, e sim do Seinfeld, aquele do seriado. Tanto faz de quem seja, o que importa é que é coisa de gênio essa idéia. Imagine, podemos passar queijo prato, peito de peru, carpaccio, pão sírio, alface, salame, tomate, rúcula. Fatias de frutas. Chocolatinho de menta. Chichetes. Bobeou dá para passar até um bife, se você não fizer questão de um medalhão. Olha. A quantidade de comida que pode ser passada por debaixo de uma porta é imensa.
Isso me sossegou. Ufa. Afinal, o que aconteceu com os gatos pode acontecer a qualquer um, até com um humano. Mas com essa idéia ninguém morre de fome se ficar trancado sem uma chave. Basta uma folha de papel e muita imaginação.
Bom, até o momento ainda não tive nenhuma notícia da libertação dos felinos, afinal, ainda não são 10 horas. Mas assim que receber, sério, avisarei a todos.



(ilustração: zérramos)

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