quarta-feira, 15 de junho de 2005

no colinho




Falando de teatro, lembrei de outra história engraçada. Tenho uma amiga que é atriz e trabalha com o José Celso.
- Uma pena a L. trabalhar bem com esse cara. A gente nunca vai poder vê-la... – disse o Zé.
- Porquê?
- Assistir o José Celso? Eu? Nem a pau. Se ela trabalhasse com outro diretor, menos “interativo”, vá lá. Mas com esse José Celso Martinez Correa, nem pensar.
Explico. Para quem não sabe, o José Celso é um diretor de teatro excelente, mas completamente maluco. Geralmente ele pega alguém da platéia pra Cristo, coloca no meio da peça e faz isso, aquilo e outras coisitas mais...
Aquele negócio de teatro interativo.
Hummm.
Eu entendo o cara. Ele é apaixonado por teatro, e, como todo cara apaixonado, é completamente cego. Tem certeza que os espectadores estão também apaixonados pela trama e loucos de vontade de mergulhar na encenação. Pela cabeça dele não passa a idéia que a pessoa escolhida possa ter vergonha. Imagina só.
Engraçado esse cara.
Bom, mas existe muita gente que topa ir lá na frente e participar. Acho que (de novo) o mundo se divide em duas partes: os que participam e os que preferem virar um reles tapete de banheiro molhado a fazer qualquer coisa em público.
Bom, o Zé é um desses. Ele abomina a idéia de ser escolhido sem querer. Para ele seria um pesadelo monstruoso.
Além disso ele tem certeza – é uma certeza intuitiva, mas até que consistente – que eles escolhem justamente aqueles espectadores com cara de pânico. Sabe aquele que mais se esconde? O que disfarça, com cara de medo?
- Eu tenho cara de quem vai ser escolhido. Se eu for assistir o José Celso eles vão me colocar pelado no palco, tenho certeza ab-so-lu-ta. Não vou de jeito nenhum. Lembra o que aconteceu com o Caetano Veloso?
- Zé, nós ganhamos o convite... – insisti.
- Não vou. E o que aconteceu com o marido da tua irmã? Hein?
É verdade. O meu cunhado foi assistir as Bacantes, e um dos atores, no embalo e seminu, sentou no colo dele. Bom, meu cunhado não gosta dessas coisas. Ele contou que pediu pra o cara sair dali. O cara não saiu. Ele pediu de novo, não achando graça nenhuma naquilo. Nada. Todo mundo ria dele, inclusive o ator pelado no colo dele. Uma hora ele se irritou, deu um belíssimo bofete na cara do ator, levantou-se e foi embora, batendo os pés no chão e puxando minha irmã pela mão. Foi vaiado, um horror. Minha irmã não gosta nem de lembrar.
- Ô Zé, não acontece duas vezes na mesma família – argumentei.
- Acontece em todos os espetáculos. Todo dia tem um peladão lá na frente. Não vou.
Depois que eu insisti muito, mas muito mesmo, ele topou. Mas com algumas condições. O teatro oficina tem 3 andares, é um teatro comprido que se parece com uma rua. Ele me disse que só iria se sentássemos no terceiro andar, na última fileira e pendurados no cantinho mais escuro e mais escondido do teatro.
Feito dois ratos invisíveis.
Pois foi assim mesmo. Assistimos à peça de lá de cima, de longíssimo. Foi a melhor encenação de crânios da minha vida. Parecia um jogo de pebolim.
- Gostou? – ele me perguntou no final.
- Não vi nada – reclamei - absolutamente nada.
- Viu o suficiente. O importante, veja... – e ele mostrou o corpo, vitorioso – ... é que eu não tive que carregar ninguém no colo e saí de roupa. Você deve dar graças a Deus, lú. De roupa. Há! Vitória!

Nenhum comentário: